São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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Flexibilização do yuan ainda divide potências

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente chinês, Hu Jintao, prometeu a seu colega norte-americano, George W. Bush, maior flexibilidade na cotação do yuan, mas é pouco provável que isso signifique o abandono da estratégia de valorização gradual da moeda adotada por Pequim a partir de julho de 2005.
Depois de se reunir com Bush por menos de uma hora, Hu declarou que seu país continuará "avançando na reforma do regime cambial", declaração que ficou aquém das exigências dos Estados Unidos."Esperamos que valorizem sua moeda", afirmou Bush aos mesmos jornalistas que escutavam o presidente chinês.
Na quarta-feira, Hu havia descartado mudanças radicais no valor do yuan. As autoridades de Pequim têm repetido desde o início do ano passado que estão dispostas a ampliar a influência das forças de mercado na cotação do yuan. Mas isso não levou a valorizações expressivas.
No dia 14 de março de 2005, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, já havia prometido o que Hu repetiu ontem: "O nosso objetivo é ter um regime cambial flutuante, baseado nas forças de mercado de oferta e demanda", disse. Nem Hu nem Wen fixaram prazos para a realização da mudança.
Quatro meses depois da declaração do primeiro-ministro, a China abandonou o regime de câmbio fixo que existiu por um década e permitiu a apreciação de 2,1% de sua moeda em relação ao dólar. Desde então, houve valorização adicional de cerca de 1%.

Vantagem desleal
Industriais norte-americanos afirmam que a moeda chinesa está artificialmente desvalorizada em ao menos 15%. Alguns chegam a pedir apreciação de 30%. Segundo eles, a manutenção do yuan nos patamares atuais dá aos chineses vantagem desleal no comércio internacional, já que torna seus produtos mais baratos que os de seus concorrentes.
No ano passado, os Estados Unidos tiveram déficit recorde de US$ 202 bilhões no comércio bilateral com a China.
Para tentar reduzir o descontentamento norte-americano, Hu prometeu ontem derrubar barreiras à importação e estimular a demanda doméstica. Mais compras dos Estados Unidos teriam o efeito de reduzir o déficit do país.
Antes da visita de Hu, uma comitiva de empresários chineses fechou contratos de compra de US$ 16 bilhões de produtos norte-americanos. Só a Boeing vendeu 80 aviões, ao custo de US$ 4,6 bilhões. A esperança dos chineses é que esses gestos diminuam a tensão entre os dois países.
A China se recusa a realizar movimentos cambiais bruscos sob o argumento de que as empresas e o sistema bancário do país não estão preparados para isso. "Flutuações cambiais expressivas terão grande impacto na estabilidade econômica e financeira da China e, por isso, não atendem aos interesses fundamentais da China", declarou o "Diário do Povo", jornal do Partido Comunista logo depois da valorização de julho.


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