São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2007

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Israel declara faixa de Gaza inimiga para deter ataques

Medida deverá incluir sanções como corte no fornecimento de eletricidade

Decisão é "declaração de guerra", afirma Hamas, que controla Gaza há três meses; ato viola lei internacional, diz secretário-geral da ONU

Mohammed Salem/Reuters
Palestina caminha em rua de Gaza ao lado de monte de areia; prevendo invasão israelense, civis começam a fazer barricadas

DA REDAÇÃO

Numa resposta ao disparo quase diário de foguetes contra o seu território, o governo de Israel declarou ontem a faixa de Gaza "entidade inimiga". A medida abre caminho para a aplicação de uma série de sanções -de cortes no fornecimento de energia à restrição ao movimento de pessoas e mercadorias-, que ameaçam aprofundar ainda mais a asfixia econômica do território palestino.
A decisão foi criticada pela ONU, pelo Hamas e até pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas, aliado de Israel. Ela foi aprovada pelo gabinete de segurança de Israel horas antes da chegada da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, enviada para negociar com israelenses e palestinos detalhes da conferência de paz que a Casa Branca planeja promover em novembro.

Hostil para os EUA
"Não é segredo que o Hamas é uma organização terrorista", disse a ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, após o encontro com Rice, citando uma posição endossada pelos EUA e pela União Européia. Livni acrescentou que Israel continuará honrando seus compromissos humanitários. "Todas as necessidades que não sejam humanitárias não serão supridas por Israel."
Ao lado de Livni, Rice disse que o Hamas "também é uma entidade hostil para os EUA".
Entre as possíveis conseqüências da decisão israelense estão cortes no fornecimento de eletricidade e combustíveis, além de restrições ao trânsito de pessoas entre Gaza e Israel e a transferências de dinheiro. Não foi marcada data para que as sanções entrem em vigor.
O governo israelense estava sob intensa pressão do público e da oposição para que adotasse medidas de retaliação aos disparos de foguetes de radicais islâmicos contra seu território, principalmente depois que um desses ataques feriu 69 soldados, há dez dias. O Hamas, que tomou o controle de Gaza em junho, não esteve diretamente envolvido nos ataques, mas também não reprimiu os radicais que os praticam.
O grupo islâmico considerou a medida israelense uma "declaração de guerra". "Eles querem deixar nosso povo faminto e forçá-lo a baixar a cabeça diante das fórmulas humilhantes que poderão emergir da chamada conferência de paz de novembro", disse o porta-voz do Hamas Fawzi Barhoum.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, aliado de Israel e dos EUA e líder do grupo Fatah, que foi expulso de Gaza pelo Hamas há três meses, criticou a decisão israelense, que "aumenta o sofrimento e aprofunda a tragédia" dos palestinos.
Os acessos à faixa de Gaza estão praticamente fechados por Israel desde que o controle passou a ser totalmente exercido pelo Hamas, que não reconhece o direito de existência do Estado judeu. Mas, ao declarar o território "entidade inimiga", Israel poderá argumentar que não tem a obrigação, sob o direito internacional, de suprir as necessidades da população de Gaza, de 1,5 milhão de pessoas.
Não é a opinião do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que pediu a Israel que reconsiderasse sua decisão pouco após a aprovação pelo gabinete. Para Ban, o corte no fornecimento de serviços vitais representará uma violação da lei internacional e causará ainda mais sofrimento à já castigada população civil de Gaza.
Num de seus mais duros pronunciamentos contra Israel desde que assumiu o posto, no primeiro dia deste ano, Ban disse que a medida aprovada ontem contraria as obrigações humanitárias que Israel tem com a população palestina.


Com agências internacionais


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