São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 2006

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Trabalhistas voltam ao poder em Washington

Aumento do salário mínimo é prioridade da agenda política dos democratas

Novos congressistas prometem ainda lutar por acesso universal à saúde pública e pelo direito de filiação aos sindicatos

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Dois sinais de que os tempos começam a mudar de direção na política de Washington.
Na agenda de cem horas da recém-eleita presidente do Congresso, a democrata Nancy Pelosi, um dos pontos principais é o aumento do salário mínimo federal, inalterado há nove anos. Na semana passada, o veterano senador Ted Kennedy, que deve assumir o Comitê de Trabalho, disse que sua primeira ação será justamente propor o reajuste, dos atuais US$ 5,15 (R$ 11,10) por hora para US$ 7,25 (R$ 15,60) por hora.
"Os americanos estão trabalhando cada vez mais duro, mas milhões de trabalhadores espalhados pelo país não estão recebendo sua justa parte", disse o democrata.
Na última terça-feira, o representante (deputado federal) novato Keith Ellison, que é o primeiro negro eleito pelo Estado de Minnesota e o primeiro congressista muçulmano da história, não apareceu na tradicional recepção oferecida pelo presidente Bush aos políticos calouros. Em vez disso, o democrata foi a uma festa do AFL-CIO, considerado o "sindicato dos sindicatos" dos trabalhadores norte-americanos.
"[George W.] Bush é o presidente e eu o respeito em seu papel de presidente, mas tenho extremas diferenças políticas com ele", disse Ellison. Sua agenda a partir de 3 de janeiro? "Impostos justos, um salário mínimo que dê para sobreviver e o direito de se sindicalizar."

"Seca"
Depois de mais de uma década como espectadores, os trabalhistas e sua agenda estão de volta à política norte-americana. "Foi uma seca de 12 anos, e estamos com muita energia contida", resume Bill Samuel, diretor legislativo da AFL-CIO, entidade que apóia historicamente os democratas.
"Muitas pessoas estiveram envolvidas em colocá-los na liderança", concorda Eli Pariser, diretor da ONG liberal MoveOn.org, uma das principais e mais ativas pontes entre democratas e a sociedade civil.
A agenda é ambiciosa e inclui acesso universal à saúde pública e ao ensino universitário e o direito de se filiar a sindicatos (que tem entre seus principais opositores o próprio Bush), mas a estrela é mesmo o salário mínimo. A proposta foi incluída em seis Estados no pleito de novembro e aprovada em todos. Com isso, das 50 unidades da Federação, 29 agora contam com a medida.
Estados têm autonomia para definir seu próprio mínimo, desde que seja pelo menos igual ao federal. Pois o alvo agora é justamente esse. O aumento foi considerado uma reivindicação justa por 85% dos eleitores de novembro, segundo resultado de pesquisa Gallup.
Numa sociedade em que a maioria das pessoas é de classe média, porém, a medida é considerada populista. Segundo o Economy Policy Institute, de Washington, apenas 2% dos trabalhadores norte-americanos ganham o mínimo.
Um terço dos trabalhadores norte-americanos ganha entre US$ 35 mil e US$ 75 mil por ano, segundo o Censo de 2005. Mas 58% dos que ganham entre US$ 30 mil e US$ 50 mil votaram em democratas neste ano. É a esses que os novos líderes parlamentares querem agradar.


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