São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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Abusos e falta de liberdade ofuscam ganhos sociais

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A ausência de liberdades civis e as violações aos direitos humanos cometidas no Irã ofuscam certos ganhos sociais significativos alcançados durante os 25 anos do regime islâmico, de acordo com analistas ouvidos pela Folha.
Em 1960, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Irã era de 0,452; em 2001, ele chegou a 0,719 -o que permitiu que o país deixasse o bloco dos Estados que apresentavam um IDH baixo e entrasse no grupo dos países de IDH médio, segundo a ONU.
"Desde o fim da guerra contra o Iraque [1980-88], o regime islâmico passou a investir mais em áreas consideradas primordiais no que concerne ao desenvolvimento humano, como educação e saúde", explicou à Folha Olivier Roy, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (França).
"Contudo as estatísticas não mostram outras coisas. Ainda há enormes disparidades sociais. E, como grande exportador, o Irã depende muito do preço internacional do petróleo. Quando ele está baixo, os gastos do governo em várias áreas, sobretudo em saúde e em educação, são afetados."
Ainda de acordo com a ONU, a pobreza, que atingia 31% da população iraniana em 1989, afetava apenas 18% dela em 1999, o que constituiu "o maior avanço do país em matéria de desenvolvimento humano na década de 90".
Porém, como salientou a iraniana Shireen Hunter, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA), "ainda há graves diferenças entre as regiões iranianas". "Na década passada, a pobreza atingia cerca de 11% dos habitantes de Teerã e 39% das pessoas na Província de Sistão e Baluquistão [vizinha do Paquistão]."
Outro ganho social do Irã diz respeito à expansão de sua rede de serviços públicos de saúde. Segundo a ONU, 100% da população urbana já é coberta pela rede, enquanto 85% da rural tem acesso a serviços de saúde básicos, o que contribuiu para o aumento da expectativa de vida -de 61,6 anos em 1988 para 69,8 em 2001.
Ademais, ainda de acordo com a ONU, o analfabetismo entre os adultos iranianos caiu de 42,9% em 1988 para 22,9% em 2001.
Mesmo assim, o Irã continua sendo um país malvisto no Ocidente por conta das violações aos direitos humanos cometidas no país e da ausência de liberdades civis e de igualdade entre os sexos.
Para as organizações de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch e Anistia Internacional, ainda há graves atentados à liberdade de expressão e ao pluralismo no país, com jornalistas e líderes estudantis oposicionistas sendo detidos sem provas.
Ambas também criticam a falta de procedimentos legais justos, o uso da tortura contra presos de consciência, a discriminação contra minorias religiosas e étnicas e a aplicação da pena de morte.
Todavia vale lembrar que as manifestações de oposição ao regime vistas no Irã, nos últimos anos, são praticamente impossíveis em outros países islâmicos.


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