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IRAQUE
EUA e Reino Unido tentam enfraquecer pilares do regime, mas sabem que derrubar líder iraquiano é política de longo prazo
Saddam deve manter poder por alguns anos
ANDREW MARSHALL
do "The Independent", em Washington
Não se pode
dizer que Tony
Blair e Bill Clinton não estejam
entoando o
mesmo hino no
que tange a Saddam Hussein.
Quando saiu de Downing Street
na noite de quarta-feira, Blair disse: "Nossos objetivos com a ação
militar são claros: degradar a capacidade dele de construir e usar armas de destruição em massa e diminuir a ameaça que ele representa para os seus vizinhos".
"Nossa missão é clara: degradar
sua capacidade de desenvolver e
usar armas de destruição em massa ou de ameaçar seus vizinhos",
afirmou o presidente norte-americano, minutos mais tarde.
O lado militar da equação pode
estar claro, mas a estratégia política é pouco transparente, e de forma deliberada.
Os Estados Unidos e o Reino
Unido esperam que os ataques aéreos solapem Saddam e abram caminho para que as forças armadas
iraquianas o derrubem.
Mas ambos sabem que isso é
uma aposta e que, a longo prazo,
poderão ser obrigados a conviver
com o atual regime iraquiano.
Nesse sentido, os ataques aéreos
são, ao mesmo tempo, o último
suspiro de uma política desgastada
de tentar conter Saddam por meio
dos inspetores de desarmamento
da ONU (Unscom) e a primeira
cartada de uma nova estratégia.
A velha política dependia de quatro elementos: inspeções de desarmamento, sanções econômicas,
uma aliança de países comprometidos com a contenção do regime e
a ameaça de uso da força militar.
As inspeções de desarmamento
são coisa do passado. De fato, a
missão da Unscom estava encerrada, para efeitos práticos, há mais
de um ano. "Há algum tempo a
Unscom vinha sendo ineficiente",
disse Sandy Berger, assessor de segurança nacional de Bill Clinton.
Assim, a razão mais óbvia para
os ataques é destruir todos os alvos
conhecidos de uma vez por todas,
sabendo que há pouco mais a fazer
agora, dentro do Iraque, para impedir que Saddam desenvolva armas de destruição em massa.
Obviamente, esse curso de ação
não pode ser repetido, especialmente porque as informações de
que o Ocidente dispõe se tornam
cada vez menos úteis.
O que fazer em seguida? "Seguiremos uma estratégia de longo
prazo de contenção do Iraque, e
trabalharemos rumo ao dia em
que o país terá um governo digno
de seu povo", disse Clinton.
A segunda parte vem primeiro:
substituir Saddam. Mas os esforços clandestinos da Agência Central de Inteligência (CIA) e do Serviço Secreto de Inteligência para
derrubar o líder iraquiano vêm
sendo cômicos e desastrosos.
É provável que os EUA e o Reino
Unido acreditem que, ao alvejar
unidades da Guarda Republicana e
do Serviço Especial de Segurança,
sustentáculos do regime, eles possam criar uma oportunidade para
que setores das Forças Armadas
iraquianas derrubem Saddam.
"O fato é que enquanto Saddam
continuar no poder, ele ameaça o
bem-estar de seu povo, a paz da região e a segurança do mundo",
afirma Clinton.
"A melhor maneira de pôr fim à
ameaça de uma vez por todas é um
novo governo iraquiano, um governo pronto para viver em paz
com seus vizinhos", diz.
"Provocar mudanças em Bagdá
custará tempo e esforço. Nós reforçaremos nosso envolvimento com
toda a gama de forças oposicionistas no Iraque e trabalharemos com
elas de forma prudente e eficaz."
A palavra-chave é tempo, sobre o
qual nem Washington nem Londres têm influência.
Assim, o plano de longo prazo
envolve necessariamente conviver
com Saddam por alguns anos. O
programa da ONU de troca de petróleo por alimentos trará mais recursos ao regime, permitindo que
as condições no país melhorem.
Em análise deste ano, Anthony
Cordesman, do Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais, refletiu sobre a questão de como
"conviver com Saddam".
"Por mais que nos desagrade a tirania, o regime de Saddam é um
dos mais eficientes governos autoritários dos tempos modernos. Ele
pode não ser popular, mas é aceito
e está no controle", escreveu Cordesman.
Força militar será claramente um
elemento da estratégia de longo
prazo. "Devemos estar preparados
para usar a força outra vez", afirmou o presidente dos EUA.
"A ameaça constante de uso da
força e, quando necessário, o uso
da força de fato são as maneiras
mais seguras de limitar o programa de armas de destruição em
massa de Saddam, de dissuadi-lo
da prática de agressões e de impedir uma nova guerra no golfo."
"Enquanto o Iraque continuar
resistindo, trabalharemos com a
comunidade internacional para
manter e fazer efetivas as sanções
econômicas", acrescentou.
Mas as sanções serão cada vez
mais difíceis de sustentar. O Iraque, sem a Unscom, poderá começar a substituir seu material militar
e a desenvolver armas de destruição em massa. A mensagem por
trás dos ataques é, em parte, de que
Saddam Hussein está lá e continuará lá por algum tempo.
É por isso que as ofensivas têm o
objetivo de causar o máximo dano
possível. Os ataques desta semana
são o começo de uma estratégia
para o futuro.
²
Tradução de
Paulo Migliaci
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