São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2001

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MULTIMÍDIA

The Independent - de Londres

Coluna que responde a cartas reflete a alma japonesa

RICHARD LLOYD PARRY
EM TÓQUIO

Seria redundante dizer que a sisuda imprensa do Japão não está entre as mais bem-humoradas do mundo. Os quatro maiores jornais do país, que estão entre os mais vendidos do planeta, são graves, confiáveis e modernos. As histórias humanas nunca foram o forte deles. Suas páginas refletem a face pública de uma sociedade rica e sofisticada, ainda que em clima de recessão.
Mas, dentro de um desses jornais, está uma pequena sala, uma câmara secreta onde as dores e os infortúnios da vida japonesa tomam voz e movimentos. Trata-se de uma coluna intitulada "Jinsei Annai", publicada quase todos os dias no maior jornal japonês, o "Yomiuri Shimbun". O título significa algo como "guia para a vida", e a coluna consiste de respostas a cartas de leitores. A seção, que tem quase 90 anos, é uma amostra semanal da angustiada alma nacional.
Os problemas expostos na coluna parecem universais e atemporais. Há casos como o de um homem decente negligenciado por sua mulher, uma mãe preocupada com seu filho trabalhador e uma jovem que fica muda diante dos homens.
"Jinsei Annai" se notabiliza por sua singular inflexão na análise dos dilemas.
A mulher negligente, por exemplo, não está passando seu tempo com amigos ou um amante. Está, como muitos compatriotas, se divertindo com um jogo chamado "pachinko". A jovem envergonhada é uma vítima de apalpadelas no metrô lotado. A zelosa mãe teme que seu filho seja vítima da morte "karoshi", provocada por excesso de trabalho.
Enquanto as colunas de aconselhamento no Ocidente são usualmente dedicadas às relações entre homens e mulheres, o relacionamento que mais aparece na coluna japonesa é aquele entre as mulheres e suas sogras.
Às vezes, colunas inteiras do "Jinsei Annai" se debruçam sobre a perseguição às noras. "Ela me manda servir chá verde para meu marido assim que ele chega", escreveu uma. "Ela também vive a pregar a importância de "sorrir todo o tempo" e "manter flores em cada cômodo". Perdi peso por viver com essa sogra malvada."
Os problemas não são tão instigantes quanto as soluções sugeridas. O "Jinsei Annai" conta com advogados e psicólogos, mas seus integrantes são, em geral, professores. A coluna é repleta de conselhos para que as mulheres se submetam aos maridos, e as crianças, aos pais.


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