|
Próximo Texto | Índice
Israel declara faixa de Gaza inimiga para deter ataques
Medida deverá incluir sanções como corte no fornecimento de eletricidade
Decisão é "declaração de guerra", afirma Hamas, que controla Gaza há três meses; ato viola lei internacional, diz secretário-geral da ONU
Mohammed Salem/Reuters
|
|
Palestina caminha em rua de Gaza ao lado de monte de areia; prevendo invasão israelense, civis começam a fazer barricadas
DA REDAÇÃO
Numa resposta ao disparo
quase diário de foguetes contra
o seu território, o governo de
Israel declarou ontem a faixa
de Gaza "entidade inimiga". A
medida abre caminho para a
aplicação de uma série de sanções -de cortes no fornecimento de energia à restrição ao
movimento de pessoas e mercadorias-, que ameaçam aprofundar ainda mais a asfixia econômica do território palestino.
A decisão foi criticada pela
ONU, pelo Hamas e até pelo
presidente palestino, Mahmoud Abbas, aliado de Israel.
Ela foi aprovada pelo gabinete
de segurança de Israel horas
antes da chegada da secretária
de Estado americana, Condoleezza Rice, enviada para negociar com israelenses e palestinos detalhes da conferência de
paz que a Casa Branca planeja
promover em novembro.
Hostil para os EUA
"Não é segredo que o Hamas
é uma organização terrorista",
disse a ministra das Relações
Exteriores de Israel, Tzipi Livni, após o encontro com Rice,
citando uma posição endossada pelos EUA e pela União Européia. Livni acrescentou que
Israel continuará honrando
seus compromissos humanitários. "Todas as necessidades
que não sejam humanitárias
não serão supridas por Israel."
Ao lado de Livni, Rice disse
que o Hamas "também é uma
entidade hostil para os EUA".
Entre as possíveis conseqüências da decisão israelense
estão cortes no fornecimento
de eletricidade e combustíveis,
além de restrições ao trânsito
de pessoas entre Gaza e Israel e
a transferências de dinheiro.
Não foi marcada data para que
as sanções entrem em vigor.
O governo israelense estava
sob intensa pressão do público
e da oposição para que adotasse
medidas de retaliação aos disparos de foguetes de radicais islâmicos contra seu território,
principalmente depois que um
desses ataques feriu 69 soldados, há dez dias. O Hamas, que
tomou o controle de Gaza em
junho, não esteve diretamente
envolvido nos ataques, mas
também não reprimiu os radicais que os praticam.
O grupo islâmico considerou
a medida israelense uma "declaração de guerra". "Eles querem deixar nosso povo faminto
e forçá-lo a baixar a cabeça
diante das fórmulas humilhantes que poderão emergir da
chamada conferência de paz de
novembro", disse o porta-voz
do Hamas Fawzi Barhoum.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, aliado de Israel e
dos EUA e líder do grupo Fatah,
que foi expulso de Gaza pelo
Hamas há três meses, criticou a
decisão israelense, que "aumenta o sofrimento e aprofunda a tragédia" dos palestinos.
Os acessos à faixa de Gaza estão praticamente fechados por
Israel desde que o controle passou a ser totalmente exercido
pelo Hamas, que não reconhece o direito de existência do Estado judeu. Mas, ao declarar o
território "entidade inimiga",
Israel poderá argumentar que
não tem a obrigação, sob o direito internacional, de suprir as
necessidades da população de
Gaza, de 1,5 milhão de pessoas.
Não é a opinião do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que pediu a Israel que
reconsiderasse sua decisão
pouco após a aprovação pelo
gabinete. Para Ban, o corte no
fornecimento de serviços vitais
representará uma violação da
lei internacional e causará ainda mais sofrimento à já castigada população civil de Gaza.
Num de seus mais duros pronunciamentos contra Israel
desde que assumiu o posto, no
primeiro dia deste ano, Ban disse que a medida aprovada ontem contraria as obrigações humanitárias que Israel tem com
a população palestina.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Isolamento do território sufoca comércio e piora desemprego Índice
|