|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UNIÃO EUROPÉIA
Medida põe em risco o futuro do premiê britânico e o da Carta; analistas e "eurodefensores" vêem "manobra política"
Blair sofre ataque após pedir plebiscito sobre Carta da UE
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O premiê britânico, Tony Blair,
prometeu ontem convocar um
plebiscito sobre a futura Constituição européia, uma aposta política que poderá pôr em risco seu
próprio futuro e o da Carta. A medida foi bastante criticada por altos funcionários da União Européia, por deputados europeus, pela imprensa alemã e pela francesa.
O premiê afirmou que os "eurocéticos" e os "eurodefensores"
(que incluem seu governo), deverão ter a oportunidade de expor
suas idéias. Todavia, segundo sua
proposta, isso só deverá ocorrer
após um debate parlamentar.
"Deixemos o povo ter a palavra
final", declarou Blair no Parlamento. Anteriormente, ele dizia
que a adoção da Constituição européia não alteraria as relações do
Reino Unido com a UE e que, portanto, o plebiscito não era necessário. Com isso, o líder da oposição, o conservador Michael Howard -que é favorável à consulta
popular-, aproveitou a chance
para afirmar que "ninguém mais
acreditará no premiê".
Crê-se que os líderes europeus
cheguem a um consenso sobre a
Constituição na cúpula de junho,
pois o novo governo espanhol (do
socialista José Luis Rodríguez Zapatero) e a Polônia, que bloqueavam as negociações, já indicaram
que buscarão um acordo.
Blair não estabeleceu nenhuma
data para a realização da votação,
mas tudo indica que ela não ocorrerá antes da eleição legislativa
britânica, que deverá ser realizada
em maio de 2005. Assim, de acordo com analistas consultados pela
Folha, a atitude de Blair parece ter
como base razões domésticas.
"O premiê quer evitar que a
próxima eleição geral britânica se
torne um referendo sobre a Constituição da UE, o que poderia prejudicar seu Partido Trabalhista.
Contudo sua aposta é arriscada.
Se os britânicos se mostrarem
contrários à Constituição, o futuro político de Blair e a Carta européia estarão ameaçados", analisou Michael Gallagher, professor
na Universidade de Dublin.
"Afinal, mesmo que os trabalhistas vençam a eleição em 2005,
Blair será compelido a deixar o
seu posto se o "não" vencer o plebiscito e a passar o bastão a [Gordon] Brown [ministro das Finanças]. No caso europeu, o "não" poderia significar o colapso da
Constituição, visto que, se um dos
países não adotá-la, como a Carta
poderá entrar em vigor?", acrescentou Gallagher. Em tese, os 25
atuais e futuros Estados-membros da UE têm de aprová-la.
A Dinamarca, a Irlanda e Luxemburgo já anunciaram a realização de um plebiscito. A Holanda, a Polônia e a Espanha provavelmente o façam. Isso faz aumentar a pressão sobre os líderes
franceses, alemães e italianos, que
não querem a consulta popular.
Não faltaram reações à intenção
britânica. A revista alemã "Der
Spiegel" classificou a decisão de
Blair de um "verdadeiro golpe"
no projeto europeu. Para Ingo
Friedrich, vice-presidente do Parlamento Europeu, "o chefe de governo de um importante país europeu não deveria pôr em risco a
Constituição por conta de cálculos políticos domésticos".
Segundo Michael Kreile, da
Universidade Humboldt (Alemanha), Blair também põe em risco a
influência britânica sobre o bloco.
"Se o "não" prevalecer no plebiscito, Londres perderá boa parte de
sua legitimidade e de sua força em
futuras negociações", explicou.
A vitória no plebiscito não será
fácil para Blair e para seus aliados
pró-Europa. Pesquisa anteontem
no tablóide "The Sun" mostrou
que 53% dos britânicos são contrários à adoção da Constituição
européia; só 16% são favoráveis.
Para Gallagher, Blair, que "tem
grande talento político, talvez
pretenda mergulhar na campanha pró-Constituição para desviar a atenção do eleitorado da
Guerra do Iraque", tema que poderia minar a estreita vantagem
que tem sobre os conservadores.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Outro lado: Ex-presidente diz que não sabia da decisão do juiz Próximo Texto: Visita: Arafat agradece a Lula por embaixador Índice
|