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São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

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AMÉRICA LATINA

"Já era hora", diz Chávez sobre a prisão de Fernández, dirigente empresarial; oposição acusa "caça às bruxas"

Líder oposicionista venezuelano é preso

France Presse
Oposicionista participa de protesto, em Caracas, contra a detenção de Carlos Fernández


DA REDAÇÃO

O líder oposicionista Carlos Fernández, presidente da principal associação empresarial da Venezuela, foi preso na noite de anteontem em Caracas por ordem da Justiça. Fernández foi um dos líderes da greve geral de 63 dias contra o presidente Hugo Chávez, suspensa no início do mês.
A Justiça também ordenou a prisão de Carlos Ortega, presidente da CTV, a maior central sindical do país, e igualmente organizador da greve geral, mas ele não havia sido preso até o final da tarde de ontem. Em declarações ontem pela manhã, ele afirmou que não se entregaria e que passaria à "clandestinidade".
Fernández foi preso, quando jantava em uma churrascaria, por oito agentes armados da Disip (polícia política), que dispararam para o alto quando o dono do restaurante e outras pessoas presentes tentaram impedi-los.
O juiz Maikel José Moreno, do Tribunal de Controle, disse que ordenou a prisão dos dois pelos crimes de "rebelião, traição à pátria, instigação à delinquência, formação de quadrilha e devastação", supostamente cometidos durante a greve geral.
O procurador-geral, Isaías Rodríguez, disse que Fernández teve a prisão ordenada por descumprir uma convocação para depor.
O governo comemorou a detenção. "Já era hora", disse Chávez. O vice-presidente, José Vicente Rangel, disse que a oposição deve "respeitar a ação do Judiciário".
O deputado Luis Velásquez Alvaray, do partido de Chávez, disse que há uma lista de "cem pessoas" que podem ser presas por supostos crimes cometidos durante os dois meses de paralisação.
A prisão de Fernández aconteceu pouco mais de 24 horas após a assinatura de um acordo contra a violência, entre o governo e a oposição, com o compromisso de resolver as divergências políticas "de forma pacífica" e "em um clima de paz e tolerância".
A oposição acusou o governo de promover uma "caça às bruxas". "Aqui não há mais garantia para nada. Não há mais Estado de Direito", afirmou o secretário-geral da CTV, Manuel Cova. "O direito quem exerce é o amo, o dono do país, o todo-poderoso, que utiliza a Justiça para arremeter contra cada um de nós", afirmou.
Os opositores também acusam o governo de reagir à divulgação, anteontem, do resultado de uma campanha de coleta de assinaturas para pedir o encurtamento do mandato de Chávez ou a convocação de uma Assembléia Constituinte. A oposição diz ter coletado 4,4 milhões de assinaturas, mas o governo contesta esses números.
De Barcelona, o secretário-geral da OEA, César Gaviria, responsável pela mediação na mesa de negociação na qual o acordo de terça-feira havia sido firmado, disse compreender a "autonomia do Poder Judiciário", mas pediu que os direitos de Fernández fossem respeitados. "As autoridades devem assegurar que as decisões judiciais estejam cercadas de independência, imparcialidade e que estejam de acordo com o estrito cumprimento das leis e o respeito aos direitos que consagra a Constituição", afirmou.
Alvis Muñoz, vice-presidente da Fedecámaras, a associação empresarial presidida por Fernández, classificou a sua detenção de "sequestro" e pediu à população para ficar "em alerta" diante da possibilidade de novas prisões.
Milhares de opositores saíram às ruas para protestar contra a prisão, gritando "liberdade a Fernández" e "isso é uma ditadura".

Com agências internacionais


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