São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Violência eleva incerteza sobre 2º turno no Zimbábue

Partido opositor diz que avalia boicote à votação, mas volta atrás horas depois

Robert Mugabe afirma que só Deus, que o elegeu, pode tirá-lo do poder e acusa os rivais do MDC de servirem a interesses do Reino Unido

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

A menos de uma semana para o segundo turno da eleição presidencial do Zimbábue, na próxima sexta, a violenta crise que se abateu sobre o país africano ameaça a realização da votação. Ontem, em uma afirmação mais tarde retirada, um dos porta-vozes do opositor Movimento pela Mudança Democrática (MDC) disse que o partido avaliava cancelar a participação na disputa.
O motivo, segundo o representante do MDC Nelson Chamisa, são os relatos de brutal intimidação por parte do governista Zanu-PF, partido do ditador Robert Mugabe, a simpatizantes da oposição. "Há uma enorme avalanche de pedidos e pressão de apoiadores, principalmente nas áreas rurais, para que não aceitemos participar dessa farsa", afirmou à agência Reuters.
O MDC contabiliza ao menos 70 afiliados e simpatizantes mortos desde o primeiro turno, em 29 de março, quando seu líder Morgan Tsvangirai, embora não tenha superado a barreira dos 50%, impôs pela primeira vez na história uma derrota oficial a Mugabe, no poder desde 1980. Outros 25 mil apoiadores foram expulsos de suas casas, diz o partido.
O MDC também enfrentou repetidas detenções de Tsvangirai, acusado de fazer comícios sem autorização. Seu secretário-geral, Tendai Biti, está preso e poderá ser condenado à morte por suposta traição.
Horas depois da sugestão de boicote, porém, o MDC voltou atrás. O tesoureiro-geral do partido, Roy Bennett, foi à TV reiterar que o partido participará do segundo turno. Ele também negou que haja negociações em curso para um governo de unidade nacional com o Zanu-PF.
Em entrevista por telefone à Folha, o representante do MDC na África do Sul, Nqobizitha Mlilo, disse que "o partido vai participar da votação com certeza". "Qualquer cancelamento só pode ocorrer sob a premissa de que Mugabe aceite que perdeu a eleição."
Nesse caso, segundo Mlilo, Tsvangirai formaria um "governo de reconciliação", que incluiria membros mais progressistas do Zanu-PF. "Mas, é claro, excluindo Mugabe."
"Já apanhamos e tivemos amigos e familiares assassinados. Não adianta desistir agora. Vamos em frente", disse.
Mugabe, enquanto isso, manteve ameaças de desrespeito ao resultado da votação caso o MDC vença nas urnas. "Apenas Deus, que me elegeu, poderá me tirar do poder. Nem o MDC nem os britânicos podem fazer isso", disse o ditador de 84 anos, que foi herói da guerra de libertação do Reino Unido.
Nesta semana, ele chegou a afirmar que levará o país de volta à guerra caso perca. "Já derramamos muito sangue por este país. Não vamos desistir dele por causa de um mero xis numa cédula." Para Mugabe, o MDC serve a interesses da ex-metrópole e de potências ocidentais.


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