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Potências "somem" das forças da ONU
Por treinamento, prestígio e dinheiro, países do sul da Ásia e da África são hoje responsáveis por 71% das tropas
Por conta da atuação na missão do Haiti, Brasil avança 35 postos no ranking dos capacetes azuis em nove anos
LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO
Nos últimos nove anos, o
Brasil subiu da 47ª posição
para a 12ª no ranking dos países que mais enviam tropas
para missões de paz das Nações Unidas. O salto se deve
ao envio de mais de 2.000 militares por ano à Minustah
(Missão das Nações Unidas
para a Estabilização do Haiti), ao custo de R$ 1,3 bilhão.
O investimento é uma tentativa do governo brasileiro
de acompanhar uma tendência de países em desenvolvimento de assumir um lugar
antes ocupado pelas potências mundiais nas missões.
Hoje, países do sul da Ásia
e do continente africano são
fornecedores de 71% dos cerca de 100 mil homens que
formam as tropas de paz e a
polícia das Nações Unidas.
O primeiro do ranking é o
Paquistão, que participa
atualmente de 11 missões
com 10.744 homens.
Militares do continente europeu, dos EUA e do Canadá
-que antes da década de 90
eram presença quase obrigatória nas missões-, em 2001
representavam juntos 22%
do contingente de capacetes
azuis no mundo. Neste ano,
não chegam a 8% do total. A
ONU não divulga dados anteriores a 2001 para pesquisa.
A retirada gradual das potências começou com o fracasso das missões na Somália (92-93), que resultou no
assassinato e exibição pública de corpos de soldados
americanos, e em Ruanda
(93-96) -onde a ONU foi incapaz de conter o genocídio.
Desde então, os países desenvolvidos continuaram a
financiar missões em países
"falidos", porém sem envolver diretamente suas tropas.
"Um soldado morto nessas
missões tem um custo político e eleitoral muito alto",
afirma Matias Spektor, coordenador do Centro de Estudos sobre Relações Internacionais da FGV-Rio.
Segundo ele, outro fator
decisivo foi a dificuldade das
potências em abrir frentes
após se envolverem nas guerras do Oriente Médio.
OPORTUNIDADE
Além da oportunidade de
treinar e profissionalizar tropas, os países em desenvolvimento procuram as missões
de paz por interesses econômicos (possibilidade de fechar contratos futuros) e estratégicos (obter prestígio e
influência internacional).
Outro atrativo para alguns
países é o pagamento que as
Nações Unidas fazem pelo
uso dos soldados. Alguns deles, como o Nepal (6º no ranking) e o Uruguai (10º) descobriram um "nicho" de mercado e criaram unidades especializadas em missões de paz
da ONU que rendem lucros.
Não é o caso do Brasil, que
não tem unidades especializadas e recebe de pagamento
da ONU cerca de 25% da
quantia que investiu para
mandar as tropas.
O objetivo brasileiro está
mais ligado ao treinamento
de tropas contra guerrilhas e
à obtenção de mais destaque
na engrenagem da ONU (no
caso, uma cadeira no Conselho de Segurança).
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