São Paulo, quinta-feira, 20 de agosto de 2009

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ANÁLISE

Relevância afegã vai de Bin Laden à gasolina

DO ENVIADO A CABUL

Dois motivos básicos movem o interesse do mundo no Afeganistão. Um deles é comezinho, outro de maior envergadura.
Primeiro, às miudezas. Basta pensar que hoje ninguém consegue entrar em um voo internacional com um alicate de unhas ou mais de 100 ml de qualquer líquido.
Isso é uma herança da ascensão do Taleban e da Al Qaeda, que são coisas diferentes, mas em 2001 estavam unidos no Afeganistão -e até hoje estão ligados nesta terra.
A Al Qaeda só existe porque um dia o Ocidente apoiou uma guerra de muçulmanos contra a União Soviética, que havia invadido o Afeganistão.
E o Taleban só existe porque o Paquistão ajudou a fomentá-lo, visando criar um regime aliado no vácuo do poder deixado pela guerra civil posterior à saída dos soviéticos.
Sem o Taleban, Osama bin Laden teria dificuldade em fazer o 11 de Setembro. Assim, não só o voo internacional, mas toda a economia do Ocidente foi afetada de forma profunda.
Para piorar, a guerra deu oportunidade para Washington inventar uma segunda frente, no Iraque, que levou a anos de preço alto da gasolina que você coloca em seu carro.
Pensando de forma mais ampla, boa parte do futuro energético do mundo passa pela estabilização ou não desta porção do sul asiático. O Ocidente, que apoiou tacitamente o Taleban em seu início, desejava um Afeganistão seguro.
Por quê? A Ásia Central, aqui do lado, é um grande poço de gás e também petróleo. Hoje, ele é todo dominado pelos russos, antigos donos do pedaço, que firmaram contratos com as autocracias locais.
Assim, Moscou é quem define o preço do gás que a Europa consome e lhe dá o peso estratégico que as grandes empresas americanas não desejam.
Europeus e americanos tentam várias maneiras de driblar essa situação -o apoio à Geórgia até a guerra de 2008 com os russos passava por isso, já que um gasoduto alternativo proposto corria por seu território.
Logicamente, não é tudo só economia. Americanos, britânicos e várias outras nações aqui presentes querem se livrar do atoleiro em que estão, apresentando a seu público "resultados" como uma eleição aparentemente legítima.
O problema é o Ocidente sair daqui rapidamente, repetindo o erro ocorrido quando a União Soviética foi derrotada e os americanos caíram fora.
O Afeganistão virou, juntamente com todo o cinturão tribal paquistanês, um nascedouro para extremismos como o que levou ao medievalismo do Taleban contra seus cidadãos em cinco anos de governo. E os problemas -como o 11 de Setembro provou- ultrapassam facilmente as fronteiras criadas pelos britânicos no século 19.
(IGOR GIELOW)


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