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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Secretário-geral da ONU afirma que cabia a EUA e Reino Unido cuidar da proteção de seu escritório em Bagdá

Annan critica coalizão por insegurança

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Após o atentado de anteontem que matou ao menos 20 pessoas no escritório da ONU em Bagdá, o secretário-geral da entidade, Kofi Annan, criticou de forma dura e incomum a administração de EUA e Reino Unido no Iraque por causa da falta de segurança.
"Esperávamos que, a essa altura, as forças de coalizão teriam tornado seguro o ambiente para que pudéssemos trabalhar. Isso não aconteceu", disse Annan em Estocolmo ao encerrar antecipadamente suas férias.
À tarde, porém, já de volta a Nova York, Annan baixou um pouco o tom e retomou sua tradicional atitude diplomática.
"Quando você assume uma operação tão complexa, é preciso fazer planejamento, e creio que houve algumas premissas erradas nesse período. A coalizão cometeu alguns erros, e talvez nós tenhamos cometido alguns também", afirmou ele.
Annan disse desconhecer qualquer recusa, por parte da ONU, em aceitar equipes de segurança da administração anglo-americana. A missão da ONU -que era comandada pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto no atentado- decidira manter relacionamento com a população mais aberto que o da autoridade interina, fortemente guardada.
"Se fizeram isso, não foi correto", afirmou Annan, emendando nova crítica à autoridade anglo-americana. "Todos vivemos nesta cidade [Nova York]. Ninguém pergunta se você quer que a polícia patrulhe sua vizinhança. Chega-se à conclusão de que a patrulha é necessária, e ela é feita. E isso deveria ser feito no Iraque. São os que têm responsabilidade pela segurança e pela lei, que têm serviços de inteligência, que determinam que ação tomar."
Annan afirmou que a entidade reavaliará a segurança em Bagdá ("Estamos lá no Iraque há 12 anos e nunca havíamos sido atacados", disse) e em outros escritórios pelo mundo. Mas ele recusou a possibilidade de levar ao Iraque tropas comandas pela ONU. "Eu não acho que seja um trabalho para os capacetes azuis", afirmou ele.
Por outro lado, intensifica-se a pressão para que outros países contribuam com forças militares para a coalizão anglo-americana.
A questão, porém, é que muitos países, com a Índia, têm condicionado o fornecimento de tropas ao aumento do peso da ONU no Iraque -ponto que se choca com a posição dos EUA, que não têm aceitado dividir o poder que conseguiram no país com a guerra e com as resoluções do Conselho de Segurança.
Tal discussão deverá ganhar mais força e poderá inclusive se converter em uma nova resolução, segundo afirmou ontem o embaixador americano na ONU, John Negroponte.
"Há muita reflexão acontecendo sobre o que pode ser feito", disse ele, após reunião na qual o Conselho ouviu discurso de Annan.
Ontem, o secretário-geral da ONU voltou a deixar claro que não pretende abandonar o trabalho no Iraque. "Nós vamos perseverar. Temos trabalho a fazer. Não vamos ser intimidados."
Annan disse ainda não ter decidido o nome do substituto de Vieira de Mello no Iraque, mas afirmou que o assunto já o preocupava -o mandato do brasileiro expiraria no próximo mês.


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