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PRESERVAÇÃO
Entidades querem que fabricante diga se o perfume é feito com óleo do pau-rosa, árvore da Amazônia em extinção
ONGs preparam boicote ao Chanel nš 5
MARTA AVANCINI
de Paris
O risco de extinção do pau-rosa,
árvore nativa da Amazônia, está
levando uma ONG francesa a preparar um boicote contra o perfume Chanel nš 5.
Símbolo de sofisticação e conhecido como o perfume mais vendido no mundo, o Chanel nš 5 é
apontado como causa do processo
de desaparecimento do pau-rosa.
Este e outros perfumes de primeira
linha levariam em sua composição
o óleo que é extraído da árvore e
que atua como fixador da fragrância por ser rico em linalol.
A árvore, que leva o nome científico de Aniba rosodora, teve sua
exploração regulamentada pelo
Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) em 1990 por
risco de extinção.
O World Conservation Monitoring Centre, entidade inglesa que
controla os níveis de devastação
do meio ambiente, considera que
o pau-rosa está "em risco".
50 árvores por dia
Nem o Ibama nem o centro inglês sabem dimensionar, no entanto, o quanto resta de pau-rosa
na Floresta Amazônica. Pesquisa
realizada o museu Emilio Goeldi,
em Belém (PA), avalia em 50 o número de árvores derrubadas por
dia.
"Queremos que a empresa nos
responda se usa ou não o óleo na
composição do perfume. Se a resposta não vier, vamos iniciar uma
campanha contra o perfume pouco antes do Natal, provavelmente
no final de setembro", afirmou à
Folha Charlotte Nithart, ativista
da Robin des Bois, ONG (organização não-governamental) que
pretende promover o boicote.
A campanha contra a Chanel deve ser viabilizada por uma rede de
ONGs em todo o mundo. Segundo
Charlotte, pelo menos 30 entidades já confirmaram a adesão ao
protesto. Há pelo menos outras 50
ONGs que estão sendo contatadas.
O principal argumento da entidade é a existência de um produto
artificial que substitui o óleo de
pau-rosa, o linalol sintético.
"Não é preciso continuar a derrubar o pau-rosa se existe um similar industrial, criado na década
de 60 e que tem as mesmas propriedades do produto natural",
afirma Charlotte.
Jacky Bonnemains, presidente
da Robin des Bois, afirma que o
boicote contra o Chanel nš 5 será
uma maneira de chamar a atenção
para um problema maior. "Outros perfumes também usam o
óleo de pau-rosa, mas como o Nš 5
é o mais famoso, ele será uma espécie de bandeira."
Informação secreta
Desde novembro de 95, a ONG e
a empresa vêm trocando correspondências, sem que seja esclarecido se, afinal, o óleo de pau-rosa
faz ou não parte da fórmula do
perfume Chanel nš 5.
Em carta de 23 de fevereiro do
ano passado à Robin des Bois a
empresa diz: "Nossas fórmulas
constituem a base de nossos negócios, e não temos o hábito de fornecer informações sobre seus
componentes".
Esta posição foi sustentada por
Véronique Savoure, chefe do setor
de comunicação da Chanel, em
entrevista à Folha. "Somos uma
empresa privada. Nossas fórmulas
são confidenciais", disse.
Para a Robin des Bois, a atitude
da Chanel pode ser entendida como confirmação indireta de que a
empresa usa o óleo do pau-rosa.
"Senão, eles dariam uma resposta
objetiva. Mas ainda estamos tentando negociar", disse a ativista
Bonnemains.
Apesar da existência do linalol
sintético, o óleo natural do
pau-rosa continua a ser usado pela
indústria de perfumes, segundo
Milton Hélio Lima, 36, doutorando em botânica no museu Emilio
Goeldi. "O produto sintético não é
tão aceito quanto o natural porque
o buquê é diferente. Usar o produto sintético é como mudar a fórmula do perfume, por isso a devastação continua."
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