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AUSTRÁLIA
Em novo caso no escândalo de pedofilia na igreja, arcebispo deixa cargo para ser investigado; ele nega ter molestado garoto
Acusação de abuso afasta bispo de Sydney
KATHY MARKS
DO ""THE INDEPENDENT", EM SYDNEY
O conservador arcebispo católico de Sydney, George Pell, foi
obrigado a se afastar de seu cargo
ontem, após a divulgação de alegações de que ele teria molestado
sexualmente um menino de 12
anos quando era seminarista, 40
anos atrás.
Pell, que causou polêmica no
mês passado ao afirmar que o
aborto é pior do que os abusos sexuais cometidos por religiosos,
disse que vai se afastar de seu cargo temporariamente, enquanto as
acusações são investigadas. Ele
negou as acusações ""total e completamente" e afirmou ser vítima
de uma campanha difamatória
vingativa.
Um juiz aposentado da Suprema Corte, Alec Southwell, foi indicado ontem para conduzir uma
investigação independente. A
Igreja Católica da Austrália, assim
como a irlandesa e a norte-americana, vem sendo tumultuada por
acusações de abusos sexuais cometidos por religiosos. Milhões
de dólares já foram pagos a vítimas a título de compensação, e o
arcebispo Pell disse recentemente
que, nos últimos seis anos, 90 padres foram condenados por molestar crianças.
Adversário acirrado da presença de homossexuais entre religiosos, Pell disse que vai se afastar
para preservar a dignidade da
Igreja Católica e do cargo de arcebispo.
""É evidente que vou cooperar
com esse inquérito independente
de todas as maneiras possíveis
-de maneira franca, aberta e
sem reservas", disse o arcebispo
em comunicado lido numa entrevista coletiva, convocada às pressas. ""Alegar que eu, pessoalmente, esteja envolvido neste mal é
uma calúnia vingativa. Os supostos fatos nunca aconteceram. Repito enfaticamente: as alegações
são falsas."
Pell disse que foi um dos primeiros a expor os abusos sexuais
ocorridos na igreja, tendo criado a
primeira comissão independente
para examinar a questão, há seis
anos. Em junho, ele e seu colega
de Melbourne, o arcebispo Denis
Hart, publicaram anúncios de página inteira em jornais pedindo
desculpas pela demora da igreja
em enfrentar o problema.
Os anúncios foram publicados
após a divulgação de alegações de
que Pell teria oferecido o equivalente a R$ 84,5 mil aos pais de
duas meninas abusadas por um
padre durante seis anos, numa
tentativa de comprar o silêncio
deles.
Num primeiro momento ele refutou a acusação; em seguida, admitiu ter oferecido o dinheiro,
mas disse que seria uma compensação, e não um cala-boca.
Pell também negou ter oferecido um suborno a um homem que
o abordou, há dez anos, pedindo
ajuda e dizendo que tinha sido sexualmente abusado por seu tio,
um padre. O homem alega que o
arcebispo lhe disse: ""Quero saber
o que será preciso para manter
você de boca fechada".
A equipe de investigação de
abusos sexuais da Igreja Católica,
o Comitê Nacional de Padrões
Profissionais, disse ontem que o
homem que está acusando Pell de
abusos foi incentivado a procurar
a polícia, mas não o fez. O inquérito foi pedido pelo presidente do
Comitê, o arcebispo Philip Wilson.
Pell disse que não fará novos comentários para não prejudicar as
investigações. Mas o primeiro-ministro australiano, John Howard, lhe ofereceu seu apoio, dizendo acreditar inteiramente em
seu desmentido.
Tradução de Clara Allain
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