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Ahmadinejad tumultua conferência da ONU
Ataque do presidente do Irã a Israel provoca saída de europeus de plenário do encontro que revisará metas contra o racismo
Iraniano diz que Israel é racista e país chama seu embaixador na Suíça; mais uma vez, conflito no Oriente Médio sequestra discussões
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A Conferência contra o Racismo das Nações Unidas começou ontem marcada por
confronto e polêmica, com um
discurso do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad,
que provocou protesto e a retirada coletiva dos representantes da União Europeia.
A debandada dos diplomatas
e a tensão provocadas pelos
ataques de Ahmadinejad a Israel causaram desconforto entre os organizadores da reunião, a primeira da ONU a tratar do racismo em oito anos.
O encontro se esvaziara ainda antes da abertura. Vários
países, entre eles EUA. Israel e
quatro membros da União Europeia, boicotaram a conferência, temendo que ele servisse a
ataques antissemitas.
Ontem Israel convocou de
volta o seu embaixador na Suíça em protesto contra o tratamento de chefe de Estado recebido por Ahmadinejad.
O secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, chegou a
reunir-se com o líder iraniano
antes de seu discurso, para pedir moderação. O objetivo era
evitar que a agenda fosse sequestrada pelo conflito no
Oriente Médio e o confronto
entre o mundo islâmico e o Ocidente, como ocorreu em 2001,
na Conferência contra o Racismo de Durban (África do Sul).
Mas o esforço foi em vão.
Único chefe de Estado presente
em Genebra e primeiro representante a discursar, Ahmadinejad mal havia começado a falar quando foi interrompido
por gritos de "racista" e "vergonha" de ativistas judeus.
Usando peruca colorida, um
deles foi ao pódio e atirou narizes vermelhos de palhaço em
Ahmadinejad. "É para mostrar
que uma conferência contra o
racismo aberta pelo maior racista só pode ser tratada como
circo", diria mais tarde um dos
manifestantes, o estudante
francês Jeremy Cohen.
Sorridente, Ahmadinejad
não pareceu se abalar, e logo
exibia a sua conhecida retórica
contra Israel e de negação do
Holocausto. "Após a Segunda
Guerra, eles recorreram à
agressão militar para deixar
uma nação inteira sem lar, sob
o pretexto dos sofrimentos judeus e da ambígua e dúbia
questão do Holocausto", disse.
No momento em que o presidente iraniano se referiu a Israel como "um regime totalmente racista", os diplomatas
da UE em bloco deixaram a Assembleia da ONU em Genebra.
"É totalmente injusto e inaceitável usar os judeus e Israel
como bodes expiatórios", disse
à Folha o embaixador da França, François Zimeray, o primeiro a se levantar.
A delegação do Brasil, chefiada pelo ministro da Igualdade
Racial, Edson Santos, não se
retirou, mas também não
aplaudiu o discurso do iraniano. Santos considerou um erro
a debandada europeia, pois serviu para chamar mais atenção
para uma "falsa polarização".
Sobrevivente do Holocausto
e Nobel da Paz, Elie Wiesel estava entre os manifestantes
contra Ahmadinejad. "Sua presença é um insulto à decência e
à humanidade", disse Wiesel,
acompanhado do advogado
americano Alan Dershowitz,
um ativo defensor de Israel.
"É bom que o principal palestrante seja uma pessoas racista e contra os direitos humanos, exatamente como é esta
conferência", ironizou Dershowitz, que foi confrontado pelo
cineasta Pervez Charman. "O
que você sabe sobre o Irã? Racista é o Estado de Israel", gritou Charman, enquanto era
contido por seguranças.
Também conhecida como
Durban 2, a conferência segue
até sexta. Sem Ahmadinejad, a
ONU espera que o foco retorne
ao objetivo do encontro, que é
avaliar os progressos no combate ao racismo desde 2001.
Ban Ki-moon criticou o iraniano: "Deploro o uso desta plataforma pelo presidente iraniano
para acusar, dividir e incitar".
Folha Online
Assista ao vídeo da polêmica
www.folha.com.br/091102
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