São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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TRANSIÇÃO EM CUBA / SILÊNCIO OFICIAL

Havana mantém mistério sobre sucessor de Fidel

Cuba segue sem pronunciamento oficial 24 horas após anúncio da saída do ditador

Imprensa estatal reforça impressão de tranqüilidade; novo Parlamento se reunirá no domingo para consagrar próximas líderanças do país

DA REDAÇÃO

Mais de 24 horas depois do anúncio da saída do ditador Fidel Castro de cargos do Executivo em Cuba, o governo em Havana não havia se pronunciado formalmente ontem sobre sua sucessão ou sobre os efeitos da decisão.
Na única reação pública de um alto membro do governo à saída, o presidente do Parlamento, Ricardo Alarcón, pediu união. "Devemos nos comprometer com ele [Fidel] em que seremos capazes de manter alta a dignidade desta pátria."
O jornal estatal "Granma" cuidou de reforçar a imagem de tranqüilidade, necessária ao controle de uma transição pacífica. "Nada de ambiente apocalíptico. Se trata da continuidade de um processo irreversível a partir de nossas próprias forças. Fidel (...) deixa os cargos sem dramatismo. Não abandonou a luta", escreveu o jornal, indicando que o ditador continuaria escrevendo seus artigos sobre a revolução.

Sem sobressaltos
A indefinição, porém, parecia afetar pouco a vida cotidiana de Cuba, que seguiu ontem sem grandes sobressaltos.
"Aqui está tudo igual. Acatamos a decisão de nosso comandante e não ficamos especulando nada", disse à Folha a cubana Magalis, 58, que trabalha hospedando turistas em sua casa de Havana. E acrescentou, com uma voz imobilista pouco divulgada pelo mundo: "Mudança política? Não queremos mudança nenhuma."
Outros expressam desejos de alterações. "As mudanças terão que chegar inevitavelmente; há muitos problemas por resolver", disse à agência France Presse Yailín Sánchez, 26.
"Nos parece que há mais interesse fora do que aqui em Cuba", afirmou ainda à Folha um brasileiro radicado em Havana que preferiu não se identificar. "Não há nenhum burburinho excepcional nas ruas."

Sucessão
O grau da mudança por vir só será conhecido de fato na reunião do novo Parlamento, eleito em 20 de janeiro, no próximo domingo. Enquanto o irmão de Fidel, Raúl Castro, 76, é o favorito para assumir a Presidência, as escolhas dos outros 30 legisladores que comporão o Conselho de Estado, assim como a chefia do Conselho de Ministros, poderão indicar a extensão da mudança.
Fidel chefiou tanto o Conselho de Estado quanto o de Ministros desde 1976. Agora, especula-se que os cargos poderão ser entregues a duas lideranças diferentes.
Desta forma, Raúl poderia manter-se como chefe de Estado e outro nome ocuparia a chefia do governo. Entre os mais cotados está o vice-presidente Carlos Lage, 56, de uma geração intermediária e que vem assumindo destaque internacional nos últimos anos. Outros nomes possíveis são o do próprio Ricardo Alarcón e o do ministro das Relações Exteriores, Felipe Pérez Roque, 42, ex-secretário de Fidel e considerado o dirigente mais ortodoxo da nova geração.
Ontem, enquanto os jornais oficiais divulgavam apenas mensagens de solidariedade ao ditador, o programa "Mesa Redonda", da rede Televisión Nacional, se preparava para "repercutir a notícia", com transmissão às 18h30 (20h30 de Brasília). A expectativa era de que o "Mesa Redonda" desse indicações do futuro das lideranças da ilha antes do próximo domingo.
O programa é comumente usado por Fidel para enviar "recados" -na carta de renúncia, ele disse que "já estavam presentes, de maneira discreta, elementos desta mensagem" em falas divulgadas pela TV.


Com agências internacionais


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