São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Vítima é européia casada com iraquiano e vive no país há 30 anos; rebeldes não fazem exigências

Líder de ONG humanitária é seqüestrada

DA REDAÇÃO

Insurgentes iraquianos seqüestraram ontem em Bagdá a diretora no país da Care International, uma das maiores organizações humanitárias do mundo.
A TV árabe Al Jazira exibiu um vídeo em que Margaret Hassan aparece com as mãos nas costas, presumivelmente amarradas, e de semblante tenso. A gravação não tem áudio e o grupo de seqüestradores não se identificou nem apresentou exigências.
Hassan tem pouco mais de 60 anos e nasceu em Dublin. Além da irlandesa, ela tem as nacionalidades britânica e iraquiana. Hassan é casada com um iraquiano e vive no país há 30 anos. Ela está na Care International desde 1991.
"Queremos enfatizar que ela se vê como uma iraquiana. O Iraque é sua casa. Ela vive lá há muitos anos e jamais consideraria retornar para o Reino Unido", disse uma porta-voz da Care.
Hassan foi seqüestrada por volta das 7h30 (2h30 em Brasília), quando saía de sua casa. A refém é uma das agentes humanitárias mais conhecidas de todo o Oriente Médio e é a pessoa mais proeminente a ser capturada na atual onda de seqüestros. Desde abril, mais de 150 estrangeiros foram seqüestrados no Iraque. Pelo menos 35 foram assassinados.
No ano passado, Hassan havia declarado em uma entrevista ao diário "Atlanta Journal-Constitution" que não pensava em sair do país. "É importante para a minha equipe que eu fique com ela. A força vem do apoio mútuo que damos uns aos outros", afirmou.
Hassan comanda 60 pessoas que administram programas de nutrição, saúde e água potável. A Care (cooperativa para transferências americanas para a Europa, em inglês) International foi criada em 1945 nos EUA e está presente em 72 países.
Em Amã (Jordânia), Astrid van Genderen Stort, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, fez uma crítica implícita às organizações não-governamentais. "Nós, a ONU, decidimos no ano passado não manter uma presença internacional porque julgamos a situação muito perigosa para nós. O seqüestro das italianas e da iraquiana há pouco tempo [setembro] deveria ter alertado outros ainda mais quanto aos perigos de operar no Iraque."
O seqüestro de Hassan acontece menos de duas semanas após a decapitação do britânico Kenneth Bigley. A oposição da população britânica à Guerra do Iraque é uma das causas da queda da popularidade do premiê Tony Blair.
O governo britânico está avaliando no momento um pedido feito pelos Estados Unidos para que transfira parte dos seus 9.000 soldados que estão em uma região comparativamente calma no sul do Iraque para zonas mais problemáticas. "Somos muito simpáticos a essa proposta", adiantou o chanceler Jack Straw.
Em entrevista publicada ontem no "USA Today", o secretário de Estado americano, Colin Powell, disse acreditar ainda ser possível a realização das eleições legislativas iraquianas em janeiro. "A chave é segurança e a organização das forças iraquianas, deixando-as competentes, equipadas e capazes de fazer o trabalho."
Pelo menos quatro soldados da Guarda Nacional Iraquiana morreram ontem e mais de 80 ficaram feridos após ataque com morteiros a uma base ao norte de Bagdá. Na capital, um civil americano morreu durante ataque a uma base dos EUA na região central da cidade. Em Mossul (norte), dois iraquianos morreram e três ficaram feridos em decorrência da explosão de três carros-bombas.


Com agências internacionais


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