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LEI
Conservador em relação aos direitos da mulher, país aceita a cirurgia até o 4º mês em caso de má formação ou de risco para a mãe
Parlamento do Irã aprova lei do aborto
DA REDAÇÃO
O Parlamento iraniano, de
maioria conservadora, aprovou
ontem uma lei que permite a realização de cirurgias de aborto nos
primeiros quatro meses de gestação em casos comprovados de risco de morte para a mãe ou má formação do feto.
Abortos continuam proibidos
em situações de gravidez indesejada. "A sharia [lei islâmica] não
permite outros casos de aborto,
como por razões sociais ou econômicas", disse o parlamentar Ali
Baghbanian na sessão de votação
da matéria, transmitida ao vivo
pelas rádios de Teerã.
Com base em ensinamentos islâmicos segundo os quais a alma
de uma pessoa se materializa 17
semanas após a concepção, abortos depois desse período também
seguem vetados. "O aborto não é
permitido depois que o feto recebe uma alma nem mesmo quando a vida da mãe está em perigo
ou o feto é anormal", explicou
Bagbanian.
A lei prevê ainda que a interrupção da gravidez só poderá ser autorizada por um comitê formado
por médicos forenses e um obstetra, após a realização de exames
médicos.
A proposta vai formalizar na legislação civil iraniana uma disposição religiosa do aiatolá Ali Kamenei, de 1999, que já permitia
abortos nos dois casos previstos.
Uma segunda votação será necessária para aprovar detalhes da
proposta, mas esse procedimento
é considerado uma formalidade e
não deve reverter a aprovação geral da lei. A proposta passa ainda
pelo Conselho de Guardiães
-que tem poder de veto, mas já
deu sinal verde.
Conservadorismo
O Irã sempre adotou posições
conservadoras em matérias relacionadas aos direitos da mulher.
A lei é uma das poucas já aprovadas pelo Parlamento do país, de linha dura, desde as eleições de fevereiro deste ano.
Opositores da proposta tentaram barrar sua aprovação alegando que abortos equivalem a "assassinatos" e que famílias aproveitariam a lei para pôr fim a gestações indesejadas.
"A lei diz ao mundo que o Parlamento do Irã permitiu o aborto e
por isso eu me opus", disse o parlamentar Mohammad Taqi Mohassel.
Segundo o analista Davoud
Hermidas Bavand, a aprovação
da lei foi um avanço. "Os conservadores tentam dizer, por meio
desta lei, que eles não se oporão a
algumas práticas liberais, contanto que eles estejam no poder e tomem as decisões, não seus oponentes. É também um bom gesto
em direção ao mundo exterior."
"Legalizar o aborto em alguns
casos é um passo adiante importante", avaliou.
Para o estudante de medicina
Hengameh Namdari, no entanto,
a lei é apenas um gesto político.
"A grande questão sobre o aborto
é sua legalização em casos em que
os casais enfrentam uma gravidez
indesejada. A lei é meramente um
belo gesto para nada", disse.
Brasil
Medida similar causou polêmica recentemente no Brasil, após a
decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco
Aurélio de Mello de liberar, por liminar, a interrupção de gravidez
quando houver laudo médico
atestando a anencefalia do feto
-ausência de um hemisfério cerebral ou de ambos, que impede a
existência fora do útero.
A decisão foi elogiada por associações de médicos, mas criticada
pela Igreja Católica, contrária ao
aborto.
A CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) reagiu e pediu a cassação da liminar, alegando que "os fetos anencefálicos estão com o seu direito constitucional de nascer ameaçado".
A legislação em vigor no país só
admite o aborto em caso de risco
de morte da mãe e gravidez resultante de estupro.
Com agências internacionais
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