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Abusos e falta de liberdade ofuscam ganhos sociais
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A ausência de liberdades civis e
as violações aos direitos humanos
cometidas no Irã ofuscam certos
ganhos sociais significativos alcançados durante os 25 anos do
regime islâmico, de acordo com
analistas ouvidos pela Folha.
Em 1960, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Irã
era de 0,452; em 2001, ele chegou a
0,719 -o que permitiu que o país
deixasse o bloco dos Estados que
apresentavam um IDH baixo e
entrasse no grupo dos países de
IDH médio, segundo a ONU.
"Desde o fim da guerra contra o
Iraque [1980-88], o regime islâmico passou a investir mais em áreas
consideradas primordiais no que
concerne ao desenvolvimento humano, como educação e saúde",
explicou à Folha Olivier Roy, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (França).
"Contudo as estatísticas não
mostram outras coisas. Ainda há
enormes disparidades sociais. E,
como grande exportador, o Irã
depende muito do preço internacional do petróleo. Quando ele está baixo, os gastos do governo em
várias áreas, sobretudo em saúde
e em educação, são afetados."
Ainda de acordo com a ONU, a
pobreza, que atingia 31% da população iraniana em 1989, afetava
apenas 18% dela em 1999, o que
constituiu "o maior avanço do
país em matéria de desenvolvimento humano na década de 90".
Porém, como salientou a iraniana Shireen Hunter, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA), "ainda há graves
diferenças entre as regiões iranianas". "Na década passada, a pobreza atingia cerca de 11% dos habitantes de Teerã e 39% das pessoas na Província de Sistão e Baluquistão [vizinha do Paquistão]."
Outro ganho social do Irã diz
respeito à expansão de sua rede de
serviços públicos de saúde. Segundo a ONU, 100% da população urbana já é coberta pela rede,
enquanto 85% da rural tem acesso a serviços de saúde básicos, o
que contribuiu para o aumento
da expectativa de vida -de 61,6
anos em 1988 para 69,8 em 2001.
Ademais, ainda de acordo com
a ONU, o analfabetismo entre os
adultos iranianos caiu de 42,9%
em 1988 para 22,9% em 2001.
Mesmo assim, o Irã continua
sendo um país malvisto no Ocidente por conta das violações aos
direitos humanos cometidas no
país e da ausência de liberdades
civis e de igualdade entre os sexos.
Para as organizações de defesa
dos direitos humanos Human
Rights Watch e Anistia Internacional, ainda há graves atentados
à liberdade de expressão e ao pluralismo no país, com jornalistas e
líderes estudantis oposicionistas
sendo detidos sem provas.
Ambas também criticam a falta
de procedimentos legais justos, o
uso da tortura contra presos de
consciência, a discriminação contra minorias religiosas e étnicas e
a aplicação da pena de morte.
Todavia vale lembrar que as
manifestações de oposição ao regime vistas no Irã, nos últimos
anos, são praticamente impossíveis em outros países islâmicos.
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