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TRANSIÇÃO EM CUBA / SILÊNCIO OFICIAL
Havana mantém mistério sobre sucessor de Fidel
Cuba segue sem pronunciamento oficial 24 horas após anúncio da saída do ditador
Imprensa estatal reforça impressão de tranqüilidade; novo Parlamento se reunirá no domingo para consagrar próximas líderanças do país
DA REDAÇÃO
Mais de 24 horas depois do
anúncio da saída do ditador Fidel Castro de cargos do Executivo em Cuba, o governo em
Havana não havia se pronunciado formalmente ontem sobre sua sucessão ou sobre os
efeitos da decisão.
Na única reação pública de
um alto membro do governo à
saída, o presidente do Parlamento, Ricardo Alarcón, pediu
união. "Devemos nos comprometer com ele [Fidel] em que
seremos capazes de manter alta a dignidade desta pátria."
O jornal estatal "Granma"
cuidou de reforçar a imagem de
tranqüilidade, necessária ao
controle de uma transição pacífica. "Nada de ambiente apocalíptico. Se trata da continuidade de um processo irreversível
a partir de nossas próprias forças. Fidel (...) deixa os cargos
sem dramatismo. Não abandonou a luta", escreveu o jornal,
indicando que o ditador continuaria escrevendo seus artigos
sobre a revolução.
Sem sobressaltos
A indefinição, porém, parecia
afetar pouco a vida cotidiana de
Cuba, que seguiu ontem sem
grandes sobressaltos.
"Aqui está tudo igual. Acatamos a decisão de nosso comandante e não ficamos especulando nada", disse à Folha a cubana Magalis, 58, que trabalha
hospedando turistas em sua casa de Havana. E acrescentou,
com uma voz imobilista pouco
divulgada pelo mundo: "Mudança política? Não queremos
mudança nenhuma."
Outros expressam desejos de
alterações. "As mudanças terão
que chegar inevitavelmente; há
muitos problemas por resolver", disse à agência France
Presse Yailín Sánchez, 26.
"Nos parece que há mais interesse fora do que aqui em Cuba", afirmou ainda à Folha um
brasileiro radicado em Havana
que preferiu não se identificar.
"Não há nenhum burburinho
excepcional nas ruas."
Sucessão
O grau da mudança por vir só
será conhecido de fato na reunião do novo Parlamento, eleito em 20 de janeiro, no próximo domingo. Enquanto o irmão de Fidel, Raúl Castro, 76, é
o favorito para assumir a Presidência, as escolhas dos outros
30 legisladores que comporão o
Conselho de Estado, assim como a chefia do Conselho de Ministros, poderão indicar a extensão da mudança.
Fidel chefiou tanto o Conselho de Estado quanto o de Ministros desde 1976. Agora, especula-se que os cargos poderão ser entregues a duas lideranças diferentes.
Desta forma, Raúl poderia
manter-se como chefe de Estado e outro nome ocuparia a
chefia do governo. Entre os
mais cotados está o vice-presidente Carlos Lage, 56, de uma
geração intermediária e que
vem assumindo destaque internacional nos últimos anos.
Outros nomes possíveis são o
do próprio Ricardo Alarcón e o
do ministro das Relações Exteriores, Felipe Pérez Roque, 42,
ex-secretário de Fidel e considerado o dirigente mais ortodoxo da nova geração.
Ontem, enquanto os jornais
oficiais divulgavam apenas
mensagens de solidariedade ao
ditador, o programa "Mesa Redonda", da rede Televisión Nacional, se preparava para "repercutir a notícia", com transmissão às 18h30 (20h30 de
Brasília). A expectativa era de
que o "Mesa Redonda" desse
indicações do futuro das lideranças da ilha antes do próximo
domingo.
O programa é comumente
usado por Fidel para enviar "recados" -na carta de renúncia,
ele disse que "já estavam presentes, de maneira discreta,
elementos desta mensagem"
em falas divulgadas pela TV.
Com agências internacionais
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