São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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Ação contra violência em Bagdá falhou, admitem EUA

Ataques na capital iraquiana cresceram 22% após começo da operação, em agosto

Casa Branca descarta saída do país antes de alcançar a "vitória", antecipando reação a recomendação de uma comissão bipartidária

DA REDAÇÃO

Anunciada com alarde dois meses atrás, a operação conjunta dos Exércitos do Iraque e dos EUA para reprimir a violência em Bagdá foi um fracasso. O balanço negativo foi admitido ontem pelo comando militar norte-americano, que reconheceu a necessidade de uma nova estratégia para conter o crescente derramamento de sangue na capital iraquiana.
A admissão de fracasso ocorreu um dia depois de o presidente George W. Bush ter aceito pela primeira vez o paralelo entre Iraque e Vietnã e em meio aos rumores em torno do relatório que está sendo preparado por uma comissão bipartidária chefiada por James Baker, secretário de Estado no governo do pai de Bush. O informe só deve ser apresentado em dezembro, mas as indicações que circulam na imprensa dos EUA são de que ele recomendará uma retirada gradual das tropas norte-americanas.
Enquanto o major-general William B. Caldwell, principal porta-voz militar dos EUA, reconhecia o fracasso da estratégia adotada em Bagdá, o país viveu mais um dia de intensa violência. Carros-bomba, morteiros e tiroteios deixaram 58 mortos e mais de 140 feridos em vários pontos do Iraque.
De acordo com Caldwell, a contra-ofensiva iniciada em agosto não reduziu a violência em Bagdá. Muito pelo contrário: nas três primeiras semanas do mês sagrado do Ramadã, principal período do calendário islâmico, iniciado no dia 23 de setembro, os ataques de insurgentes e milícias aumentaram 22% em comparação com as três semanas anteriores.

Desanimador
O depoimento de Caldwell, que classificou a situação no Iraque de "desanimadora", foi marcado pelo tom negativo. "Em Bagdá a Operação Juntos para a Frente fez a diferença nas áreas em foco, mas não correspondeu à nossa expectativa de conseguir uma redução no nível de violência", disse Caldwell, em referência à operação que introduziu 12 mil soldados adicionais em Bagdá em agosto. "A violência é desanimadora."
Caldwell disse que estão sendo estudadas novas estratégias com o comando militar iraquiano, mas não está claro quais as opções ainda disponíveis. Ao longo do ano passado, as forças dos EUA começaram a deixar grandes áreas da capital, encorajando o Exército e a polícia iraquianos a assumir o controle. Essa política, contudo, foi seguida de uma escalada na violência sectária, sobretudo após o ataque ao santuário xiita de Samarra, em fevereiro.
Criado em março justamente para buscar novas idéias para a ação norte-americana, o Grupo de Estudo do Iraque causa polêmica antes mesmo de revelar suas conclusões. O chefe da comissão bipartidária, velho amigo da família Bush, garantiu que o trabalho não sofre nenhuma influência do governo. "Todos sabem como sou próximo da família Bush, mas se nosso relatório pretende ter algum valor ele precisa ser independente e direto", disse Baker.
Entre as recomendações debatidas até agora, e que, especula-se, serão incluídas no relatório final, está a de planejar a retirada norte-americana em fases. Na seguinte seqüência: garantir a estabilidade de Bagdá; abrir um diálogo com Irã e Síria; reposicionar as tropas fora do Iraque; e dividir o país em três regiões semi-autônomas.
O porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, reiterou ontem a posição do governo de só planejar a retirada em caso de vitória. Em entrevista à revista "Time", o vice-presidente, Dick Cheney, repetiu o mantra: "Não buscamos uma estratégia de saída. Buscamos a vitória".
Um dia após Bush admitir um paralelo entre a situação no Iraque e a enfrentada pelo Exército norte-americano no Vietnã nos anos 60, a Casa Branca disse ontem que a intenção dele foi apenas dizer que os insurgentes podem estar intensificando os ataques para influenciar as eleições legislativas nos EUA, no mês que vem.
Na quarta-feira, ao ser questionado sobre a comparação feita pelo colunista Thomas Friedman, do "New York Times", entre o momento atual no Iraque e a ofensiva vietcongue do Tet, considerada o primeiro sinal da improbabilidade de uma vitória norte-americana no Vietnã, Bush respondeu: "Ele pode estar certo".


Com agências internacionais


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