São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FIM DO "IMPÉRIO"
Após 442 de domínio português, região volta ao controle de Pequim sob fórmula "um país, dois sistemas"
Portugal devolve Macau a chineses

RODRIGO UCHÔA
especial para a Folha


O encrave de Macau voltou ontem ao controle da China depois de 442 anos de domínio de Lisboa e simbolizou o fim, tardio, do Império Português. A cerimônia de entrega transcorreu ordeiramente, com a presença do presidente chinês, Jiang Zemin, e do presidente de Portugal, Jorge Sampaio, trocando cumprimentos e discursos.
"O governo chinês e seu povo têm confiança e habilidade para resolver a questão de Taiwan em breve e realizar a completa reunificação da China", disse Jiang, referindo-se à "Província rebelde" (leia texto ao lado).
Como Hong Kong, devolvida pelos britânicos em 1997, Macau volta ao controle de Pequim sob a fórmula ""um país, dois sistemas". Conservará pelos próximos 50 anos o direito de eleger uma assembléia e de continuar capitalista. A principal fonte de renda local hoje é o turismo, baseado nos cassinos da cidade.
Bastante chinês, o território nunca deixou seu lado cultural "aportuguesar-se" demais. Apesar da influência dos jesuítas -observada nas ruínas das igrejas católicas-, a produção de fogos de artifício, uma das maiores da Ásia, alimenta as tradicionais festas budistas.
"As festas lá são tipicamente chinesas", diz Basílio Fagundes, ex-diretor do Banco do Brasil em Hong Kong. "Tomar um táxi na cidade traz dificuldades para quem não domina o cantonês (dialeto do sul da China)."
A cidade não guardará muitas boas lembranças de Portugal, diz o jornal "Público", de Lisboa. ""Não há grandeza em Macau, administrávamos sem ocupar e sem influenciar", opina o diário.
As tropas lusas deixaram o território em 1975, na esteira da descolonização que liberou as colônias africanas. Àquela época, Portugal estava exaurido pelas guerras de independência e muitos jovens emigravam, por exemplo, para o Brasil, fugindo do alistamento.
Não chegava também a ser uma grande possessão para um império que já dominou o Brasil, por exemplo. Toda a área de Macau é equivalente a 12 parques do Ibirapuera, em São Paulo.
A única corrente que realmente falava contra a volta para a China o fazia por temer a repressão das liberdades individuais.
O caso da Fa Lun Gong levanta o problema. Popular -afirma ter 100 milhões de adeptos- a seita foi colocada fora da lei. Em Macau, seus protestos são reprimidos.
A seita mistura exercícios de meditação e um ideário conservador, contrário ao rock e ao homossexualismo.


com agências internacionais


Texto Anterior: Mídia troca jornalismo por propaganda
Próximo Texto: Taiwan é o próximo alvo de Pequim
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.