São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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Agricultor brasileiro vendeu tudo que tinha antes de despejo

DO ENVIADO A SANTA ROSA DEL ABUNÁ

Há um mês, quando foi avisado por representantes da OIM (Organização Internacional para as Migrações) de que teria de deixar em três meses as terras que ocupa há dez anos, o trabalhador rural Francisco da Silva, 47, entrou em pânico: abandonou a sua área e vendeu por R$ 15 mil todas as suas benfeitorias, que, segundo ele, valiam ao menos R$ 50 mil.
"Lá tinha muita banana, roça, fábrica de farinha, casa de madeira com dois cômodos, sala e cozinha e coberta com telha Brasilit", diz Silva, que agora vive com a mulher e os três filhos pequenos numa casa de um cômodo e quase sem móveis, de propriedade de uma boliviana que lhe paga R$ 600 por mês para "fazer de tudo".
Com o dinheiro, Silva comprou um carro, uma moto e uma motosserra -os seus únicos bens depois de dez anos de trabalho na roça, na seringa e colhendo castanha.
O agricultor explica que nunca tirou os documentos porque era muito caro e devido à distância até a cidade de Cobija, cinco horas em estrada de terra, mas afirma que os seus três filhos nasceram e foram registrados na Bolívia.
Silva diz que ainda não sabe o que fazer: não quer ficar para sempre como empregado e acha que viver no interior da Bolívia é arriscado: "Depois pega outro governo e tira a gente do mesmo jeito. A esperança é o nosso governo brasileiro".
Segundo ele, a "maioria está só arrumando, mas ainda não foi embora". E muitos prometem resistir. "Tem gente que diz que pode até sair sem nada, mas que o boliviano que vier, mete chumbo pra cima."

Família mista
Consultado sobre o caso de Silva, o diretor nacional de terras do Ministério de Desenvolvimento Rural, Cliver Rocha, disse que ele foi mal orientado, já que, como tem filhos bolivianos, é considerado família mista e, portanto, pode permanecer legalmente na área de 50 km da fronteira.
Outros brasileiros nem sequer foram visitados pela OIM. "Eu só escuto a zoada", diz o acreano João da Silva, 45 anos, dos quais 20 na Bolívia, embora nunca tenha aprendido a falar espanhol. Contratado por outro brasileiro para cuidar de uma plantação de banana, disse que nunca procurou se legalizar porque "é caro".
"Eu tô com apetite de ir embora pro Brasil. O senhor, que é lido no trecho, o que é que acha?", pergunta ao repórter. (FM)


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