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O IMPÉRIO VOTA
Expresso anti-Obama
Folha pega carona em ônibus de conservadores que cruza os EUA, levando pessoas que querem "resgatar" o país das políticas do presidente
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL
A RENO E ELKO (NEVADA)
Anoitece, a temperatura
cai, mas cerca de 200 conservadores e curiosos aguardam
pacientemente em um gramado da pequena Elko (Nevada), de 17 mil habitantes,
pela chegada do comboio do
grupo político ultraconservador Tea Party Express.
É a segunda parada do
tour do grupo, parte da rede
de ativistas antigoverno conhecida como Tea Party, que
se tornou a sensação das
campanhas para o Congresso dos EUA em 2010.
O comboio de três ônibus
luxuosos, seguidos por vans
de grandes redes de TV, ainda percorrerá 28 cidades pelas próximas duas semanas,
chegando em Concord (New
Hampshire) na véspera da
eleição do próximo dia 2.
A Folha pegou carona entre Reno, onde a excursão começou, anteontem, e Elko,
uma viagem de cinco horas
pelo deserto do Nevada.
Em uma eleição que poderá ser desastrosa para o Partido Democrata, a influência
dos grupos do Tea Party é
inegável.
Mesmo sem garantias de
conquista de cadeiras para
seus candidatos, os ultraconservadores já obtiveram vitória ao forçar quase todas as
campanhas para a direita.
Um dos trunfos, além da
impopularidade do governo
em meio à crise, é o foco nos
"grotões" do país.
Em seu tour, o Tea Party
Express chegará a fazer seis
comícios em um único dia,
em cidadezinhas perdidas da
"América profunda".
"Vamos a lugares como o
norte de Michigan, onde nenhum outro grupo político
vai. Nosso alcance é único",
diz Howard Kaloogian, fundador da iniciativa.
É assim que americanos
que nunca antes se envolveram em política vêm se engajando, atraídos pelo discurso
que prega governo mínimo e
faz críticas alarmistas ao "socialismo" da Casa Branca.
BANDA DE ROCK
Na estrada, não há desconforto. "Às vezes parece
que estamos num tour de
uma banda de rock", afirma
Kaloogian.
Entre um comício e outro,
há festinhas, brigas, banheiros entupidos, incontáveis
entrevistas à imprensa e muito trabalho.
Um dos ônibus, o mais animado, fica com os artistas;
outro com os palestrantes; e
um terceiro, com a administração e alguns jornalistas.
Ali, os assentos são de couro, há uma cozinha com micro-ondas e geladeira, ao menos quatro TVs de tela plana,
internet móvel, tomadas em
abundância.
As TVs vão ligadas na
emissora direitista Fox News.
À tarde, o noticiário mostra o caso de Fort Hood,
quando um psiquiatra muçulmano do Exército matou
13 soldados. "Por que não
abateram esse cara?", diz
uma participante do tour.
"Agora ele fica aí querendo
um julgamento justo."
ESTREANTES
A maioria dos integrantes
é novata na política, como
Darla Dawald, de longos cabelos tingidos de loiro, franjinha repicada, blusa de seda
laranja estampada e maquiagem carregada.
Diretora do grupo conservador ResistNet.com e convidada do Tea Party Express,
ela afirma que só virou ativista depois de ver resgates com
fundos públicos a bancos.
"Tive de fechar meu negócio por causa da economia.
Cadê o meu resgate?"
Kaloogian é exceção -serviu três mandatos como legislador na Califórnia, entre
1994 e 2000- e sofre críticas
de outros grupos do Tea
Party: "se acham mais "puros" porque não têm ninguém
experiente".
O Tea Party Express também faz campanha para alguns candidatos. Os principais são Sharron Angle, que
disputa o Senado em Nevada, Christine O"Donnell, candidata em Delaware, e Joe
Miller, do Alasca.
Foram gastos mais de US$
2 milhões em propaganda
para esses três -só O"Donnell consumiu US$ 1 milhão.
"Nenhum dos nossos escolhidos perdeu uma primária", diz Kaloogian. "Só em
Delaware estamos atrás nas
pesquisas para a eleição."
Os tours também são caros: ao menos US$ 1 milhão
para duas semanas. A verba
vem de doações individuais e
algum merchandising (vendem camisetas, revistas etc).
DE RAIZ
No gramado em Elko, o comício atrasa. Horas antes, em
um supercomício em Reno, a
atração principal -a queridinha dos conservadores Sarah Palin- demorou mais do
que o previsto em autógrafos
e apertos de mão.
A plateia não desanima.
"É meu segundo comício do
Tea Party", diz a comerciante
Donna Engle, 61, que se mudou recentemente de Portland para Elko em busca de
um ambiente mais republicano. "Gosto deles porque são
de raiz, populares e defendem a Constituição."
Boa parte, porém, saiu para um comício pela primeira
vez, como o casal Lonny e Pamela Matherne. "Viemos ver
do que é que todo mundo está falando", afirma Pamela.
"Apoiamos qualquer um
que leve o país de volta a uma
moral mais conservadora."
Já Lonny ataca o presidente Barack Obama. "Ninguém
sabe direito se ele nasceu nos
EUA ou não, é tudo mal explicado", diz, em alusão a
teorias conspiratórias que
questionam a elegibilidade
do democrata para a Presidência.
"Gosto dos republicanos
porque são um pessoal mais
limpo", acrescenta.
Já no escuro, os ônibus são
novamente carregados, e o
comboio parte para o hotel
onde passa a noite. Na manhã seguinte, partiriam às 9h
para a próxima parada.
A jornalista ANDREA MURTA viajou de
Reno a Elcko no Tea Party Express
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