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China prende militar crítico a massacre na Paz Celestial
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O ex-militar chinês Zhang
Shijun, 40, foi preso ontem por
divulgar uma carta que enviou
ao presidente Hu Jintao pedindo investigações sobre o massacre de estudantes na Praça da
Paz Celestial em 1989.
Zhang estava em um dos batalhões que marchou rumo à
principal praça de Pequim na
madrugada de 4 de junho. Estimativas conservadoras citam
400 estudantes desarmados
mortos pelo Exército.
Na terça, ele dissera em entrevista à agência Associated
Press que a carta buscava relembrar o movimento e "limpar a consciência daqueles
eventos trágicos". "Sinto que
meu espírito está preso naquela noite", declarou. Na quarta, a
polícia o interrogou, pedindo
que não falasse com jornalistas
estrangeiros. Na madrugada de
ontem, segundo a organização
Observatório de Direitos Civis,
ele foi detido em sua casa em
Tengzhou, na Província de
Shandong, norte, onde vive
com a mulher e a filha.
Pouco depois do massacre,
Zhang pedira para deixar as
Forças Armadas, pois "não estava preparado para lutar contra civis". Em 1992, após entrar
em um grupo de discussão sobre abertura política, foi preso
e condenado a três anos de trabalhos forçados em um campo.
Na entrevista antes da prisão, ele revela que em abril de
1989 sua divisão de infantaria
partiu para Pequim, onde os estudantes já acampavam na praça. Os militares ficaram de
prontidão em um subúrbio, até
que, no dia 3 de junho, chegou a
ordem de "desocupar a praça".
Zhang servia como médico e
estava desarmado, diz. Mas ele
se nega a dar detalhes "muito
sensíveis" do que viu. Há relatos do fuzilamento de estudantes acampados, mas os arquivos
oficiais do evento nunca foram
abertos pelas autoridades.
Sob o recrudescimento da repressão no país ante a aproximação do 20º aniversário do
massacre, o dissidente afirmou
desejar que seu exemplo inspire a outros ex-soldados. Ele disse ainda buscar compensação
pelo tempo preso e querer mais
abertura política. "Naquela
época, sentíamos que o que
aconteceu seria discutido logo.
Mas a democracia parece cada
vez mais longe", declarou à AP.
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