São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2011

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Crise síria deverá abrir o mercado local ao Brasil

Previsão é de copresidente de conselho reunindo empresários dos 2 países

Tarif Akhras está sob impacto de sanções da UE; fluxo entre os países chegou a quase R$ 1 bilhão em 2010

MARCELO NINIO

ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO

As sanções internacionais impostas contra o regime de Damasco atingiram de raspão as relações econômicas entre o Brasil e a Síria, mas também podem abrir novas oportunidades para negócios brasileiros no país árabe.
Entre os nomes incluídos na mais recente lista negra da União Europeia está o do industrial Tarif Akhras, copresidente do Conselho Empresarial Brasil-Síria.
O órgão foi criado no início do ano passado para fomentar as relações comerciais entre os dois países, cujo volume cresceu quase dez vezes desde a visita à Síria do presidente Lula, em 2003: de US$ 77,8 milhões para US$ 594,8 milhões, em 2010.
Em entrevista à Folha num hotel de luxo de Damasco, Akhras demonstrou surpresa e indignação com as sanções europeias. Outros três empresários foram punidos pela UE por dar "apoio econômico ao regime sírio".
Para Akhras, que é tido como parte do círculo próximo à família do ditador Bashar Assad, o objetivo é pressioná-lo a mudar de lado.
"Trazemos alimentos que chegam a toda a população", diz ele, dono de um conglomerado que inclui refinarias de açúcar do Brasil. "Todos consomem açúcar, farinha, azeite. Então o suporte econômico que dou não é ao regime, é a todos os sírios."
As sanções preveem o congelamento dos bens de Akhras e de suas empresas e também proíbem que ele viaje aos países da UE.
O industrial acha que o veto à importação de matérias-primas deverá forçá-lo a fechar fábricas e demitir funcionários.
Quanto às relações comerciais entre Brasil e Síria, ele acredita que o impacto pode ser positivo. Akhras viajará em breve ao Brasil, onde proporá que as transações passem a ser feitas em real.
As sanções financeiras impostas pelos EUA em resposta à violenta repressão do regime aos protestos contra o ditador forçaram a Síria a suspender as operações em dólar, além de impossibilitar o uso de cartões de crédito internacionais no país.
O Banco Central sírio passou a usar o euro como moeda oficial das transações financeiras, mas governo e empresários já buscam alternativas caso a UE decida seguir o modelo americano.
Isso poderá abrir brechas para mais negócios com o Brasil, prevê Akhram.
"O comércio tem o potencial até de crescer, porque o governo e empresários sírios passaram a olhar mais para o Brasil depois das sanções", afirma o empresário.
Após uma queda em março, quando começou a crise síria, o fluxo comercial entre os dois países recuperou-se. No primeiro semestre deste ano já soma R$ 474 milhões, volume praticamente igual ao mesmo período de 2010.


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