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ARTIGO
Uma cúpula sobre escombros e incertezas
ROGER COHEN
DO "NEW YORK TIMES"
Eu gostaria de depositar esperança na conferência, ou reunião, ou diálogo, sobre a paz no
Oriente Médio que será realizado em Annapolis. A batalha que
os movimentos nacionais sionista e palestino travam pela
mesma terra há 59 anos não fez
bem a ninguém.
Eu gostaria de sentir esperança, embora não tenha sido
estabelecida uma data firme,
não se saiba quem participará
do encontro, ele esteja acontecendo seis anos mais tarde do
que deveria, e Israel tenha decidido atrair turistas para o seu
60º aniversário, em 2008, com
a foto de um "caubói" israelense em uma fazenda nas colinas
do Golã, o que dificilmente pareceria alardear disposição de
trocar terras pela paz.
Não quero desesperar, ainda
que o premiê Ehud Olmert, de
Israel, esteja sob investigação
criminal, o presidente Bush pareça desamparado e o único homem capaz de fazer com que os
dois outros líderes pareçam
fortes seja o presidente palestino Mahmoud Abbas, que só
controla a Cisjordânia.
A desesperança deve ser evitada ainda que a atual estratégia de "Cisjordânia primeiro"
esteja sendo proposta apenas
dois anos depois de a prioridade ter sido concedida a uma
abordagem de "Gaza primeiro".
Recuso-me a permitir que os
recentes combates em Gaza entre o Fatah, de Abbas, e o Hamas me façam perder o ânimo,
mesmo quando Mahmoud Zahar, um dos líderes do Hamas,
me diz que "sem a unificação da
Cisjordânia e Gaza, Abbas não
pode falar pelos palestinos em
Annapolis".
O Hamas não pode ser ignorado para sempre. Mas me consolo pensando que a reunião de
Annapolis não gira em torno de
um acordo de paz, mas sim de
estabelecer a estrutura de um
processo de negociação e de angariar apoio regional.
Palestina esfacelada
Talvez os sauditas, sob pesada pressão dos EUA, decidam
comparecer. Talvez os sírios
decidam ignorar os anúncios de
caubóis no Golã e compareçam,
mas duvido. Talvez o medo do
Irã faça com que os países sunitas árabes demonstrem apoio
público a Israel. Talvez.
O que importa são os dois povos. Mas até mesmo os princípios básicos são problemáticos.
Uma das demandas centrais de
Olmert e de sua chanceler, Tzipi Livni, é que os palestinos reconheçam Israel abertamente
como "Estado judaico". Mas
Saeb Erekat, um negociador
palestino moderado, já disse
que "os palestinos jamais reconhecerão a identidade judaica
de Israel".
Livni quer que o caráter judaico de Israel seja estipulado
claramente, ainda que o país
abrigue uma imensa minoria
árabe, como pagamento pelo
reconhecimento da Palestina e
como seguro contra um retorno maciço de palestinos exilados. Ela está certa em desejá-lo,
mas errada ao pressionar pelo
reconhecimento imediato desse princípio.
Por que os palestinos deveriam oferecer alguma coisa
quando a Cisjordânia é um lugar vergonhoso que oferece um
curso prático de colonialismo e
assentamentos israelenses que
continuam a crescer sem qualquer controle? A Palestina nascente está esfacelada e invisível
por trás de um reconfortante
muro de segurança.
Enquanto o governo Bush
fingia não ver, israelenses e palestinos se perderam mutuamente de vista. Talvez, em última análise, a única maneira de
evitar o desespero seja pensar
que ao menos Annapolis os forçará a assumir o compromisso
de verem uns aos outros.
Todas as "questões de status
final" -Jerusalém, fronteiras,
assentamentos, água e segurança- terão de ser deixadas
para mais tarde. Annapolis parece no máximo um espetáculo
para as câmeras. Mas mesmo
um espetáculo como esse vale
algo no momento que vivemos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
NA INTERNET - Leia a íntegra do artigo em
www.folha.com.br/073233
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