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GUERRA PELA NOTÍCIA
RTP mostrou imagens dos bombardeios três minutos antes da rede dos EUA
TV estatal portuguesa fura a CNN
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Na TV, deu zebra na cobertura
do início da guerra dos EUA contra o Iraque. O primeiro enviado
especial a Bagdá a entrar no ar ao
vivo, com imagens das explosões,
foi Carlos Fino, da estatal portuguesa RTP. Já a rede norte-americana CNN, líder internacional de
notícias, só mostrou os bombardeios três minutos depois.
Quando os ataques à capital iraquiana se iniciaram, o jornalista
português estava na varanda do
hotel Palestine, no centro da cidade, transmitindo reportagem por
videofone (aparelho leve, que permite a transmissão ao vivo, conectando a câmera a um satélite).
Segundo o canal (disponível no
Brasil pela DirecTV e Sky), Fino
entrou no ar às 23h33 (hora de
Brasília). Ele estava no local com o
repórter cinematográfico Nuno
Patrício. Depois do susto com o
barulho das bombas, os dois passaram a mostrar a cidade de vários ângulos, com imagens precárias e tremidas, mas raras nas TVs
concorrentes. "Foi sorte aliada a
planejamento", disse à Folha Ana
Gaivotas, assessora de imprensa.
Deixando transparecer certa desorganização nos primeiros minutos da ação dos EUA, a CNN só
conseguiu transmitir cenas da cidade às 23h36, ainda sem seu correspondente no local, Nic Robertson, que entraria em seguida.
Tão inusitada quanto a vantagem de Portugal foi a consequência dela para a televisão brasileira.
A Globo, dona da maior estrutura
para a guerra, acabou levando um
furo da TV Cultura. Com dificuldades orçamentárias, a emissora
pública de São Paulo nem pôde
sonhar em enviar equipes ao Iraque, mas estava retransmitindo
justamente os sinais da RTP.
"Como não temos recursos, não
pudemos comprar os serviços da
CNN. Tínhamos tentado um
acordo com a BBC, também estatal, que não forneceu suas imagens gratuitamente. Estávamos
apenas com a RTP, que trabalha
há muito tempo com a TV Cultura, por meio de permutas", disse o
diretor de jornalismo, Marco Antônio Coelho. "Eles estavam com
um material bárbaro, melhor que
o das concorrentes", disse.
A disputa pelo furo jornalístico
na guerra foi acirrada ontem. Duas TVs inglesas, a Sky
News e a ITV, concorriam ao mérito de ter colocado as primeiras
imagens das explosões no ar, às
23h30 (nesse caso, diferentemente da RTP, sem enviado especial).
De acordo com reportagem do
site do jornal inglês "The Guardian", a Sky declarou ter iniciado
a transmissão 30 segundos antes
de sua concorrente. A ITV, no entanto, negou, dizendo que isso seria impossível, já que eles estariam com Bagdá ao vivo no exato
momento da primeira explosão.
Nos Estados Unidos, pelo menos, a CNN conseguiu chegar antes de sua forte concorrente local,
a Fox News. Expulso do Iraque
por sua visão "americanizada", o
canal de notícias, que cresce desde
os ataques terroristas a Nova
York, mostrou Bagdá três minutos após a CNN, às 23h39.
A guerra também começou
com uma gafe na TV. A BBC (no
Brasil pela Net, DirecTV e Sky) e o
serviço da agência Associated
Press deixaram "vazar" imagens
do presidente George W. Bush
sendo penteado, enquanto se preparava para o discurso no qual
anunciou o início dos ataques. Algumas emissoras brasileiras, como a Globo, estavam com esse sinal no momento, o que deixou a
âncora Ana Paula Padrão nitidamente confusa.
Na primeira noite de cobertura
da guerra, a Fox News venceu a
guerra de audiência, com 5,8 milhões de espectadores (entre o início da guerra, por volta das 23h30
e as 6h, horário do Brasil). A CNN
teve 5 milhões de espectadores e a
MSNBC, 2,3 milhões.
Colaborou DANIEL CASTRO, colunista da Folha
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