São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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Oposição confronta Exército boliviano

Manifestantes entram em choque com soldados que haviam ocupado o aeroporto de Santa Cruz

Governo, que ordenou saída de militares após confronto, diz que a ação foi para acabar com a cobrança de taxa ilegal pelos opositores

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Sob a ameaça de um grave confronto com manifestantes oposicionistas, o governo boliviano retirou ontem as tropas do Exército que ocupavam o aeroporto internacional de Santa Cruz, em mais um capítulo da crise política entre o presidente Evo Morales e lideranças do leste do país.
A ocupação militar havia começado na madrugada de anteontem, quando um avião Hércules aterrissou no aeroporto Viru Viru, o mais importante do país, trazendo a bordo um grupo de assalto.
Segundo o jornal "La Razón", os soldados cortaram a luz elétrica e renderam os funcionários da Aasana (Administração Autônoma de Serviços Auxiliares e Navegação Aérea), versão local da Infraero. Janelas e portas foram danificadas. Cerca de 300 militares participaram da ocupação -outros chegaram por terra. Um tenente foi baleado na perna por um funcionário armado.
O governo Morales justificou a ação afirmando que o escritório regional da Aasana -um órgão nacional, mas que funciona de forma descentralizada- tem cobrado ilegalmente uma taxa das empresas aéreas que operam no aeroporto. Os funcionários de Santa Cruz alegam que a medida foi necessária devido à falta de repasses do governo federal.
Na última terça-feira, a American Airlines, a TAM e a Gol suspenderam os vôos a Santa Cruz em protesto contra a taxa, que começou a ser cobrada no último dia 11 e chegava a US$ 2.000 por aeronave. As operações das três empresas já estavam normalizadas ontem.

Chávez
A intervenção militar e a substituição dos funcionários regionais da Aasana por seguidores de Morales provocaram uma reação imediata do Comitê Cívico de Santa Cruz, entidade liderada por empresários cruzenhos que fazem oposição a Morales e defendem maior autonomia em relação a La Paz para o departamento mais rico da Bolívia.
Anteontem à tarde, um grupo de cerca de 300 manifestantes entrou em choque com o Exército na área do aeroporto. Ainda de acordo com o "La Razón", sete manifestantes saíram feridos.
Horas mais tarde, o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, convocou manifestação para ontem de manhã com o objetivo de retomar o aeroporto dos militares. Ele acusou o presidente venezuelano Hugo Chávez de estar por trás da operação e disse que ele está "proibido" de entrar no departamento.
"Esse sem-vergonha, esse macaco mais velho do Chávez, nunca será autonomista", disse ontem Costas, um ex-presidente do Comitê Cívico. A expressão, na Bolívia, remete a uma brincadeira em que uma pessoa imita tudo o que outra faz, numa óbvia alusão à influência do venezuelano sobre Morales.
No último domingo, Chávez prometeu um "Vietnã das metralhadoras" contra a oposição boliviana caso Morales seja deposto ou assassinado.
Os soldados saíram do aeroporto ontem no início da manhã, horas antes do horário do protesto, que acabou reunindo alguns milhares de manifestantes no saguão do aeroporto, muitos com a bandeira verde e branca de Santa Cruz.
Em outro aparente recuo, o governo Morales também reinstituiu os funcionários que haviam sido afastados na véspera, mas anunciou que o escritório regional da Aasana será investigado por supostos atos de corrupção. Em nota, a Presidência disse que a decisão de retirar os militares ocorreu devido à normalização das operações no aeroporto.


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