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UE põe fim a sanções contra Cuba
Bloco europeu anuncia abertura de "diálogo incondicional" e afirma pretender encorajar abertura na ilha
Retaliações diplomáticas foram impostas em 2003; Espanha liderou defesa de negociações e enfrentou resistência de parceiros
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
A União Européia anunciou
ontem o fim das sanções diplomáticas a Cuba, num gesto destinado a encorajar o dirigente
Raúl Castro a acelerar a abertura política do país. A decisão,
que encontrou resistência dentro do bloco, prevê a abertura
de um diálogo político incondicional com o regime cubano,
cujos resultados serão revistos
dentro de um ano.
"Os ministros de Assuntos
Exteriores dos 27 países [da
UE] decidiram por unanimidade levantar definitivamente as
medidas de 2003 e iniciar uma
etapa de diálogo incondicional", disse o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos,
no primeiro dia da cúpula do
Conselho Europeu.
Assim como fez em 2003, na
imposição do castigo em resposta à prisão de 75 dissidentes
pelo regime cubano, e em 2005,
quando as sanções foram suspensas, a Espanha tomou a
frente do tema. O país era o
maior defensor do fim das sanções -que, ao contrário do embargo americano, não incluíam
boicote econômico, apenas restrições a viagens de autoridades européias a Cuba.
As sanções já estavam suspensas há três anos, mas a decisão anunciada ontem tem um
importante valor simbólico,
apenas quatro meses após a saída de Fidel Castro do poder.
"Vemos sinais animadores em
Cuba", disse a comissária européia de Relações Exteriores,
Benita Ferrero-Waldner.
"Queremos mostrar à população de Cuba que estamos prontos a trabalhar com eles."
Discussão árdua
Alcançar a unanimidade não
foi tarefa simples. A dificuldade
em falar com uma só voz em assuntos de política externa é um
dos pontos fracos da UE, que o
Tratado de Lisboa pretende
corrigir. O caso de Cuba é mais
um em que a diversidade de 27
visões de mundo tornou árdua
a missão dos diplomatas.
De um lado estavam países
como a Espanha, que acreditam que o fim das sanções pode
servir de incentivo para a abertura do regime cubano; de outro, os que o temiam um "apaziguamento" de uma ditadura.
Antes do anúncio, o chanceler sueco, Carl Bildt, ressaltou a
importância de que a UE não
parecesse leniente com a repressão cubana. "Faremos exigências bem duras", disse.
A declaração negociada ontem pede a libertação de todos
os prisioneiros políticos, a ratificação das convenções de direitos humanos da ONU e o
acesso de ativistas humanitários a prisões da ilha.
O regime cubano exigia que
as sanções fossem eliminadas
antes de aceitar as ofertas de
diálogo da UE. No documento
aprovado ontem, os europeus
defendem um diálogo incondicional, que inclua cooperação
não só política mas econômica,
científica e cultural. O bloco reconhece "as mudanças contínuas de liberalização" empreendidas por Raúl Castro.
Por iniciativa da República
Tcheca, um dos países mais resistentes ao fim das sanções, foi
introduzido no texto um compromisso de que o diálogo com
o governo cubano seja acompanhado de conversas com a oposição. Comentando a reação
negativa dos EUA ontem, o
chanceler espanhol rebateu:
""Pedimos respeito à política da
UE, que tem autonomia e legitimidade suficientes para agir
em uma região importante como é a América Latina".
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