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Líder do Irã ameaça lançar repressão total
Aiatolá Ali Khamenei diz que vitória de Mahmoud Ahmadinejad é "definitiva" e insta oposicionistas a porem fim a protestos
Milícias pró-governo vão às
ruas com armas de fogo e
uniformes; reformista
derrotado Mousavi mantém
planos de marcha hoje
Behrouz Mehri/France Presse
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Em discurso nas orações de ontem, o aiatolá alertou os manifestantes a ficarem fora das ruas no Irã
DA REDAÇÃO
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, defendeu ontem a legitimidade da reeleição
do presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad e
exigiu o fim dos protestos oposicionistas, lançando duras
ameaças contra quem insistir
em contestar o pleito.
Em seu primeiro pronunciamento desde o início das manifestações pós-eleitorais que paralisam o país e já deixaram ao
menos dez mortos, Khamenei
se valeu da posição de máxima
autoridade iraniana para decretar a "vitória definitiva" do
presidente Ahmadinejad.
O principal alvo da fala do
aiatolá era o candidato derrotado Mir Hossein Mousavi, o ex-premiê reformista por trás do
movimento que exige a anulação do pleito por supostas fraudes em favor do presidente.
"Os líderes que têm influência sobre o povo deveriam ficar
atentos. Se agirem de maneira
extremista, chegarão a um ponto sem volta, e serão responsáveis por derramamento de sangue e caos", alertou Khamenei.
"A manifestação nas ruas é
um erro (...), faremos o necessário para que isso acabe", afirmou o aiatolá em discurso de
1h40 proferido diante de dezenas de milhares de simpatizantes na Universidade de Teerã.
Horas depois, integrantes da
milícia voluntária basiji, comandada pelo líder supremo,
foram às ruas uniformizados e
com armas de fogo pela primeira vez desde o início da crise.
Até então, os milicianos, responsabilizados pelos ataques a
manifestantes antigoverno, estavam vestidos à paisana e armados apenas com cassetes.
As advertências explícitas de
Khamenei geram dúvidas
quanto à real capacidade de
Mousavi seguir adiante com os
protestos. Até a conclusão desta edição, o reformista mantinha a convocação para uma
megapasseata hoje em Teerã.
Segundo analistas, Mousavi
está numa encruzilhada: render-se às pressões para apaziguar os ânimos ou manter a
confrontação a um governo notoriamente capaz de uma repressão sangrenta.
No discurso, Khamanei rejeitou acusações de fraude e insistiu em que "o povo votou em
quem queria". "Os mecanismos
legais do Irã não permitem erros", alegou o aiatolá.
Na prática, ele deixou claro
que o encontro de hoje entre os
três candidatos derrotados na
eleição e os juristas da máxima
instância constitucional iraniana não mudará os rumos da votação do último dia 12.
Além de Mousavi, o também
reformista Mehdi Karubi e o
conservador Mohsen Rezai
apresentarão suas queixas sobre o pleito ao Conselho dos
Guardiães, que admitira fazer
uma recontagem parcial em algumas regiões.
Segundo resultados oficiais,
Ahmadinejad foi reeleito com
62,7% dos votos, margem que
dispensou um segundo turno.
Mousavi não aceita os 33% de
votos que lhe são atribuídos.
Segundo Khamenei, a vitória
de Ahmadinejad refletiu a
"confiança do povo" no sistema
de governo, misto de teocracia
e democracia, instaurado na
Revolução Islâmica de 1979.
Mesmo teoricamente alheio
a disputas partidárias, Khamenei sinalizara na campanha a
preferência por Ahmadinejad.
Ontem o líder supremo admitiu que sua visão é mais sintonizada com a do atual presidente. Mesmo assim, Khamenei o criticou por ter, durante a
campanha, acusado de corrupção o influente ex-presidente
Ali Akbar Rafsanjani (1989-97),
muito elogiado no discurso.
O aceno do líder supremo é
visto como uma tentativa de
amenizar o racha interno que
mina a cúpula do regime iraniano, da qual Rafsanjani faz parte,
apesar de ter se aproximado de
Mousavi. Ao elogiar o ex-presidente, o aiatolá busca revitalizar os vínculos com ele.
Com agências internacionais
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