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São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

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EUA invadem Iraque

Ali Haider/Associated Press
Um dos palácios de Saddam Hussein na capital iraquiana, atingido pelo segundo bombardeio americano, ontem à noite



BAIXAS
Aeronave dos EUA cai no Kuait e mata 12 britânicos e 4 americanos

INVASÃO
Tropas americanas e britânicas entram no país pela fronteira do Kuait



Jean-Marc Bouju/Associated Press
Soldados americanos se preparam para deixar o Kuait e iniciar, com os britânicos, a invasão por terra do Iraque


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

Os EUA iniciaram sua segunda rodada de ataques sobre Bagdá às 20h05 de ontem (14h05 de Brasília), atingindo com mísseis de cruzeiro pelo menos prédios dos ministérios do Planejamento, que teve dois pontos tomados por um forte fogo laranja, das Relações Exteriores, aparentemente o menos prejudicado, e da Defesa.
A informação não foi confirmada pelo governo iraquiano, que disse que o país foi atingido por mais de 70 mísseis de cruzeiro.
No início da noite, tropas americanas e britânicas invadiram o Iraque pela fronteira sul, vindas do Kuait, iniciando a fase terrestre da chamada operação Liberdade Iraquiana. O Iraque reagiu lançando mísseis contra o vizinho Kuait.
Na noite de ontem, também aconteceram as primeiras baixas da coalizão: a queda de um helicóptero no Kuait matou 12 soldados britânicos e 4 americanos.
A nova rodada de ataques a Bagdá foi mais duradoura e poderosa do que a do início da guerra, na madrugada de ontem. No auge do ataque, que durou dez minutos, o céu da capital ficou iluminado pelas cargas antiaéreas.
Até a conclusão desta edição, não havia ocorrido novas investidas à cidade, apesar de ao menos mais quatro alarmes antiaéreos.
Além dos dois alvos já citados, saía de outra área de Bagdá uma forte fumaça preta. Circulavam rumores não confirmados de que o escritório de Tarek Aziz, vice-premiê e um dos homens de confiança de Saddam Hussein, também teria sido atingido.
Todos os pontos ficam do lado esquerdo da margem do rio Tigre, onde estão localizados os principais palácios presidenciais e edifícios do governo. Oficialmente, o governo iraquiano disse que alguns alvos não militares, como um escritório de exportação e uma edificação da emissora estatal, foram destruídos.
Segundo apurou a Folha, os EUA teriam lançado nove mísseis de cruzeiro sobre a capital iraquiana no ataque inicial da madrugada de ontem. O principal alvo atingido teria sido a refinaria de petróleo do bairro de Al Rashid ou a base da Força Aérea iraquiana que fica próxima da indústria, localizadas no sul da cidade.
Os outros dois alvos seriam o Aeroporto Internacional de Bagdá, conhecido como Saddam International, e uma construção vizinha a um dos cerca de 50 palácios presidenciais que se espalham pela capital. Nenhum dos três foi confirmado pelo governo.
Segundo Bagdá, quatro militares morreram no primeiro dia.
Às 8h40 (2h40 de Brasília), a TV iraquiana exibiu imagens do presidente, tentando acalmar a população, condenar o ataque e mostrar aos seus inimigos que, sim, ainda estava vivo. Ligando mais uma vez o ataque a "interesses sionistas", Saddam disse que "está no destino do Islã a vitória contra os infiéis".
Usando óculos de lentes grossas, uniforme militar e boina preta e lendo de um maço de folhas escritas à mão, parecia envelhecido e cansado, diferentemente da imagem vigorosa que mostrava nos últimos dias pré-guerra.
Os EUA questionaram se a imagem era mesmo de Saddam.
Saddam chamou ainda Bush de "criminoso pequeno Bush".
Vinte minutos depois de terminado o discurso de Saddam e três outras vezes depois, às 20h40 e 21h30 e 0h de hoje, sempre de acordo com os horários locais, as sirenes antiaéreas soaram de novo na cidade, alertando para o perigo de novos ataques. "Vamos ganhar essa guerra enquanto membros da nação árabe e reforçar a união no Oriente Médio", disse à Folha o motorista Alaá Sadoon, depois de ouvir o discurso.
Depois de se recusar a dar informações oficiais aos jornalistas presentes em Bagdá -que sofrem um controle rígido, são vigiados 24 por dia, não podem caminhar livremente pela cidade nem deixar um dos três hotéis designados a não ser acompanhados por um guia indicado pelo Ministério da Informação-, o governo iraquiano decidiu levar dois grupos de repórteres aos lugares atingidos, em que supostas vítimas civis dariam entrevista.
No meio do caminho, porém, ordens superiores mandaram suspender as visitas, e um surreal "city tour" tomou lugar. Assim, poucas horas depois de começada a guerra, a imprensa mundial foi obrigada a passar mais de uma hora passeando em dois ônibus pela capital iraquiana num trajeto escolhido para evitar os locais em que os mísseis teriam caído.
Depois, instado pelo repórter fotográfico Juca Varella a levar a reportagem da Folha até o alvo atingido no sul da cidade, o motorista disse que seria considerado um espião pelo governo e poderia ser enforcado se fizesse isso.
Em Bagdá, a administração municipal optou por seguir sem toque de recolher e sem blecaute. Mesmo a decisão de fechar as portas das lojas tomada pelos proprietários foi desestimulada oficialmente. A intenção é reforçar o máximo possível o clima de normalidade, negado veementemente pelo cair das bombas.


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