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Oposição confronta Exército boliviano
Manifestantes entram em choque com soldados que haviam ocupado o aeroporto de Santa Cruz
Governo, que ordenou saída de militares após confronto, diz que a ação foi para acabar com a cobrança de taxa ilegal pelos opositores
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Sob a ameaça de um grave
confronto com manifestantes
oposicionistas, o governo boliviano retirou ontem as tropas
do Exército que ocupavam o
aeroporto internacional de
Santa Cruz, em mais um capítulo da crise política entre o
presidente Evo Morales e lideranças do leste do país.
A ocupação militar havia começado na madrugada de anteontem, quando um avião
Hércules aterrissou no aeroporto Viru Viru, o mais importante do país, trazendo a bordo
um grupo de assalto.
Segundo o jornal "La Razón",
os soldados cortaram a luz elétrica e renderam os funcionários da Aasana (Administração
Autônoma de Serviços Auxiliares e Navegação Aérea), versão
local da Infraero. Janelas e portas foram danificadas. Cerca de
300 militares participaram da
ocupação -outros chegaram
por terra. Um tenente foi baleado na perna por um funcionário armado.
O governo Morales justificou
a ação afirmando que o escritório regional da Aasana -um órgão nacional, mas que funciona
de forma descentralizada-
tem cobrado ilegalmente uma
taxa das empresas aéreas que
operam no aeroporto. Os funcionários de Santa Cruz alegam
que a medida foi necessária devido à falta de repasses do governo federal.
Na última terça-feira, a American Airlines, a TAM e a Gol
suspenderam os vôos a Santa
Cruz em protesto contra a taxa,
que começou a ser cobrada no
último dia 11 e chegava a US$
2.000 por aeronave. As operações das três empresas já estavam normalizadas ontem.
Chávez
A intervenção militar e a
substituição dos funcionários
regionais da Aasana por seguidores de Morales provocaram
uma reação imediata do Comitê Cívico de Santa Cruz, entidade liderada por empresários
cruzenhos que fazem oposição
a Morales e defendem maior
autonomia em relação a La Paz
para o departamento mais rico
da Bolívia.
Anteontem à tarde, um grupo de cerca de 300 manifestantes entrou em choque com o
Exército na área do aeroporto.
Ainda de acordo com o "La Razón", sete manifestantes saíram feridos.
Horas mais tarde, o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, convocou manifestação para ontem de manhã com o objetivo de retomar o aeroporto dos
militares. Ele acusou o presidente venezuelano Hugo Chávez de estar por trás da operação e disse que ele está "proibido" de entrar no departamento.
"Esse sem-vergonha, esse
macaco mais velho do Chávez,
nunca será autonomista", disse
ontem Costas, um ex-presidente do Comitê Cívico. A expressão, na Bolívia, remete a uma
brincadeira em que uma pessoa
imita tudo o que outra faz, numa óbvia alusão à influência do
venezuelano sobre Morales.
No último domingo, Chávez
prometeu um "Vietnã das metralhadoras" contra a oposição
boliviana caso Morales seja deposto ou assassinado.
Os soldados saíram do aeroporto ontem no início da manhã, horas antes do horário do
protesto, que acabou reunindo
alguns milhares de manifestantes no saguão do aeroporto,
muitos com a bandeira verde e
branca de Santa Cruz.
Em outro aparente recuo, o
governo Morales também
reinstituiu os funcionários que
haviam sido afastados na véspera, mas anunciou que o escritório regional da Aasana será
investigado por supostos atos
de corrupção. Em nota, a Presidência disse que a decisão de
retirar os militares ocorreu devido à normalização das operações no aeroporto.
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