São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2004

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VENEZUELA

Batidos em plebiscito, opositores agora dizem que não confiam no sistema de votação para o pleito regional de setembro

Oposição a Chávez ameaça boicotar eleição

DA REDAÇÃO

Após perder o plebiscito do último domingo, a oposição venezuelana ameaçou ontem boicotar as eleições regionais, sob a alegação de que houve fraudes na votação que manteve o presidente Hugo Chávez no poder. Ontem, resultado parcial de uma auditoria do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) acompanhada por observadores internacionais voltou a descartar irregularidades.
Opositores do presidente afirmam que não faz sentido participar das cruciais eleições de 26 de setembro, que elegerão governadores e prefeitos, por causa das supostas fraudes do plebiscito e da falta de credibilidade do CNE. Dos cinco reitores (juízes) do órgão máximo do chamado Poder Eleitoral, três são considerados pró-Chávez.
"Esse CNE e o sistema de votação não criam o contexto apropriado para participar em qualquer processo eleitoral", disse o porta-voz da Coordenação Democrática (CD, coalizão oposicionista) Jesus Torrealba à agência de notícias Reuters.
O Centro Carter e a OEA (Organização dos Estados Americanos), que atuam como observadores internacionais no plebiscito, ratificaram na segunda-feira a vitória de Chávez, que recebeu cerca de 59% dos votos.
A oposição controla 7 dos 23 Estados venezuelanos e muitas das 337 prefeituras. Um boicote da oposição poderia assegurar essas posições a aliados de Chávez.
Torrealba disse que a oposição corre o risco de "cometer suicídio ou de ser morta" nas eleições do próximo mês.
Em entrevista à Folha, ontem, o deputado Felipe Mujica, um dos coordenadores da CD, disse que o tema deve ser decidido na semana que vem e também criticou o CNE: "O órgão perdeu sua condição de árbitro".

Auditoria
Ontem, a Venezuela esperava o resultado final de uma auditoria sobre o plebiscito após a denúncia de "fraude maciça" pela oposição -que, no entanto, está boicotando a revisão por amostragem.
Em declaração à tarde, o reitor do CNE Jorge Rodríguez, tido como chavista, disse que 58% da auditoria estava concluída e que o resultado "é muito satisfatório".
O secretário-geral da OEA, César Gaviria, chegou ontem a Caracas para receber pessoalmente o resultado da auditoria e manteve um encontro com a oposição.
No encontro, os oposicionistas entregaram supostas provas de fraude e criticaram o chefe da missão da OEA na Venezuela, o embaixador brasileiro Valter Pecly, por ter "se adiantado" e ratificado o plebiscito.
O integrante da CD Timóteo Zambrano disse que encontrou uma situação recorrente: em várias atas do mesmo centro eleitoral, o número de votos para a oposição era o mesmo, o que seria estatisticamente "impossível".
A OEA diz que o "sistema eletrônico de votação e transmissão de dados tem todas as condições para assegurar o sigilo e a fidelidade do voto, assim como a transparência do processo".


Com agências internacionais


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