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TERROR
Presos invocam leis americanas
Supremo dos EUA analisa Guantánamo
DE NOVA YORK
No que está sendo considerado
o primeiro teste legal para a política antiterror do governo George
W. Bush, a Suprema Corte dos
EUA ouviu ontem argumentos
sobre a possibilidade de os presos
estrangeiros em Guantánamo recorrerem a cortes americanas para questionarem sua prisão.
Na próxima semana, será ouvido outro recurso relacionado à
política de Bush -o de cidadãos
americanos detidos acusados de
serem "combatentes inimigos".
Os juízes se dividiram ontem,
em suas declarações, entre favoráveis e contrários ao argumento
do governo de que a lei americana
não se aplica aos prisioneiros. As
decisões só devem sair em junho.
O advogado dos presos, John
Gibbons, afirmou que os EUA estão criando um "encrave sem lei"
na base americana em Cuba, onde
mais de 600 pessoas de 44 países
estão detidas sem acesso à Justiça
americana. Para Gibbons, "está
claro há 215 anos" que pessoas detidas pelo governo americano podem recorrer às cortes dos EUA.
A maioria dos prisioneiros de
Guantánamo foi detida durante a
Guerra do Afeganistão, em 2001.
Dois foram formalmente acusados e têm advogados, outros quatro têm apenas advogados, e o
resto é mantido detido sem acusação específica ou representação. A questão posta à Suprema
Corte é se esses réus podem recorrer à Justiça americana.
O advogado do governo, Theodore Olson, argumentou que a lei
federal que permite a prisioneiros
recorrerem de sua detenção não
se aplica a Guantánamo. Segundo
ele, por estarem em Cuba, os presos se encontram fora do alcance
da Justiça norte-americana.
Um dos juízes, Stephen Breyer,
argumentou que, tirando a base
do alcance da Justiça, o presidente
teria poder quase absoluto sobre
Guantánamo, o que contrariaria
o princípio de equilíbrio entre os
Poderes. "O Executivo ficaria livre
para fazer o que bem entendesse."
Para Gibbons, os EUA detêm
controle real sobre o território da
base, e, portanto, as leis americanas se aplicam lá. Além disso, disse ele, os EUA freqüentemente
alegam soberania sobre o território de suas bases no exterior.
O juiz William Rehnquist, mais
conservador, afirmou que os direitos de recurso a cortes americanas não podem ser estendidos ao
"campo de batalha".
A administração Bush defende
ter o direito de manter esses presos e interrogá-los pelo tempo
que for necessário. Defende ainda
que os detidos não são prisioneiros de guerra tradicionais e, portanto, a lei internacional para prisioneiros de guerra não se aplica.
(RAFAEL CARIELLO)
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