São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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SEM MULHER

Aborto e morte de meninas nos anos 80 e 90 condenam parte da população masculina à solidão, dizem demógrafos

"Sobram" 25 milhões de homens na China

DA REDAÇÃO

Cerca de 25 milhões de jovens chineses -todos homens- podem estar fadados ao solteirismo pelo resto da vida, alertam demógrafos que participam de um congresso na França.
É esse, segundo os estudiosos, o efeito colateral da onda de abortos e infanticídio de bebês do sexo feminino que acometeu a superpopulosa China nos anos 80 e 90, por conta da política governamental de incentivar as famílias a terem apenas um filho.
"A China vai ter cerca de 25 milhões de homens em idade de se casar que não conseguirão encontrar mulher", disseram Dudley Poston Jr. e Karen Glover, da Universidad do Texas, durante um congresso internacional de demografia em Tours.
Segundo os especialistas, desde o começo dos anos 80, vêm nascendo muito mais homens do que mulheres na China.
Isso ocorre porque, no fim dos anos 70, o governo chinês adotou, diante de uma população de mais de 1 bilhão, uma política de planejamento familiar que penalizava financeiramente casais com mais de um filho (em algumas áreas rurais eram tolerados dois, caso o primogênito fosse mulher).
Por questões econômicas -um homem poderia contribuir mais para o sustento da família- muitos casais preferiam um filho do sexo masculino. Ao se descobrirem pais de uma menina, abortavam o feto, cometiam infanticídio ou abandonavam o bebê.
O desequilíbrio criado deve se fazer sentir sobretudo entre 2015 e 2030, disseram os demógrafos.

Aumento da criminalidade
"Que farão todos esses homens quando não encontrarem mulher?" indagaram retoricamente os pesquisadores.
Eles descartaram um aumento do homossexualismo ou da poligamia no país. Mas apostam no surgimento de verdadeiros guetos masculinos em Pequim, Shangai e outras cidades grandes, o que viria acompanhado de um aumento da criminalidade, da prostituição e de doenças sexualmente transmissíveis.
"Normalmente, nascem no mundo 105 meninos para cada 100 meninas. É uma constante biológica", afirmou Gilles Pison, do Instituto Nacional de Estudos Demográficos da França. No Sudeste Asiático, no entanto, a proporção atualmente é de 117 meninos para cada 100 meninas.
"O desequilíbrio entre os sexos também ocorre em Hong Kong. Recentemente, descobriu-se a prática de abortos seletivos na Geórgia, no Azerbaijão e na Armênia. O fenômeno também está crescendo na Índia", outro país cuja população superou 1 bilhão, disse Pison.
Esses países, afirmam os demógrafos, podem sofrer uma redução da população. "Para garantir a existência de novas gerações, cada mulher deve ter uma média de 2,1 filhos, se a proporção entre meninos e meninas for equilibrada. Com 120 homens para cada 100 mulheres, essa média sobe para 2,3."
A expectativa é que a melhora da imagem das mulheres e a aquisição de mais direitos femininos nesses países ajudem a corrigir o desequilíbrio.


Com a agência France Presse

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