São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2011

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A ARGENTINA VOTA

Após maior crise do seu governo, Cristina coopta os ruralistas

Presidente enfrentou locaute em 2008, mas agora, prestes a ser reeleita, recupera apoio das lideranças do campo

Reaproximação foi selada em um almoço ocorrido nesta semana com os representantes do setor agropecuário

LUCAS FERRAZ
SYLVIA COLOMBO

DE BUENOS AIRES

Piquetes nas estradas, marchas e falta de produtos nos supermercados de Buenos Aires. As cenas são de 2008, quando Cristina Kirchner se enfrentou com os produtores agropecuários.
Mas a pior crise de sua gestão, que causou rompimento com o vice Julio Cobos e o início da guerra com os meios de comunicação, parece ter ficado para trás.
Nesta semana, uma sorridente Cristina almoçou frango grelhado e conversou alegremente com antigos desafetos na sede da Coninagro (Confederação Intercooperativa Agropecuária), umas das entidades que se levantaram contra o governo.
Cristina tem razões para sorrir. O voto do campo para sua candidatura foi grande nas eleições primárias e tem tudo para se repetir no próximo domingo, quando ocorre o pleito oficial que deve garantir-lhe a reeleição. Uma verdadeira virada de mesa.
"A briga não serviu a ninguém. Nem a vocês nem ao governo", disse Cristina aos agropecuaristas. À Folha o presidente da Coninagro, Carlos Garetto, afirmou que a reaproximação é um "gesto muito forte na direção de um entendimento".
O conflito com o campo começou quando o governo emitiu um decreto aumentando o imposto para a exportação. Os produtores, que iriam ganhar menos, reagiram.
O locaute se estendeu por quatro meses, quando o aumento acabou sendo vetado pelo Senado -o voto de minerva foi de Julio Cobos, que também é presidente do Senado, selando seu rompimento com a Casa Rosada.
Assim como empresários e industriais, os produtores rurais se aproximaram do governo quando se tornou irreversível a vitória de Cristina.
Mas esse movimento também é útil para ela, que ameniza sua imagem de confrontação. A presidente garantiu a eles que não haverá "sobressaltos" nos próximos quatro anos.
"A dúvida é se esse sinal é mais um ato eleitoral ou se Cristina realmente está disposta a dialogar", afirmou à Folha Juan Carlos Goya, vice-presidente da CRA (Confederações Rurais Argentinas).
O resultado das eleições primárias, em agosto, mostrou também que houve uma reaproximação do eleitorado do campo. Cristina ganhou nas províncias de Córdoba e Santa Fé, o que não ocorrera nas eleições de 2007 e 2009.
Apesar do clima de distensão atual, ainda há diferenças. Cristina disse que o governo continuará controlando as exportações. Como ressaltaram os produtores, o diálogo está só começando.


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