São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ NAÇÃO ISLÃ

"Deus está castigando os EUA", diz líder religioso

Louis Farrakhan sugeriu que Obama é o novo enviado para ajudar os negros

"País está pronto para mudança real", afirma líder radical em mesquita em Chicago, citando passgem do Corão

Emmanuel Dunand /France Presse
Barack Obama chega para comício na Carolina do Norte

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Num discurso polêmico e político, em que só não falou as palavras "Barack" e "Obama", o líder religioso radical Louis Farrakhan disse que "Deus está causando problemas aos EUA", sugeriu que o candidato democrata era o novo enviado para ajudar a população negra e que o país está "pronto para mudança real".
Em uma rara aparição pública, o convalescente líder da igreja da teologia negra Nação do Islã comparou o candidato democrata ao fundador do movimento, que também era filho de branca com negro, e mencionou passagem do "Corão" em que o profeta Maomé diz que em seu caminho ao paraíso ouvia os passos de um etíope.
"O povo está cansado do governo e procurando mudança real", disse ele na tarde de ontem durante a reabertura da histórica mesquita Maryam, em South Side, bairro pobre ao sul de Chicago. Ele citou o livro do Apocalipse para dizer que coisas novas viriam, e perguntou: "Um novo governo? Uma nova Constituição? Uma nova pessoa? Porque sabemos que a mudança na liderança política é absolutamente necessária".

Novo começo
Batizado de "A New Beginning" (um novo começo), é um dos primeiros eventos em que a fechada Nação do Islã, religião que prega a superioridade dos negros e segue preceitos do islamismo, abre as portas para não-seguidores, líderes de outras religiões e a imprensa.
É também a segunda aparição em público em 2008 de um líder que se recupera de um câncer na próstata e que tem evitado participar do debate político nos últimos meses.
O evento encerra uma semana de comemoração pelos 13 anos da Million Man March, passeata que levou centenas de milhares a Washington para celebrar, entre outras coisas, os direitos civis dos negros.
A reaparição do polêmico líder a 17 dias das eleições presidenciais preocupa a campanha de Barack Obama e pode causar ruído numa corrida permeada pela questão racial. O título do evento sugere uma segunda leitura, de que a possível vitória do democrata em 4 de novembro representará uma revitalização do movimento.
Criada nos anos 30, a Nação do Islã adota o "Corão", teve em Elijah Muhammad (1897-1975) seu principal nome mas é classificada de herética pelo islamismo por considerar seu fundador um profeta -para o islã, Maomé é o último profeta. Na origem, pregava que brancos descendem do mal, e os negros são o povo escolhido de Deus.
Em fevereiro, Farrakhan apoiou oficialmente a candidatura de Obama, dizendo que sua eleição dava "esperança ao mundo inteiro" de que os EUA mudariam para melhor.
Instado por Hillary Clinton num debate ainda durante as primárias se não recusaria o apoio do líder, Obama disse que não poderia controlar as pessoas que o apoiavam.
Mais tarde, com a reação negativa do eleitorado às aparições de outro líder negro polêmico de Chicago, o reverendo Jeremiah Wright, que foi pastor de Obama por décadas, e pelo ressurgimento na mídia de comentários anti-semitas de Farrakhan, o candidato condenaria ações e discursos de ambos e se desligaria da igreja do segundo, a Trindade.
A volta de Farrakhan chega num momento ainda em que Obama é alvo de anúncios, telefonemas e discursos negativos por parte da campanha de John McCain e de boatos disseminados na Internet.
O mais persistente diz que Obama, cristão batizado, é muçulmano -indagados em pesquisa recente do instituto Pew se sabiam a religião do democrata, 12% responderam "muçulmano".


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