São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997.



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PRESERVAÇÃO
Entidades querem que fabricante diga se o perfume é feito com óleo do pau-rosa, árvore da Amazônia em extinção
ONGs preparam boicote ao Chanel nš 5

MARTA AVANCINI
de Paris

O risco de extinção do pau-rosa, árvore nativa da Amazônia, está levando uma ONG francesa a preparar um boicote contra o perfume Chanel nš 5.
Símbolo de sofisticação e conhecido como o perfume mais vendido no mundo, o Chanel nš 5 é apontado como causa do processo de desaparecimento do pau-rosa. Este e outros perfumes de primeira linha levariam em sua composição o óleo que é extraído da árvore e que atua como fixador da fragrância por ser rico em linalol.
A árvore, que leva o nome científico de Aniba rosodora, teve sua exploração regulamentada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em 1990 por risco de extinção.
O World Conservation Monitoring Centre, entidade inglesa que controla os níveis de devastação do meio ambiente, considera que o pau-rosa está "em risco".
50 árvores por dia
Nem o Ibama nem o centro inglês sabem dimensionar, no entanto, o quanto resta de pau-rosa na Floresta Amazônica. Pesquisa realizada o museu Emilio Goeldi, em Belém (PA), avalia em 50 o número de árvores derrubadas por dia.
"Queremos que a empresa nos responda se usa ou não o óleo na composição do perfume. Se a resposta não vier, vamos iniciar uma campanha contra o perfume pouco antes do Natal, provavelmente no final de setembro", afirmou à Folha Charlotte Nithart, ativista da Robin des Bois, ONG (organização não-governamental) que pretende promover o boicote.
A campanha contra a Chanel deve ser viabilizada por uma rede de ONGs em todo o mundo. Segundo Charlotte, pelo menos 30 entidades já confirmaram a adesão ao protesto. Há pelo menos outras 50 ONGs que estão sendo contatadas.
O principal argumento da entidade é a existência de um produto artificial que substitui o óleo de pau-rosa, o linalol sintético.
"Não é preciso continuar a derrubar o pau-rosa se existe um similar industrial, criado na década de 60 e que tem as mesmas propriedades do produto natural", afirma Charlotte.
Jacky Bonnemains, presidente da Robin des Bois, afirma que o boicote contra o Chanel nš 5 será uma maneira de chamar a atenção para um problema maior. "Outros perfumes também usam o óleo de pau-rosa, mas como o Nš 5 é o mais famoso, ele será uma espécie de bandeira."
Informação secreta
Desde novembro de 95, a ONG e a empresa vêm trocando correspondências, sem que seja esclarecido se, afinal, o óleo de pau-rosa faz ou não parte da fórmula do perfume Chanel nš 5.
Em carta de 23 de fevereiro do ano passado à Robin des Bois a empresa diz: "Nossas fórmulas constituem a base de nossos negócios, e não temos o hábito de fornecer informações sobre seus componentes".
Esta posição foi sustentada por Véronique Savoure, chefe do setor de comunicação da Chanel, em entrevista à Folha. "Somos uma empresa privada. Nossas fórmulas são confidenciais", disse.
Para a Robin des Bois, a atitude da Chanel pode ser entendida como confirmação indireta de que a empresa usa o óleo do pau-rosa. "Senão, eles dariam uma resposta objetiva. Mas ainda estamos tentando negociar", disse a ativista Bonnemains.
Apesar da existência do linalol sintético, o óleo natural do pau-rosa continua a ser usado pela indústria de perfumes, segundo Milton Hélio Lima, 36, doutorando em botânica no museu Emilio Goeldi. "O produto sintético não é tão aceito quanto o natural porque o buquê é diferente. Usar o produto sintético é como mudar a fórmula do perfume, por isso a devastação continua."



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