São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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AMBIENTE

Navio levava 77 mil toneladas de óleo combustível; especialistas falam em desastre ecológico de grandes proporções

Petroleiro afunda, e óleo ameaça Espanha

France Presse
Foto aérea mostra o petroleiro Prestige, partido em dois, afundando perto da costa da Espanha


DA REDAÇÃO

Um petroleiro carregado com 77 mil toneladas de óleo combustível afundou ontem a cerca de 250 km da costa noroeste da Espanha. Segundo ambientalistas, o acidente pode se transformar em um dos piores vazamentos de óleo da história.
O petroleiro Prestige se partiu em dois antes de afundar, por volta das 13h15 (horário de Brasília). Ninguém ficou ferido, já que a tripulação havia sido retirada antes. O capitão, grego, foi preso, acusado de desobedecer as autoridades e de ameaçar o ambiente.
Construído em 1976, o navio havia rachado na quarta-feira passada por causa das fortes tempestades. Ele havia sido levado para longe da costa por rebocadores holandeses, para evitar um desastre de proporções ainda maiores.
Nenhum porto europeu havia aceitado receber o petroleiro.
A profundidade no local é de 3.600 metros. Segundo especialistas, os tanques podem se romper ao atingir o fundo do mar, implodir por conta da forte pressão ou eventualmente enferrujar.
Segundo Lars Walder, porta-voz da companhia holandesa de rebocadores Smit, deveria ser possível bombear o óleo remanescente dos tanques, mas a profundidade do mar e o mau tempo na região tornam a operação extremamente difícil.

Exxon Valdez
O petroleiro levava o dobro da quantidade de óleo que o Exxon Valdez levava quando encalhou no Alasca, em 1989, causando um vazamento que devastou uma parcela da fauna nativa da região.
Segundo o governo espanhol, o Prestige, de bandeira das Bahamas, já havia derramado entre 5.000 e 6.000 toneladas de óleo quando o casco foi rompido, além de ter deixado um rastro de mais 5.000 toneladas de óleo ao ser levado para o alto-mar. O óleo atingiu a costa da Galícia (noroeste da Espanha), deixando cerca de mil pescadores sem condições de trabalho e cobrindo de negro os pássaros marinhos.
"Se todo o óleo do petroleiro vazar, será um desastre com o dobro do efeito do Exxon Valdez, que foi um dos piores que já vimos", afirmou Christopher Hails, diretor da organização ambientalista World Wildlife Fund (WWF), em referência à catástrofe ambiental provocada pelo vazamento de óleo na costa do Alasca em 1989.
A Exxon teve de pagar US$ 5 bilhões de indenização pelos danos causados no vazamento.
O óleo combustível levado pelo Prestige é mais danoso que o petróleo que o Exxon Valdez levava.

Limpeza
O vice-premiê espanhol, Mariano Rajoy, afirmou ontem que três navios foram enviados ao local para o trabalho de limpeza.
O primeiro-ministro de Portugal, José Manuel Durão Barroso, também anunciou o envio de uma fragata, além de uma corveta que já estava no local.
Apesar disso, a possibilidade de contenção do óleo já vazado era praticamente nula, segundo os especialistas. "Há ondas de cinco metros, normais para essa época do ano. Não há como fazer o óleo parar", disse Lars Walder.
Segundo o Instituto Hidrográfico de Portugal, os ventos e as correntes devem levar o óleo para a costa da Galícia em um período de até 48 horas.
Questionado se temia por uma catástrofe ambiental, o ministro português do ambiente disse: "Naturalmente".
Segundo funcionários da União Européia, petroleiros antigos e de casco único como o Prestige serão banidos das águas européias por uma lei que entra em vigor em 2005. Nos EUA, desde 1996, já vigora a exigência de casco duplo para os petroleiros, para evitar vazamentos. A partir do ano que vem, as embarcações também estarão sujeitas a inspeções mais estritas nos portos europeus.
O presidente da França, Jacques Chirac, criticou a permissividade da atual legislação e pediu "medidas draconianas" para evitar novos acidentes. "Estou horrorizado com a falta de capacidade dos responsáveis políticos, nacionalmente e particularmente no nível europeu, em agir para obstruir a falta de rigor que permite que essas lixeiras naveguem, com bandeiras de conveniência, em condições totalmente inaceitáveis", afirmou Chirac.
"Outra vez enfrentamos um problema dramático. Ontem, foi na França. Hoje, na Espanha", disse o presidente francês, numa referência ao naufrágio do petroleiro Erika, em dezembro de 1999, que derramou 10 mil toneladas de petróleo na costa da Bretanha, no noroeste da França.

Com agências internacionais


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