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SUCESSÃO NOS EUA/ FIM DE UMA ERA
"EUA retrocederam em todos os sentidos sob Bush"
Para general conservador, o Partido Republicano levou o país a um rumo radical e deve ficar "moribundo, se não morto", por uma década
Lawrence Wilkerson foi chefe-de-gabinete do secretário Colin Powell por três anos
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Após três anos como chefe-de-gabinete do ex-secretário de
Estado dos EUA Colin Powell, o
coronel Lawrence Wilkerson,
um republicano conservador,
chegou à conclusão de que o governo de George W. Bush estava errado. Em quase tudo. Em
2005, Wilkerson, 63, não só
abandonou postos públicos como se tornou um dos maiores
críticos da administração e da
Guerra do Iraque.
"Sob Bush, os EUA retrocederam mais do que em qualquer outra época na história,
em todos os sentidos", afirma.
"Ele e Dick Cheney são os mais
incompetentes que já tivemos,
e já houve muita gente incompetente no poder nos EUA."
Para o general, o Partido Republicano está tomado por
uma liderança "neojacobina"
que está levando o país a um caminho radical. Ele favorece a
retirada das tropas americanas
do Iraque em até 30 meses e crê
que "mesmo McCain será forçado a entender isso". Leia trechos de sua entrevista à Folha.
FOLHA - Como o sr. avalia oito anos
de governo Bush em termos de suas
conseqüências para a posição dos
EUA no mundo?
LAWRENCE WILKERSON - Os EUA
retrocederam mais do que em
qualquer outra época na história. George W. Bush e Richard
[Dick] Cheney entrarão para a
história como o presidente e o
vice mais incompetentes que já
tivemos. E olha que já tivemos
muita gente incompetente no
poder. Eles andaram para trás
internacionalmente, nacionalmente, em quase todas as áreas
possíveis. O único campo em
que fizeram algo de bom foi que
Bush apoiou em discursos e
com dinheiro fundos contra o
HIV e a Aids pelo planeta, mais
do que outros presidentes. Mas
é muito pouco para desculpar
todo o mal que causaram.
FOLHA - O fim do governo Bush será o fim da doutrina Bush (de ataques preventivos)?
WILKERSON - Sim. Certamente
espero que ela seja rechaçada
por completo. Nossa reputação
está manchada e continuará assim por muito tempo, porque
esse governo não só desafia a lei
como declara leis como se fosse
um rei francês dizendo "l'Etat,
c'est moi" [o Estado sou eu,
símbolo do absolutismo].
A república democrática que
são os EUA não é radical, mas
seus líderes sim. Eu gosto de
chamá-los de "neojacobinos",
em alusão ao grupo que poluiu
a Revolução Francesa e levou à
ascensão de Napoleão Bonaparte. Eu sou conservador, mas
o governo americano é radical.
Esse pessoal é messiânico em
seu desejo de trazer liberdade e
democracia para o mundo,
mesmo à bala. Essa não é a política externa tradicional americana e é errada.
FOLHA - O sr. é republicano. Como
vê a atuação de seu partido nesta
eleição?
WILKERSON - É terrível. O Partido Republicano vai ficar moribundo, se não morto, por uma
década. Talvez nesse período
ganhe a Casa Branca de novo,
mas se isso ocorrer será por
causa de algum candidato que,
assim como John McCain, repudia valores neoconservadores fundamentais. Acho que
Barack Obama vai ganhar a
Presidência, e o Senado e a Câmara vão ter enormes maiorias
democratas.
FOLHA - Quais seriam as prioridades para o próximo presidente?
WILKERSON - No primeiro dia eu
fecharia a prisão de Guantánamo e assinaria uma ordem executiva banindo a tortura por
qualquer pessoa em qualquer
lugar dos EUA. Aí começaria a
abordar a crise econômica, que
não acho que vai acabar durante a próxima década.
FOLHA - Um dos pontos de desacordo entre McCain e Obama é sobre o Iraque. O sr. favorece um prazo
rápido de retirada?
WILKERSON- Obama está provavelmente certo. Em 24 ou 30
meses, os americanos podem
sair do Iraque e servir de juiz,
ficando entre sunitas e curdos e
etc. Podemos ter quase todos os
nossos soldados fora do país
nesse prazo. Não faz nenhum
sentido estratégico manter a
ocupação de um país árabe, e
tenho certeza que o general
[David] Petraeus [que assume o
Comando Central dos EUA,
responsável pelas forças no
Oriente Médio, em 31 de outubro], vai chegar a essa conclusão, se é que não chegou ainda.
FOLHA - O foco da "guerra ao terror" deveria estar no Afeganistão,
como Obama diz?
WILKERSON - O foco deveria ser
mudar a idéia de que isso é uma
guerra. Como declarar guerra
contra algo que não pode ser
derrotado completamente? É
tão estúpido quanto declarar
guerra às drogas ou à pobreza.
O Afeganistão é um problema que está presente há anos e
anos, possivelmente desde Alexandre, o Grande, e no final
sempre resolve seus problemas
políticos, econômicos e etc. sozinho. A resposta não é militar,
mas de liderança. E [o presidente] Hamid Karzai não é a liderança de que o país precisa.
Há quatro revisões da estratégia americana no país em
curso atualmente -por parte
de Petraeus, do Pentágono, do
Conselho Nacional de Segurança e do comando da Otan na
Europa. Com sorte, vão chegar
a essas conclusões.
FOLHA - O comandante militar britânico no país disse que a melhor solução pode ser um "ditador aceitável". O que o sr. acha disso?
WILKERSON - Não discordo necessariamente. Certamente
não é uma solução sustentável.
Mas se houvesse uma liderança
em Cabul que fizesse as coisas
acontecerem... Poderia haver
uma pessoa como Pervez Musharraf [ex-ditador do Paquistão] em um momento de crise.
Mas depois, como tirar o ditador e trazer instituições, leis,
uma sociedade civil, educação...
todo tipo de coisa que vai consertar o Afeganistão ao longo
prazo? É uma transição muito
difícil de ser feita. Eu preferia
ver uma solução sustentável.
Leia a íntegra da entrevista www.folha.com.br/082933
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