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Índios liberam rodovias ocupadas no Peru
Desbloqueio se segue à revogação de leis sobre a selva; líder indígena pede diálogo, mas promete protestos "se governo errar"
Desgastado, premiê Yehude Simón oferece renúncia, como prometera; chanceler diz que ONU descartou ter havido genocídio em Bágua
DA REDAÇÃO
Após o Congresso peruano
ter derrubado dois decretos
que facilitavam a exploração da
Amazônia, os indígenas do país
desbloquearam ontem o acesso
às rodovias que haviam ocupado cerca de dois meses atrás.
Os decretos derrubados, elaborados pelo presidente conservador Alan García, eram criticados pelos movimentos indígenas e desencadearam, além
dos bloqueios nas estradas, violentos protestos com ao menos
34 mortes -24 policiais e dez
civis- no norte do país no dia 5.
Os índios alegavam que, ao
facilitar a exploração florestal,
o governo colocava os territórios dos nativos a perigo e descumpria convenção da OIT
(Organização Internacional do
Trabalho), que prevê consultas
prévias às populações nativas.
O governo então recuou e pediu a revogação das leis.
"Vamos esquecer o passado.
Agora, indígenas e autoridades
do governo devemos começar a
a resolver, em uma mesa de diálogo, os problemas da Amazônia", disse ontem Daysi Zapata,
presidente da Aidesep (Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana),
que agrupa 60 etnias indígenas.
E ameaçou: "Se o governo voltar a cometer erros, os povos
indígenas se rebelarão novamente". Zapata pediu, após o
desbloqueio das vias, o fim do
toque de recolher decretado
em Bágua Grande, cenário dos
enfrentamentos. Também pediu que o governo retire as acusações contra o líder indígena
Alberto Pizango, atualmente
refugiado na Nicarágua.
Agora, o governo deve criar
uma nova lei florestal, para evitar que o vazio legal deixado pelas revogações coloquem o país
"em descumprimento" com o
Tratado de Livre Comércio
com os EUA, defendeu Mercedes Aráoz, ministra de Comércio Exterior.
Ainda ontem, o presidente do
Conselho de Ministros (equivalente a premiê), Yehude Simón, entregou sua carta de renúncia a Alan García. Até o fechamento desta edição, não se
sabia se o presidente aceitara.
Desgastado pela crise com os
indígenas, Simón já havia prometido abandonar seu cargo, o
que pode acarretar a renúncia
de todo o gabinete ministerial.
Investigações
Nas investigações sobre os
enfrentamentos em Bágua, o
relator especial da ONU, James
Anaya, descartou que tenha havido genocídio nos conflitos
entre policiais e índios, segundo informou ontem o chanceler
José Antonio García Belaúnde.
Com agências internacionais
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