São Paulo, sábado, 21 de março de 2009 |
Próximo Texto | Índice
Obama oferece "novo dia" na relação entre EUA e Irã
Presidente aproveita feriado de Ano Novo persa para mandar mensagem ao país
SÉRGIO DÁVILA DE WASHINGTON Pela primeira vez em quase 30 anos, um presidente americano gravou vídeo conciliador dirigido ao povo do Irã, país com o qual os EUA não têm relações diplomáticas. Na madrugada de ontem, Barack Obama divulgou uma mensagem-surpresa por ocasião do Nowruz, feriado iraniano que marca a chegada da primavera e o Ano Novo persa, atualmente 1388. Dizendo que "gostaria de falar diretamente ao povo e aos líderes da República Islâmica do Irã", Obama menciona "união", "novo começo" e "novo dia" entre os países. "Por quase três décadas as relações entre nossas nações têm estado em atrito", afirma. "Porém, neste feriado, recordamos a humanidade que nos une." Obama reforça assim a política defendida na campanha, de engajar internacionalmente o regime dos aiatolás e evitar que Teerã use o domínio de tecnologia nuclear para a construção de armas. "Temos sérias diferenças que foram aumentando com o tempo", diz, dirigindo-se aos líderes locais. "Meu governo está agora comprometido com uma diplomacia que aborde todo o espectro de assuntos entre nós, e em buscar laços construtivos entre EUA, Irã e a comunidade internacional. Esse processo não avançará com ameaças." Xadrez israelense Horas depois, o presidente de Israel, Shimon Peres, também colocou no ar uma mensagem dirigida ao povo iraniano em que pede que os iranianos "voltem ao mundo iluminado". Israel é o principal aliado dos EUA na região e, desde a eleição de Mahmoud Ahmadinejad, vê recrudescer a retórica de Teerã, que prega sua destruição. Não ficou claro se a mensagem de Peres foi coordenada com a de Obama ou foi uma reação a ela. Indagado, o porta-voz da Casa Branca disse que teria de "checar" mas afirmou que os países aliados foram avisados do vídeo de Obama na noite de quinta-feira. De qualquer maneira, o esforço duplo está sendo encarado como bom sinal por analistas. "Israel tenta claramente sair da situação de isolamento internacional parcial em que se colocou desde o conflito de Gaza", disse à Folha Abbas Milani, do Centro de Estudos Iranianos de Stanford. Já para Trita Parsi, diretor do Conselho Nacional Iraniano-Americano, Obama rompe o padrão do antecessor, George W. Bush, ao se dirigir tanto ao povo iraniano como a seus líderes -em 2002, Bush qualificara o país como parte do "eixo do mal". "Obama não está tentando utilizar as divisões internas existentes", disse Parsi. Ainda assim, o consenso é que é pouco provável que Washington faça gestos que ultrapassem o valor simbólico antes das eleições presidenciais iranianas de junho, quando a Casa Branca espera que Ahmadinejad seja derrotado nas urnas. Poeta e entrelinhas Em sua mensagem, Obama mandou outros recados nas entrelinhas. Chama o país de República Islâmica do Irã, por exemplo, uma indicação de que não pretenderia mudança de regime no país. E cita versos do venerado poeta persa Saadi, que viveu entre os séculos 12 e 13, que pregava a igualdade entre os homens. Apesar da reação dúbia das lideranças, na semioficial Press TV o vídeo obamista era tema de boa parte das reportagens do dia. Uma delas trazia o título "Obama marca pontos com mensagem iraniana"; em outro, lia-se "povo iraniano não dará as costas para os Estados Unidos". E, provavelmente pela primeira vez, um link num site oficial iraniano mandava o internauta ao site oficial da Casa Branca. Folha Online Assista ao vídeo de Obama e leia sua tradução www.folha.com.br/090791 Próximo Texto: Susto nuclear: Submarino e navio dos EUA se chocam Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |