São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2004

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SAÚDE

Estudo diz que potência da droga dobrou em 15 anos; desde 1992, tratamento de crianças e adolescentes subiu 142%

EUA planejam ampliar guerra à maconha

DA REUTERS

Alarmadas por estudos que afirmam que a maconha está ficando mais potente, autoridades americanas e dos institutos nacionais de saúde dos EUA pretendem desviar recursos para pesquisas e combate à droga que atualmente são destinados a substâncias mais "pesadas", como cocaína e heroína.
Apesar de o consumo de maconha entre crianças e adolescentes estar caindo nos EUA, as autoridades preocupam-se com o fato de que a droga está sendo experimentada cada vez mais cedo, numa fase em que o corpo está mais vulnerável a efeitos colaterais nocivos. "A maioria das pessoas acredita que a maconha seja uma droga leve, não uma droga que causa problemas sérios", diz John Walters, chefe do Escritório de Política Nacional para o Controle de Drogas, da Casa Branca.
"Mas a maconha hoje é um problema muito mais sério do que a maior parte dos americanos compreende. Não acho que as pessoas fossem entender a gravidade se se dissesse a elas que 1 em cada 5 jovens de 12 a 17 anos que consumiram maconha precisa de tratamento", acrescenta.
O número de crianças e adolescentes em tratamento contra consumo e dependência de maconha cresceu 142% desde 1992, segundo relatório divulgado em abril pelo Centro Nacional de Consumo e Dependência de Drogas, ligado à Universidade Columbia.
O relatório também afirma que crianças e adolescentes têm três vezes mais chances de fazer tratamento contra a maconha do que por abuso de álcool. Numa comparação com todas as drogas ilegais somadas, as chances são seis vezes maiores.
Outra descoberta anunciada pelo relatório é que a idade em que o consumo de maconha se inicia é menor agora. Na média, jovens de 12 a 17 anos disseram que fumaram a droga pela primeira vez com 13,5 anos. Adultos que têm entre 18 e 25 anos ouvidos pela pesquisa afirmaram que sua primeira vez foi aos 16 anos.
Um outro estudo, feito pelo Instituto Nacional do Consumo Abusivo de Drogas, afirma que a potência da maconha está aumentando gradativamente. De acordo com uma pesquisa conduzida pela Universidade do Mississippi, os índices médios de THC, o princípio ativo da maconha, subiram de 3,5% em 1988 para mais de 7% em 2003.
Os defensores da descriminalização contestam esse alerta. "Eles dão a entender que os níveis de THC eram quase inexistentes, mas ninguém fumaria maconha se isso fosse verdade", rebate Krissy Oechslin, do Projeto de Política para a Maconha. "E há evidências de que, quanto mais forte o THC, menos a pessoa fuma. Não quero dizer que seja bom, mas diria que [maconha mais potente] é menos ruim."
A administração do presidente George W. Bush adotou uma política mais dura em relação à maconha, numa decisão contrária à de outros países. O governo vem combatendo na Justiça os Estados que permitem o uso da droga com fins terapêuticos. Atualmente, nove Estados americanos têm leis a esse respeito.

À venda em farmácias
No Canadá, farmácias da Colúmbia Britânica passarão, dentro de alguns meses, a vender maconha para tratamento médico. Espanha, Portugal, Itália, Holanda e Bélgica já adotaram leis descriminalizando a posse.
No começo do ano, o Reino Unido rebaixou a classificação da maconha como droga. De classe B, a maconha foi para classe C, uma categoria mais leve, onde estão antidepressivos, anabolizantes e tranqüilizantes. Na prática, significa que o consumo e a posse de pequenas quantidades não devem ser passíveis, na maioria dos casos, de punição com prisão.
No Brasil, a maconha está incluída no mesmo grupo de outras drogas mais pesadas, como cocaína e heroína. De acordo com a Constituição, o tráfico de drogas é um crime hediondo, o que o torna mais grave do que a posse de entorpecentes para uso pessoal.


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