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PROLIFERAÇÃO
Intermediário da transação do país com cientista paquistanês diz que o negócio foi pago em dinheiro vivo
Irã deu US$ 3 mi a contrabandista por peça nuclear
DA REDAÇÃO
O cientista Abdul Qadeer Kahn,
o "pai" da bomba atômica paquistanesa, vendeu ao Irã, em
meados dos anos 90, peças para a
montagem de uma centrífuga, pelas quais recebeu US$ 3 milhões,
em cédulas transportadas dentro
de duas malas.
A informação foi dada ontem
em Kuala Lumpur pela polícia da
Malásia, com base no interrogatório de um intermediário da rede
de traficantes de material nuclear.
Segundo a polícia, Buhary Syed
Abu Tahir disse ainda, ao ser interrogado, que Khan forneceu à
Líbia uma quantidade não revelada de urânio altamente enriquecido, o que está na origem do processo que pode levar à produção
de bombas atômicas.
Tahir, cidadão do Sri Lanka e
residente na Malásia, foi acusado
pelos EUA de estar no centro dessa rede clandestina de comércio.
Ainda segundo a polícia, ele revelou que, a pedido de Khan, enviou ao Irã dois contêineres, entre
1994 e 1995, com componentes de
centrífugas previamente utilizadas pelo Paquistão em seu programa nuclear.
Centrífugas são equipamentos
que separam urânio enriquecido
a partir do urânio natural. Dependendo do grau do enriquecimento, o projeto pode ser desviado
para finalidades militares.
Segundo a versão divulgada, os
US$ 3 milhões para as peças da
centrífuga contrabandeada para o
Irã foram trazidos por um iraniano de identidade não revelada. O
portador do dinheiro foi hospedado num apartamento em Dubai reservado a pessoas que faziam escala nos Emirados Árabes
Unidos para tratar de negócios
com o paquistanês Abdul Khan.
O intermediário também disse
que, em 2001, combustível nuclear foi transportado do Paquistão à Líbia em vôo especial. O governo paquistanês não comentou.
Ainda ontem, em Viena, a AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica), ligada à ONU e responsável pelo controle de instalações atômicas, disse que a Líbia
chegou a obter uma pequena
quantidade de plutônio, insuficiente, no entanto, para produzir
um artefato nuclear.
O combustível foi obtido a partir de equipamentos comprados
no mercado paralelo, disseram
diplomatas da AIEA. A Líbia renunciou, no ano passado, a seu
programa de armas de destruição
em massa e tem recebido a assistência da AIEA para o desmantelamento de suas instalações construídas na clandestinidade.
O caso do Irã, no entanto, é mais
complicado, porque o país reafirma insistentemente, contra todas
as evidências, que seu programa
nuclear se destina apenas à produção de eletricidade.
Além do Irã e da Líbia, Khan admitiu ter comercializado com a
Coréia do Norte, outro país que
está na mira dos Estados Unidos e
da AIEA pela possível dimensão
militar de seu programa atômico.
No caso da Malásia, a polícia local disse ontem que, além de peças de centrífugas já usadas, também foram negociados com o Irã
equipamentos novos pelo intermediário de Khan. Com projeto
paquistanês, a centrífuga fornecida àquele país tinha seus componentes produzidos na Malásia pela Scope, empresa que pertence a
Kahaluddin Abdullah, filho do
premiê da Malásia, Abdullah Ahmad Badawi, e a dois sócios seus.
A empresa admitiu ter recebido
a encomenda, mas disse ter sido
informada de que os tubos se destinavam a instalações industriais
de petróleo e gás.
A AIEA já havia descoberto nesta semana, numa base da Aeronáutica iraniana, centrífugas de
última geração. A descoberta foi
negada pelo porta-voz da Chancelaria iraniana, Hamid Reza Assefi. "Não é verdade", disse ele.
Com agências internacionais
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