São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2011

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ONG cria país fictício em que pobreza é total

América Latina tem "dívida pendente", diz Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Existe um lugar que é o oposto da Pasárgada imaginada pelo poeta Manuel Bandeira. Chama-se Precária e lá, ao contrário do local da poesia, não há quase nada.
É um país de 180 milhões de pessoas que vivem sem luz, água, comida e moradia. O segundo maior da América Latina, depois do Brasil.
Essa nação não existe no papel -mas atraiu a atenção da ONG chilena Um Teto para meu País (www.umtetoparameupais.org.br), que lançou campanha neste ano falando do Estado ao mesmo tempo imaginário e real.
Precária é a metáfora das mazelas da América Latina. Entre seus embaixadores, estão a escritora Isabel Allende e Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, que falou à Folha sobre a situação crítica de milhões na região.
Para Bachelet, pouco se fala de Precária porque é "um lugar de que não gostamos, que nos provoca culpa". Afinal, aponta, os países da região não conseguiram derrotar a desigualdade social apesar dos avanços econômicos.
"Esses países vêm enfrentando a crise econômica internacional de melhor maneira do que as grandes economias europeias", diz, "mas, enquanto persistir essa desigualdade, Precária seguirá existindo entre nós".
A ex-presidente acredita que é possível mudar a situação "tornando visível uma realidade que está aqui, na próxima esquina". Ela ressalta, também, a importância de governos, Parlamentos e municípios se comprometerem a resolver o que chama de uma "dívida pendente".
Precária concentra os dados humanitários das populações carentes do continente. Assim, no país, 45% da população teriam menos de 18 anos e viveriam em casas com piso de terra, por exemplo.
A entidade acredita que o Brasil tem o dever de servir de exemplo à região. "É um país que não precisa ser pobre", afirma o advogado Ricardo Montero, 28, diretor social da ONG no Brasil. "É um país injusto, e não pobre."
A meta da Um Teto para meu País é construir mil casas no Brasil até o final do ano. Em toda a América Latina, eles já mobilizaram 400 mil voluntários para erguer cerca de 80 mil moradias.
A organização, fundada em 1997, constrói cem moradias de emergência neste final de semana em São Paulo, com 1.100 voluntários.
"É um mito que o jovem brasileiro não quer ajudar os outros", diz Montero. Foram, afinal, 4.000 inscritos para a ação deste final de semana.
"Eles estão disputando para pagar inscrição e passar um fim de semana dormindo no chão, construindo casas."


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