São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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OFENSIVA DIPLOMÁTICA
As Farc, maior grupo guerrilheiro colombiano, buscam reconhecimento político de países vizinhos
Guerrilha quer ter escritório no Brasil

FAUSTO SIQUEIRA
da Agência Folha, em Santos

LARISSA PURVINNI
da Redação

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal movimento guerrilheiro colombiano, incluíram o Brasil em sua ofensiva diplomática e querem conseguir do governo autorização para instalar um escritório de representação no país.
A guerrilha já tem uma sede no México, autorizada pelo governo daquele país. O representante das Farc no Brasil, Hernán Ramirez, afirmou que vem mantendo contatos com parlamentares em Brasília a fim de obter a autorização.
Segundo ele, o principal interlocutor do grupo é o deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder do governo no Congresso.
Ontem, o deputado estava no Acre. A assessoria de Virgílio confirmou ter havido "há meses" visita de membros das Farc ao gabinete do deputado, mas não soube dizer o resultado do encontro.
O Itamaraty informou que o governo brasileiro não mantém diálogo de nenhuma natureza com as Farc. Segundo o Itamaraty, a autorização para o funcionamento de escritórios de representação diplomática restringe-se a governos estrangeiros e a organizações internacionais reconhecidas.
Segundo o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), os representantes das Farc intensificaram as visitas à Câmara e se comunicam com os deputados por e-mail.
As Farc afirmam que o interesse do grupo no Brasil é firmar relações político-diplomáticas e fazer pontes com o governo para solicitar o reconhecimento da guerrilha como "força beligerante".
Segundo o cientista político colombiano Alfredo Rangel, isso significaria passar a tratar a guerrilha como um Exército que disputa a soberania com o governo colombiano, ou seja, tratá-la como um Estado em formação.
Rangel afirma que as Farc mudaram sua estratégia. "A diplomacia guerrilheira estava voltada aos partidos políticos. Agora, as Farc tentam contato direto com os governos dos vários países."
No entanto, apenas a Venezuela reconheceu a guerrilha como interlocutor válido. O presidente Hugo Chávez manifestou-se disposto a se reunir com as Farc e gerou protesto da Colômbia, que considera a iniciativa uma interferência em assuntos internos.
A iniciativa diplomática também pode ser vista como reação às declarações de autoridades dos EUA, como o "czar" antidrogas dos EUA, Barry McCaffrey, vinculando o grupo ao narcotráfico. MacCaffrey chega na segunda ao Brasil para encontros com autoridades governamentais.


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