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ITÁLIA
Primeiro-ministro recebe apoio do presidente e tentará manter-se no posto
Berlusconi renuncia, mas promete fazer novo governo
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O premiê da Itália, Silvio Berlusconi, renunciou ontem, mas,
atendendo a um pedido do presidente Carlo Azeglio Ciampi, prometeu tentar formar uma nova
coalizão governamental com os
mesmos aliados políticos (de centro-direita e de direita), numa
tentativa de evitar a realização de
eleições legislativas antecipadas.
"Aceito o desafio de formar um
novo governo", declarou Berlusconi, cujo governo é o mais longo
desde a Segunda Guerra. Ele disse
ainda que já recebera o apoio dos
quatro partidos de sua coalizão
para montar um novo gabinete.
Sua coalizão entrou em crise depois da derrota nas eleições regionais ocorridas no início do mês,
quando o centro-direita perdeu 11
das 13 regiões em disputa. As duas
únicas que ele conseguiu manter
sob seu controle foram a Lombardia e Vêneto, no norte do país.
Segundo especialistas consultados pela Folha, os problemas da
coalizão de Berlusconi estão justamente nos interesses geográficos dos partidos que a compõem.
"A Força Itália [FI, partido do
premiê] e a Liga Norte [LN] são
mais fortes no norte do país e vêm
ditando as políticas do governo
desde que Berlusconi assumiu o
poder, em 2001", apontou o analista político Enrico Caiano.
"Já a União Democrata Cristã
[UDC] e a Aliança Nacional [AN]
são fortes no centro e sobretudo
no sul da Itália. Para elas, os outros partidos do governo privilegiam o norte. Como a derrota nas
eleições do início do mês explicitaram o descontentamento do
eleitorado do sul com as políticas
governamentais, a UDC e a AN
chegaram à conclusão de que estava na hora de mostrar a Berlusconi e a seus aliados da FI e da LN
que o sul precisa ser ouvido."
Na verdade, trata-se quase de
uma questão de sobrevivência para a UDC e para a AN. Afinal, elas
têm pouco respaldo popular no
norte e sabem que, se a situação se
agravar no sul, elas perderão muitas cadeiras no Parlamento e, portanto, influência. A AN e particularmente a UDC buscam, assim,
limitar os danos gerados por políticas governamentais que, para
elas, minam o crescimento e o desenvolvimento do sul e do centro.
"A Itália cresceu muito pouco
desde 2001, e sua produção industrial encolheu nos últimos quatro
anos. Isso prejudica as perspectivas de melhora econômica para a
maioria da população. Ademais, a
política de redução de impostos
do governo favorece principalmente o norte e não estimula o
crescimento do sul. Isso tudo vem
irritando os democrata-cristãos e
os nacionalistas, que tentam sobreviver politicamente", analisou
Jean-Paul Zuanon, especialista
em Itália da Fundação Nacional
de Ciência Política (França).
Outro projeto de Berlusconi
que desagrada à UDC e à AN é a
chamada "reforma federalista",
que, se for aprovada, dará mais
poder às regiões em detrimento
do governo central. Vale lembrar
que a UDC e a AN são mais centralizadoras, enquanto a FI e a LN
preferem um maior federalismo.
"A reforma aumentará mais a
disparidade já existente entre o
norte e o sul, o que também é malvisto pelos eleitores sulistas. Com
isso, a UDC exige a retirada desse
projeto da agenda do governo para continuar na coalizão. Isso não
ocorrerá, mas o projeto deverá ser
reformado", previu Caiano.
Oposição dividida
Com as eleições legislativas previstas para maio ou para junho de
2006, o quadro parece ser sombrio para o centro-direita. Embora tenha feito campanha conjunta
para as eleições regionais, todavia, a oposição de centro-esquerda também se encontra relativamente dividida, o que prejudica
suas chances de vitória em 2006.
"Há uma ala da oposição, liderada por [Romano] Prodi, que
prega uma real guinada à esquerda, buscando atrair até os eleitores mais extremistas. E existe outra ala, capitaneada por [Francesco] Rutelli, que prefere manter a
coalizão oposicionista no centro-esquerda, tentando seduzir o eleitorado de centro. Resta saber até
que ponto essas divisões persistirão ou se o pragmatismo político
triunfará", avaliou Zuanon.
Finalmente, cabe ressaltar que
ainda não é possível decretar o
fim da "era Berlusconi". Este possui muito dinheiro -é o homem
mais rico da Itália- e controla a
maior parte dos meios de comunicação. Dependendo do estado
de espírito do eleitorado, ele poderá, portanto, ter um retorno extraordinário ou chegar às eleições
de 2006 com péssimos índices de
popularidade, segundo Caiano.
Por ora, as pesquisas dão cinco
pontos percentuais de vantagem
para a oposição, de acordo com o
diário "Corriere della Sera".
Colaborou Massimo Gentile, editor de Arte
Com agências internacionais
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