São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Fuzis sem munição controlam multidão

DO ENVIADO A PETIT GOAVE (HAITI)

A distribuição de uma carga de água, ontem, num descampado perto da cidade de Leogane (50 km a oeste de Porto Príncipe), mostra que a participação dos americanos na operação vai muito além da simples garantia de segurança. Deles depende a maior parte da logística da entrega.
Por volta das 14h de ontem (17h em Brasília), a Folha presenciou a chegada de um carregamento de água por helicóptero, em seguida descarregado e transportado para uma camionete por um grupo de cem fuzileiros navais. Aos cerca de 20 soldados da Minustah presentes cabia um papel coadjuvante: o de observar a operação e dirigir o veículo a um ponto de distribuição a cerca de dois quilômetros do local.
Os americanos também formavam um cordão separando do local cerca de 200 haitianos, que observavam à distancia. Tinham à mostra fuzis M16, com o detalhe de que estavam descarregados.
"Eles [os haitianos] não sabem, mas as balas estão guardadas. É apenas um efeito moral", disse o primeiro sargento Timothy Leherke. Aparentemente, funcionava perfeitamente. A multidão mantinha uma respeitosa distância das armas de grosso calibre, desarmadas.
De repente, um comandante do destacamento dos EUA grita: "Preciso de homens atrás da caçamba daquele veículo!". A camionete estava atolada. Com dificuldade, o carro foi recolocado em movimento.
Os americanos chegaram ontem e acamparam no local, um terreno plano ideal para o pouso de helicópteros. Dizem não ter ideia de quanto tempo ficarão por ali. Afirmam também que têm balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo para controlar a multidão que se aglomerava.
"Mas acho que não será preciso. Muitos dos haitianos que estão aqui sabem que esse carregamento não é para eles. É para outras regiões mais necessitadas", disse Leherke, um dos coordenadores da operação.
Os pontos de distribuição foram selecionados pela Minustah. Na região de Leogane, quem controla as atividades são soldados do Sri Lanka. O Brasil cuida da capital.
O vice-comandante da tropa da ONU, Herath Wasantha, afirmou que a parceria vai continuar. "Nosso papel é identificar o destino final desse carregamento. Sabemos quais os locais onde ele é mais necessário e como chegar lá", disse, antes de dar o sinal para seus homens darem a partida na camionete.
Segundo ele, as pessoas que ali estavam observando ao longe não tinham a esperança de conseguir algum tipo de suprimento. "Mas eles também sabem que daqui a pouco pode chegar algum outro carregamento de alguma ONG e por isso não vão embora", afirmou.
No momento em que a Folha visitou o local, chegava o quarto carregamento de água do dia. A água seguiria para um orfanato perto de Leogane. De acordo com os americanos, a prioridade são os pontos de distribuição da própria ONU e os hospitais do país.
O oficial de relações públicas dos fuzileiros navais, Clark Carpenter, disse que as tropas americanas ainda estão colhendo informações no país caribenho para, somente depois, definirem que estratégia irão adotar no Haiti.
"Precisamos ter uma ideia melhor de como usar nossa capacidade. Temos homens especializados em situações como essa, mas temos de reconhecer o terreno", disse. (FÁBIO ZANINI)


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