São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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Nação do Islã, todos são irmãos e (quase) ninguém é branco

DO ENVIADO A CHICAGO

Entrar numa cerimônia da Nação do Islã é penetrar um universo até agora fechado, um lugar em que todos se tratam como "irmãos" e "irmãs" e (quase) ninguém é branco.
Pela conta da Folha, na tarde ensolarada e fria de ontem, descontada a orquestra, das cerca de mil pessoas que lotavam a mesquita Maryam, seis eram brancas -delas, três da imprensa.
O evento de ontem é parte de uma iniciativa maior lançada por Louis Farrakhan, de abrir aos poucos o movimento aos não-negros, a fatia da população que no início da Nação, na década de 1930, era considerada "descendente do mal" -há que se levar em conta que essa pesada retórica era das poucas armas que os negros contavam então, no auge do segregacionismo.
Para tanto, convites foram enviados a diversos líderes de igrejas de maioria branca, asiática e latina, explica Abdul Arif Muhammad, porta-voz informal do movimento.
Foi criado até o cargo de assessor para latinos, e Farrakhan tem permitido que brancos participem dos estudos periódicos promovidos pelo movimento, algo impensável na era de Elijah Muhammad, que nem sequer admitia brancos nos templos.
O que foi reaberto ontem impressiona pela imponência, plantado no meio de uma das partes mais pobres de Chicago, o South Side. Branco, com detalhes dourados e azuis, tem o chão de mármore. Dentro, dominam homens de uniforme azul escuro e gravata borboleta e mulheres cobertas de branco da cabeça aos pés.
Alguns levam quepes com as iniciais F.O.I ("Fruit of Islam", fruto do Islã, em inglês), indicando que fazem parte da unidade de segurança. Todos carregam nos ombros uma bandeira com o crescente.
Para entrar, o visitante passava na seqüência por um detetor de metais, uma revista nos pertences e um "corredor polonês", em que dois "F.O.I." agachados apalpam as pernas dos visitantes, outros dois o tronco e os dois últimos checam braços e pescoço.
Sinais dos tempos, na cerimônia de ontem, pela primeira vez, homens e mulheres sentavam-se misturados. (SD)


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