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Ação contra violência em Bagdá falhou, admitem EUA
Ataques na capital iraquiana cresceram 22% após começo da operação, em agosto
Casa Branca descarta saída
do país antes de alcançar a "vitória", antecipando reação a recomendação de uma comissão bipartidária
DA REDAÇÃO
Anunciada com alarde dois
meses atrás, a operação conjunta dos Exércitos do Iraque e
dos EUA para reprimir a violência em Bagdá foi um fracasso. O balanço negativo foi admitido ontem pelo comando
militar norte-americano, que
reconheceu a necessidade de
uma nova estratégia para conter o crescente derramamento
de sangue na capital iraquiana.
A admissão de fracasso ocorreu um dia depois de o presidente George W. Bush ter aceito pela primeira vez o paralelo
entre Iraque e Vietnã e em
meio aos rumores em torno do
relatório que está sendo preparado por uma comissão bipartidária chefiada por James Baker, secretário de Estado no governo do pai de Bush. O informe só deve ser apresentado em
dezembro, mas as indicações
que circulam na imprensa dos
EUA são de que ele recomendará uma retirada gradual das tropas norte-americanas.
Enquanto o major-general
William B. Caldwell, principal
porta-voz militar dos EUA, reconhecia o fracasso da estratégia adotada em Bagdá, o país viveu mais um dia de intensa violência. Carros-bomba, morteiros e tiroteios deixaram 58
mortos e mais de 140 feridos
em vários pontos do Iraque.
De acordo com Caldwell, a
contra-ofensiva iniciada em
agosto não reduziu a violência
em Bagdá. Muito pelo contrário: nas três primeiras semanas
do mês sagrado do Ramadã,
principal período do calendário
islâmico, iniciado no dia 23 de
setembro, os ataques de insurgentes e milícias aumentaram
22% em comparação com as
três semanas anteriores.
Desanimador
O depoimento de Caldwell,
que classificou a situação no
Iraque de "desanimadora", foi
marcado pelo tom negativo.
"Em Bagdá a Operação Juntos
para a Frente fez a diferença
nas áreas em foco, mas não correspondeu à nossa expectativa
de conseguir uma redução no
nível de violência", disse Caldwell, em referência à operação
que introduziu 12 mil soldados
adicionais em Bagdá em agosto.
"A violência é desanimadora."
Caldwell disse que estão sendo estudadas novas estratégias
com o comando militar iraquiano, mas não está claro
quais as opções ainda disponíveis. Ao longo do ano passado,
as forças dos EUA começaram a
deixar grandes áreas da capital,
encorajando o Exército e a polícia iraquianos a assumir o controle. Essa política, contudo, foi
seguida de uma escalada na violência sectária, sobretudo após
o ataque ao santuário xiita de
Samarra, em fevereiro.
Criado em março justamente
para buscar novas idéias para a
ação norte-americana, o Grupo
de Estudo do Iraque causa polêmica antes mesmo de revelar
suas conclusões. O chefe da comissão bipartidária, velho amigo da família Bush, garantiu
que o trabalho não sofre nenhuma influência do governo.
"Todos sabem como sou próximo da família Bush, mas se nosso relatório pretende ter algum
valor ele precisa ser independente e direto", disse Baker.
Entre as recomendações debatidas até agora, e que, especula-se, serão incluídas no relatório final, está a de planejar a
retirada norte-americana em
fases. Na seguinte seqüência:
garantir a estabilidade de Bagdá; abrir um diálogo com Irã e
Síria; reposicionar as tropas fora do Iraque; e dividir o país em
três regiões semi-autônomas.
O porta-voz da Casa Branca,
Tony Snow, reiterou ontem a
posição do governo de só planejar a retirada em caso de vitória.
Em entrevista à revista "Time",
o vice-presidente, Dick Cheney, repetiu o mantra: "Não
buscamos uma estratégia de
saída. Buscamos a vitória".
Um dia após Bush admitir
um paralelo entre a situação no
Iraque e a enfrentada pelo
Exército norte-americano no
Vietnã nos anos 60, a Casa
Branca disse ontem que a intenção dele foi apenas dizer que
os insurgentes podem estar intensificando os ataques para
influenciar as eleições legislativas nos EUA, no mês que vem.
Na quarta-feira, ao ser questionado sobre a comparação
feita pelo colunista Thomas
Friedman, do "New York Times", entre o momento atual
no Iraque e a ofensiva vietcongue do Tet, considerada o primeiro sinal da improbabilidade
de uma vitória norte-americana no Vietnã, Bush respondeu:
"Ele pode estar certo".
Com agências internacionais
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