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UE sai do limbo com novo tratado
27 países definem regras de funcionamento do bloco, em lugar do rejeitado projeto de Constituição
Cúpula européia em Lisboa
termina com concessões a
Itália e Polônia; França volta
a descartar Turquia; Tony
Blair é cogitado para cargo
DA REDAÇÃO
Os governantes dos 27 países
da União Européia chegaram
na madrugada de ontem, em
Lisboa, a um acordo sobre o
tratado de 256 páginas que regulará o funcionamento do bloco, pondo fim a dois anos de incertezas, desde a rejeição, em
plebiscitos na Holanda e na
França, de um projeto mais
ambicioso de Constituição.
"A Europa saiu de sua crise
institucional e está pronta a enfrentar outros desafios", disse o
primeiro-ministro português,
José Sócrates, que detém a presidência rotativa da UE.
Os últimos obstáculos superados bem depois da meia-noite haviam sido levantados pela
Polônia e pela Itália. Os poloneses, a exemplo do que já havia
ocorrido na reunião de cúpula
de junho na Alemanha, opunham-se a um sistema de votação pelo qual países com maior
densidade demográfica, como a
Alemanha, impediam que os
países menores pudessem bloquear as decisões.
A solução conciliatória consistiu em permitir que possíveis objeções dos pequenos países só possam ser descartadas
com o voto unânime dos 27.
O presidente polonês, Lech
Kaczynski, enfrenta domingo
difíceis eleições legislativas que
poderão pôr fim ao governo de
seu irmão gêmeo, Jaroslaw
Kaczynski. Analistas acreditam
que ele estava interessado em
fazer barulho em Lisboa para
obter ganhos eleitorais.
Cadeira para a Itália
Quanto à Itália, o primeiro-ministro Romano Prodi pressionou -com sucesso- pela
obtenção de uma cadeira suplementar para seu país no Parlamento Europeu. A bancada italiana terá 73 eleitos, peso semelhante ao da França (74 eurodeputados). O Parlamento passou de 750 a 751 cadeiras.
O tratado, que ao contrário
do projeto abandonado de
Constituição não prevê hino e
bandeira oficiais para a União
Européia, será assinado em dezembro, em Lisboa, e no ano
que vem deve ser ratificado pelos Legislativos nacionais. Entra em vigor em 2009. A única
exceção será a Irlanda, cuja legislação prevê a necessidade de
plebiscito nacional.
Gordon Brown, premiê britânico, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, sugeriram que o
cargo de presidente da UE, que
o tratado criou, seja ocupado
pelo ex-premiê britânico Tony
Blair. Também surgiram como
candidatos o premiê dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen,
o ex-presidente polonês Aleksander Kwasniewski e o premiê
irlandês, Bertie Ahern.
O tratado também cria um
segundo cargo, o de ministro
das Relações Exteriores do bloco, que negociará em nome da
Europa questões diplomáticas
e de defesa. Ele substituiria o
espanhol Javier Solana, hoje
com um mandato menos ambicioso e sem uma forte estrutura
de assessores.
A Turquia recebeu uma esperada ducha de água fria em suas
ambições de integrar a UE. O
presidente Sarkozy, um dos adversários do ingresso daquele
país no bloco, afirmou que as
atuais negociações não serão
retomadas antes de dezembro.
O regime de Ancara, argumenta a França, não preenche os requisitos em cinco dos 35 capítulos que trazem as adequações
institucionais e legislativas.
Os participantes da cúpula de
Lisboa discutiram ontem aquecimento global, imigração e
energia, três temas que, segundo Hugo Brady, do Centro pela
Reforma Européia, de Londres,
darão ao bloco legitimidade e
política de resultados.
O tratado fechado de madrugada e comemorado com
champanha não unificou entusiastas da UE e os chamados
eurocéticos. O Reino Unido, e é
um único caso, preserva o monopólio das decisões internas
sobre segurança e Justiça. É
um exemplo da "Europa em
duas velocidades", mencionada
por Jean-Claude Juncker, o
primeiro-ministro luxemburguês. Dos 27 Estados, só 13 adotam a moeda comum, o euro, e
só 15 integram o Tratado
Schengen, área comum na circulação de pessoas.
Com agências internacionais
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