São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SUJA

Medida pode revelar detalhes da Operação Condor

EUA liberam documentos secretos sobre a ditadura na Argentina

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino recebeu ontem mais de 4.600 documentos secretos do Departamento de Estado dos Estados Unidos que contêm informações sobre os atos de violência cometidos durante a última ditadura militar (1976-1983).
Segundo o chanceler Carlos Ruckauf, os documentos devem trazer dados "até agora desconhecidos" sobre a Operação Condor -nome dado ao acordo de cooperação entre as ditaduras militares que governavam Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai e que facilitou a repressão na década de 70.
Os documentos, elaborados por agentes da inteligência norte-americana enviados à Argentina no período, vinham sendo mantidos em sigilo pelo Departamento de Estado, mas, a partir de agora, poderão ser consultados livremente pela internet.
Em comunicado, a Embaixada dos EUA em Buenos Aires informou ter decidido abrir os arquivos para "ajudar a Argentina na investigação da violência".
Segundo estimativas oficiais, 15 mil pessoas desapareceram no país durante os últimos quatro governos militares, vítimas da violência do Estado.
Os papéis também podem complicar a situação de militares argentinos que teriam cometido crimes contra os direitos humanos no período da ditadura, inclusive durante a guerra das Malvinas (1982).
Entre eles, está o ex-presidente Leopoldo Galtieri (1981-1982), que permanece detido em prisão domiciliar desde julho por acusações de participação no sequestro, tortura e assassinato de 18 militantes do grupo Montoneros, uma guerrilha de esquerda ligada ao Partido Justicialista (peronista) que atuou no período.
Pelo menos 4 dos 18 membros da guerrilha foram presos no Brasil e, depois, transferidos para a Argentina.
Esse é o caso de Lorenzo Viñas e Jorge Adur -detidos na cidade gaúcha de Uruguaiana- e Ricardo Zucker e Mónica Pinus de Binstock -presos no Rio de Janeiro.
A abertura dos arquivos norte-americanos vinha sendo pedida há pelo menos dois anos pelos governos argentino e uruguaio, pelas Avós da Praça de Maio (organização de familiares de desaparecidos na Argentina) e pelo Congresso dos EUA.
"Os documentos são uma importante contribuição para as famílias buscando informações sobre parentes desaparecidos e para os juízes que analisam a responsabilidade dos militares em abusos cometidos no passado", disse Carlos Osório, diretor da ONG de direitos humanos Arquivo de Segurança Nacional.


Texto Anterior: Terror: Ataque é causa mais provável para queda de helicóptero, diz Rússia
Próximo Texto: Panorâmica - Venezuela: Chávez cria novo Ministério da Informação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.