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Agricultor brasileiro vendeu tudo que tinha antes de despejo
DO ENVIADO A SANTA ROSA DEL ABUNÁ
Há um mês, quando foi avisado por representantes da OIM
(Organização Internacional
para as Migrações) de que teria
de deixar em três meses as terras que ocupa há dez anos, o
trabalhador rural Francisco da
Silva, 47, entrou em pânico:
abandonou a sua área e vendeu
por R$ 15 mil todas as suas benfeitorias, que, segundo ele, valiam ao menos R$ 50 mil.
"Lá tinha muita banana, roça,
fábrica de farinha, casa de madeira com dois cômodos, sala e
cozinha e coberta com telha
Brasilit", diz Silva, que agora vive com a mulher e os três filhos
pequenos numa casa de um cômodo e quase sem móveis, de
propriedade de uma boliviana
que lhe paga R$ 600 por mês
para "fazer de tudo".
Com o dinheiro, Silva comprou um carro, uma moto e
uma motosserra -os seus únicos bens depois de dez anos de
trabalho na roça, na seringa e
colhendo castanha.
O agricultor explica que nunca tirou os documentos porque
era muito caro e devido à distância até a cidade de Cobija,
cinco horas em estrada de terra, mas afirma que os seus três
filhos nasceram e foram registrados na Bolívia.
Silva diz que ainda não sabe o
que fazer: não quer ficar para
sempre como empregado e
acha que viver no interior da
Bolívia é arriscado: "Depois pega outro governo e tira a gente
do mesmo jeito. A esperança é o
nosso governo brasileiro".
Segundo ele, a "maioria está
só arrumando, mas ainda não
foi embora". E muitos prometem resistir. "Tem gente que
diz que pode até sair sem nada,
mas que o boliviano que vier,
mete chumbo pra cima."
Família mista
Consultado sobre o caso de
Silva, o diretor nacional de terras do Ministério de Desenvolvimento Rural, Cliver Rocha,
disse que ele foi mal orientado,
já que, como tem filhos bolivianos, é considerado família mista e, portanto, pode permanecer legalmente na área de 50
km da fronteira.
Outros brasileiros nem sequer foram visitados pela OIM.
"Eu só escuto a zoada", diz o
acreano João da Silva, 45 anos,
dos quais 20 na Bolívia, embora
nunca tenha aprendido a falar
espanhol. Contratado por outro brasileiro para cuidar de
uma plantação de banana, disse
que nunca procurou se legalizar porque "é caro".
"Eu tô com apetite de ir embora pro Brasil. O senhor, que é
lido no trecho, o que é que
acha?", pergunta ao repórter.
(FM)
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