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ANÁLISE
Relevância afegã vai de Bin Laden à gasolina
DO ENVIADO A CABUL
Dois motivos básicos movem
o interesse do mundo no Afeganistão. Um deles é comezinho,
outro de maior envergadura.
Primeiro, às miudezas. Basta
pensar que hoje ninguém consegue entrar em um voo internacional com um alicate de
unhas ou mais de 100 ml de
qualquer líquido.
Isso é uma herança da ascensão do Taleban e da Al Qaeda,
que são coisas diferentes, mas
em 2001 estavam unidos no
Afeganistão -e até hoje estão
ligados nesta terra.
A Al Qaeda só existe porque
um dia o Ocidente apoiou uma
guerra de muçulmanos contra
a União Soviética, que havia invadido o Afeganistão.
E o Taleban só existe porque
o Paquistão ajudou a fomentá-lo, visando criar um regime
aliado no vácuo do poder deixado pela guerra civil posterior à
saída dos soviéticos.
Sem o Taleban, Osama bin
Laden teria dificuldade em fazer o 11 de Setembro. Assim,
não só o voo internacional, mas
toda a economia do Ocidente
foi afetada de forma profunda.
Para piorar, a guerra deu
oportunidade para Washington inventar uma segunda
frente, no Iraque, que levou a
anos de preço alto da gasolina
que você coloca em seu carro.
Pensando de forma mais ampla, boa parte do futuro energético do mundo passa pela estabilização ou não desta porção
do sul asiático. O Ocidente, que
apoiou tacitamente o Taleban
em seu início, desejava um Afeganistão seguro.
Por quê? A Ásia Central, aqui
do lado, é um grande poço de
gás e também petróleo. Hoje,
ele é todo dominado pelos russos, antigos donos do pedaço,
que firmaram contratos com as
autocracias locais.
Assim, Moscou é quem define o preço do gás que a Europa
consome e lhe dá o peso estratégico que as grandes empresas
americanas não desejam.
Europeus e americanos tentam várias maneiras de driblar
essa situação -o apoio à Geórgia até a guerra de 2008 com os
russos passava por isso, já que
um gasoduto alternativo proposto corria por seu território.
Logicamente, não é tudo só
economia. Americanos, britânicos e várias outras nações
aqui presentes querem se livrar
do atoleiro em que estão, apresentando a seu público "resultados" como uma eleição aparentemente legítima.
O problema é o Ocidente sair
daqui rapidamente, repetindo
o erro ocorrido quando a União
Soviética foi derrotada e os
americanos caíram fora.
O Afeganistão virou, juntamente com todo o cinturão tribal paquistanês, um nascedouro para extremismos como o
que levou ao medievalismo do
Taleban contra seus cidadãos
em cinco anos de governo. E os
problemas -como o 11 de Setembro provou- ultrapassam
facilmente as fronteiras criadas
pelos britânicos no século 19.
(IGOR GIELOW)
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