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Trabalhistas voltam ao poder em Washington
Aumento do salário mínimo é prioridade da agenda política dos democratas
Novos congressistas prometem ainda lutar por acesso universal à saúde pública e pelo direito de filiação aos sindicatos
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Dois sinais de que os tempos
começam a mudar de direção
na política de Washington.
Na agenda de cem horas da
recém-eleita presidente do
Congresso, a democrata Nancy
Pelosi, um dos pontos principais é o aumento do salário mínimo federal, inalterado há nove anos. Na semana passada, o
veterano senador Ted Kennedy, que deve assumir o Comitê de Trabalho, disse que sua
primeira ação será justamente
propor o reajuste, dos atuais
US$ 5,15 (R$ 11,10) por hora para US$ 7,25 (R$ 15,60) por hora.
"Os americanos estão trabalhando cada vez mais duro, mas
milhões de trabalhadores espalhados pelo país não estão recebendo sua justa parte", disse o
democrata.
Na última terça-feira, o representante (deputado federal)
novato Keith Ellison, que é o
primeiro negro eleito pelo Estado de Minnesota e o primeiro
congressista muçulmano da
história, não apareceu na tradicional recepção oferecida pelo
presidente Bush aos políticos
calouros. Em vez disso, o democrata foi a uma festa do
AFL-CIO, considerado o "sindicato dos sindicatos" dos trabalhadores norte-americanos.
"[George W.] Bush é o presidente e eu o respeito em seu papel de presidente, mas tenho
extremas diferenças políticas
com ele", disse Ellison. Sua
agenda a partir de 3 de janeiro?
"Impostos justos, um salário
mínimo que dê para sobreviver
e o direito de se sindicalizar."
"Seca"
Depois de mais de uma década como espectadores, os trabalhistas e sua agenda estão de
volta à política norte-americana. "Foi uma seca de 12 anos, e
estamos com muita energia
contida", resume Bill Samuel,
diretor legislativo da AFL-CIO,
entidade que apóia historicamente os democratas.
"Muitas pessoas estiveram
envolvidas em colocá-los na liderança", concorda Eli Pariser,
diretor da ONG liberal MoveOn.org, uma das principais e
mais ativas pontes entre democratas e a sociedade civil.
A agenda é ambiciosa e inclui
acesso universal à saúde pública e ao ensino universitário e o
direito de se filiar a sindicatos
(que tem entre seus principais
opositores o próprio Bush),
mas a estrela é mesmo o salário
mínimo. A proposta foi incluída em seis Estados no pleito de
novembro e aprovada em todos. Com isso, das 50 unidades
da Federação, 29 agora contam
com a medida.
Estados têm autonomia para
definir seu próprio mínimo,
desde que seja pelo menos igual
ao federal. Pois o alvo agora é
justamente esse. O aumento foi
considerado uma reivindicação
justa por 85% dos eleitores de
novembro, segundo resultado
de pesquisa Gallup.
Numa sociedade em que a
maioria das pessoas é de classe
média, porém, a medida é considerada populista. Segundo o
Economy Policy Institute, de
Washington, apenas 2% dos
trabalhadores norte-americanos ganham o mínimo.
Um terço dos trabalhadores
norte-americanos ganha entre
US$ 35 mil e US$ 75 mil por
ano, segundo o Censo de 2005.
Mas 58% dos que ganham entre
US$ 30 mil e US$ 50 mil votaram em democratas neste ano.
É a esses que os novos líderes
parlamentares querem agradar.
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