|
Próximo Texto | Índice
IRAQUE OCUPADO
Secretário-geral da ONU afirma que cabia a EUA e Reino Unido cuidar da proteção de seu escritório em Bagdá
Annan critica coalizão por insegurança
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Após o atentado de anteontem
que matou ao menos 20 pessoas
no escritório da ONU em Bagdá, o
secretário-geral da entidade, Kofi
Annan, criticou de forma dura e
incomum a administração de
EUA e Reino Unido no Iraque por
causa da falta de segurança.
"Esperávamos que, a essa altura, as forças de coalizão teriam
tornado seguro o ambiente para
que pudéssemos trabalhar. Isso
não aconteceu", disse Annan em
Estocolmo ao encerrar antecipadamente suas férias.
À tarde, porém, já de volta a Nova York, Annan baixou um pouco
o tom e retomou sua tradicional
atitude diplomática.
"Quando você assume uma
operação tão complexa, é preciso
fazer planejamento, e creio que
houve algumas premissas erradas
nesse período. A coalizão cometeu alguns erros, e talvez nós tenhamos cometido alguns também", afirmou ele.
Annan disse desconhecer qualquer recusa, por parte da ONU,
em aceitar equipes de segurança
da administração anglo-americana. A missão da ONU -que era
comandada pelo brasileiro Sérgio
Vieira de Mello, morto no atentado- decidira manter relacionamento com a população mais
aberto que o da autoridade interina, fortemente guardada.
"Se fizeram isso, não foi correto", afirmou Annan, emendando
nova crítica à autoridade anglo-americana. "Todos vivemos nesta
cidade [Nova York]. Ninguém
pergunta se você quer que a polícia patrulhe sua vizinhança. Chega-se à conclusão de que a patrulha é necessária, e ela é feita. E isso
deveria ser feito no Iraque. São os
que têm responsabilidade pela segurança e pela lei, que têm serviços de inteligência, que determinam que ação tomar."
Annan afirmou que a entidade
reavaliará a segurança em Bagdá
("Estamos lá no Iraque há 12 anos
e nunca havíamos sido atacados",
disse) e em outros escritórios pelo
mundo. Mas ele recusou a possibilidade de levar ao Iraque tropas
comandas pela ONU. "Eu não
acho que seja um trabalho para os
capacetes azuis", afirmou ele.
Por outro lado, intensifica-se a
pressão para que outros países
contribuam com forças militares
para a coalizão anglo-americana.
A questão, porém, é que muitos
países, com a Índia, têm condicionado o fornecimento de tropas ao
aumento do peso da ONU no Iraque -ponto que se choca com a
posição dos EUA, que não têm
aceitado dividir o poder que conseguiram no país com a guerra e
com as resoluções do Conselho de
Segurança.
Tal discussão deverá ganhar
mais força e poderá inclusive se
converter em uma nova resolução, segundo afirmou ontem o
embaixador americano na ONU,
John Negroponte.
"Há muita reflexão acontecendo sobre o que pode ser feito",
disse ele, após reunião na qual o
Conselho ouviu discurso de Annan.
Ontem, o secretário-geral da
ONU voltou a deixar claro que
não pretende abandonar o trabalho no Iraque. "Nós vamos perseverar. Temos trabalho a fazer.
Não vamos ser intimidados."
Annan disse ainda não ter decidido o nome do substituto de
Vieira de Mello no Iraque, mas
afirmou que o assunto já o preocupava -o mandato do brasileiro expiraria no próximo mês.
Próximo Texto: Vieira de Mello deve ser enterrado na França Índice
|