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DILEMA PERSA
De Paulo Coelho a Bill Clinton, passando por Sony e Coca-Cola, setor moderno da capital iraniana ostenta símbolos pop e revela inusitado furor consumista
Ícones ocidentais convivem com islã em rua comercial de Teerã
DO ENVIADO A TEERÃ
Sony. Bill Clinton. Coca-Cola. Brad Pitt. Geladeira de aço
escovado e porta dupla.
Para o ocidental com pouco
tempo e grande vontade de entender o momento pelo qual o
país atravessa, subir a pé a rua
Shariati, no sentido sul-norte
de Teerã, em direção aos picos
nevados de Alborz, pode ser revelador. Aos poucos, a velha
parte da cidade, com seus bazares milenares e casas de chá
centenárias, vai ficando para
trás e dando lugar a construções mais novas.
Numa das primeiras, está a
livraria Darinoush. Dentro, os
suspeitos de sempre. A vendedora explica que "O Zahir", de
Paulo Coelho, é o livro mais
vendido atualmente, a US$ 0,10
o exemplar. Tem mais de vinte
versões, apenas uma delas rendendo direitos autorais ao autor - o Irã não respeita a Convenção de Berna.
Outro sucesso são os livros
de Oriana Fallaci, italiana que
vestiu o chador para ser a primeira mulher a entrevistar o
aiatolá Khomeini (1900-1989),
referência no jornalismo mundial até abraçar a causa do anti-semitismo, na velhice. E os CDs
de Yusuf Islam, um dia conhecido como Cat Stevens, hoje seguidor do islamismo.
Tudo já sabido, mas o que intriga é o companheiro de estante dessa turma. Cabelos nevados, sorriso inconfundível... É
Bill Clinton, que ocupava o lugar de George W. Bush na Casa
Branca até 2000, o mesmo
Bush que é unanimidade local
de impopularidade. Pois a Darinoush vende "Minha Vida",
biografia do ex-presidente.
Mais adiante, outra concentração de gente. É o cinema local, que exibe três filmes iranianos mas também "O Mercador
de Veneza", versão de 2004
com Al Pacino, no cartaz pintado à mão, como as antigas salas
do centro de São Paulo. Ao lado,
o 21 Century Shopping, em inglês mesmo, oferece os últimos
títulos de DVD.
"Ainda não recebemos "O Código da Vinci", mas é questão de
semanas até a censura ter a cópia, liberar com cortes e exibirmos aqui, para depois vendermos o DVD", explica à Folha o
gerente, Parham Zonobi.
Uma olhada pelas vitrines
revela o último lançamento em
tela de cristal líquido da Sony e
uma geladeira com porta dupla
de aço escovado da Daewoo. Se
a classe média iraniana pretende ir ao paraíso do consumismo, a primeira parada será
aqui, nesse bairro conhecido
como Gholak (cultura).
A rua leva o nome de Ali Shariati (1933-1977), sociólogo iraniano que é um dos nomes pré-revolucionários mais reverenciados pelo atual regime, um
utópico islâmico elogiado por
Jean-Paul Sartre que foi perseguido e preso pelo xá. Seu nome aparece em frente a um
outdoor móvel que anuncia as
novas coleções das grifes Hugo
Boss, Ermenegildo Zegna e
Dolce & Gabbana.
Mesmo contraste se dá numa
das principais redes de fast-food da cidade, a Farsi Foods.
Famílias fazem fila para levar
os espetinhos de frango e o arroz feito à maneira iraniana.
Atrás dos caixas, há um tapete
bordado com uma passagem do
Corão. Abaixo do quadro, uma
foto do aiatolá Khomeini, fora
de foco, e do atual líder religioso, o aiatolá Khamenei, em primeiro plano. À esquerda, as
portas de uma geladeira com o
fundo vermelho e o logo branco inconfundíveis da Coca-Cola não param fechadas.
(SÉRGIO DÁVILA)
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