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São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

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GUERRA PELA NOTÍCIA

RTP mostrou imagens dos bombardeios três minutos antes da rede dos EUA

TV estatal portuguesa fura a CNN

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na TV, deu zebra na cobertura do início da guerra dos EUA contra o Iraque. O primeiro enviado especial a Bagdá a entrar no ar ao vivo, com imagens das explosões, foi Carlos Fino, da estatal portuguesa RTP. Já a rede norte-americana CNN, líder internacional de notícias, só mostrou os bombardeios três minutos depois.
Quando os ataques à capital iraquiana se iniciaram, o jornalista português estava na varanda do hotel Palestine, no centro da cidade, transmitindo reportagem por videofone (aparelho leve, que permite a transmissão ao vivo, conectando a câmera a um satélite).
Segundo o canal (disponível no Brasil pela DirecTV e Sky), Fino entrou no ar às 23h33 (hora de Brasília). Ele estava no local com o repórter cinematográfico Nuno Patrício. Depois do susto com o barulho das bombas, os dois passaram a mostrar a cidade de vários ângulos, com imagens precárias e tremidas, mas raras nas TVs concorrentes. "Foi sorte aliada a planejamento", disse à Folha Ana Gaivotas, assessora de imprensa.
Deixando transparecer certa desorganização nos primeiros minutos da ação dos EUA, a CNN só conseguiu transmitir cenas da cidade às 23h36, ainda sem seu correspondente no local, Nic Robertson, que entraria em seguida.
Tão inusitada quanto a vantagem de Portugal foi a consequência dela para a televisão brasileira. A Globo, dona da maior estrutura para a guerra, acabou levando um furo da TV Cultura. Com dificuldades orçamentárias, a emissora pública de São Paulo nem pôde sonhar em enviar equipes ao Iraque, mas estava retransmitindo justamente os sinais da RTP.
"Como não temos recursos, não pudemos comprar os serviços da CNN. Tínhamos tentado um acordo com a BBC, também estatal, que não forneceu suas imagens gratuitamente. Estávamos apenas com a RTP, que trabalha há muito tempo com a TV Cultura, por meio de permutas", disse o diretor de jornalismo, Marco Antônio Coelho. "Eles estavam com um material bárbaro, melhor que o das concorrentes", disse.
A disputa pelo furo jornalístico na guerra foi acirrada ontem. Duas TVs inglesas, a Sky News e a ITV, concorriam ao mérito de ter colocado as primeiras imagens das explosões no ar, às 23h30 (nesse caso, diferentemente da RTP, sem enviado especial).
De acordo com reportagem do site do jornal inglês "The Guardian", a Sky declarou ter iniciado a transmissão 30 segundos antes de sua concorrente. A ITV, no entanto, negou, dizendo que isso seria impossível, já que eles estariam com Bagdá ao vivo no exato momento da primeira explosão.
Nos Estados Unidos, pelo menos, a CNN conseguiu chegar antes de sua forte concorrente local, a Fox News. Expulso do Iraque por sua visão "americanizada", o canal de notícias, que cresce desde os ataques terroristas a Nova York, mostrou Bagdá três minutos após a CNN, às 23h39.
A guerra também começou com uma gafe na TV. A BBC (no Brasil pela Net, DirecTV e Sky) e o serviço da agência Associated Press deixaram "vazar" imagens do presidente George W. Bush sendo penteado, enquanto se preparava para o discurso no qual anunciou o início dos ataques. Algumas emissoras brasileiras, como a Globo, estavam com esse sinal no momento, o que deixou a âncora Ana Paula Padrão nitidamente confusa.
Na primeira noite de cobertura da guerra, a Fox News venceu a guerra de audiência, com 5,8 milhões de espectadores (entre o início da guerra, por volta das 23h30 e as 6h, horário do Brasil). A CNN teve 5 milhões de espectadores e a MSNBC, 2,3 milhões.


Colaborou DANIEL CASTRO, colunista da Folha


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