São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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EDUCAÇÃO
San Francisco (Costa Oeste) exige que autores não-brancos constem nas bibliografias para secundaristas
Aluno nos EUA lerá livros multiétnicos

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
em São Paulo

A cidade de San Francisco (Costa Oeste dos EUA) se tornou a primeira no país a exigir que todos os estudantes de segundo grau de suas escolas públicas tenham autores não brancos incluídos na lista anual de leituras obrigatórias.
A medida foi tomada pelo Conselho Municipal de Educação após semanas de vigorosos debates, que transbordaram para a agenda nacional e realçaram uma vez mais a grande tensão das relações entre as raças dos norte-americanos.
A controvérsia teve início em fevereiro, quando dois integrantes negros do conselho, Steve Phillips e Keith Jackson, propuseram determinação para que 70% dos livros requeridos aos estudantes de segundo grau de San Francisco fossem de autoria de não-brancos.
Phillips, 34, militante do movimento estudantil na Universidade de Stanford nos anos 80, disse ter tido a idéia quando viu na lista de leituras do ano passado duas obras que ele considera desprezíveis: "As Aventuras de Hucleberry Finn", do norte-americano Mark Twain (1835-1910), um livro "racista", segundo Phillips, e "Os Contos de Canterbury", do inglês Geoffrey Chaucer (1346-1400), "classista", na sua definição.
"Acho que é preciso jogar fora tudo que é velho", argumentou Phillips. "Se apenas 10% dos estudantes da cidade são brancos, não faz sentido que mais do que 30% dos livros lidos por eles tenham sido escritos por autores brancos".
Dos 19.215 estudantes das escolas públicas de segundo grau de San Francisco, 43% são asiático-americanos, 19% hispânicos, 16% negros, 12% brancos, 2% índios e 8% mestiçcos. "Esses alunos precisam conhecer sua cultura, não apenas a dos homens brancos mortos", justificou Phillips.
Juanita Wells, outra integrante do conselho, pediu a Phillips que incluísse em sua proposta a obrigatoriedade de se colocar pelo menos um livro escrito por homossexuais na relação. Mas o autor da proposição recusou a idéia.
O presidente do conselho, Bill Rojas, se opôs à proposta. Ele argumentou que, dos dez livros, cada estudante já tem o direito de escolher três e que, na média, um aluno de segundo grau em San Francisco lê seis livros de autores brancos, um de chineses, um de hispânicos e dois de negros.
Mesmo assim, Phillips insistiu em que sua proposição fosse votada. Dos sete integrantes, quatro manifestavam simpatia por ela e as chances de aprovação eram consideradas boas. Mas, depois de quatro horas de discussão que se estenderam até a madrugada de ontem (horário de Brasília), eles acabaram aprovando uma sugestão menos radical que, sem estabelecer quotas, apenas determina que a lista inclua autores de outras raças além da branca.



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